“O Senhor é misericordioso e compassivo, tardo na ira e
grande no Seu amor”. Estas palavras, que a Liturgia de
hoje apresenta no Salmo responsorial, sustentaram e orientaram a heroica
fidelidade ao Evangelho da Beata Brígida de Jesus Morello, religiosa e fundadora
das Irmãs Ursulinas de Maria Imaculada. As vicissitudes da sua diversificada
existência - primeiro como jovem rica de virtudes humanas e espirituais,
sucessivamente como esposa fiel e sábia, depois como viúva cristã e, por fim,
como pessoa consagrada e guia das suas Irmãs - refletem com particular nitidez
o confiante abandono da nova Beata à misericórdia de Deus, que é “tardo na ira e grande no Seu amor”.
Foi nesta escola
que a Beata Brígida de Jesus aprendeu a lição fundamental do amor que se despende
na dedicação quotidiana ao serviço do próximo. Numa época em que os ideais da
feminilidade não eram muito considerados, a Beata Morello pôs em relevo sem
fragor o valor da mulher na família e na sociedade. Apaixonada de Deus, esteve
por isso sempre disponível a abrir o coração e os braços aos irmãos e irmãs
necessitados. Enriquecida de dons místicos e, ao mesmo tempo, provada por
longos e graves sofrimentos, não deixou de ser para os seus contemporâneos uma
autêntica mestra de vida espiritual e um exemplo significativo de admirável
síntese entre vida consagrada e empenho social e educativo.
Nos seus escritos
transparece um convite constante à confiança em Deus. Gostava de repetir: “Confidência, confidência, coração grande!
Deus é nosso Pai e nunca nos abandonará!”
Não é porventura
singularmente atual esta mensagem que a nova Beata nos propõe? Esta nossa irmã
na fé, hoje elevada às honras dos altares, recorda-nos com vigor que amar a
Deus é o segredo de todo o verdadeiro e eficaz empenho social em favor dos
irmãos.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 15 de março de 1998
Brígida Morello foi
uma mulher de seu tempo, o século XVII: uma mulher de grande fé que soube ver
nos acontecimentos históricos, e sobretudo nos que se relacionavam a ela, como viver
a santa vontade de Deus.
“Deus é nosso Pai e nunca nos abandonará”.
Esta segurança de ser amada como filha, gratuita e incondicionalmente,
motivou-a a entregar seu carinho ao próximo.
Brígida nasceu em
17 de junho de 1610 em São Miguel de Pagana (Gênova), na Costa de Levante,
sexta de onze filhos, cresceu em um lar intensamente cristão. Aos 23 anos, em
14 de outubro de 1633, se casou com Mateus Zancano, de Cremona, e se
estabeleceu com seu marido em Salsomaggiore (Parma), onde foi reconhecida por
suas virtudes.
Aos 27 anos, em 11
de novembro de 1637, ficou viúva, quando fez o voto de castidade, desejando
tornar-se religiosa, porém não obteve sucesso ao desejar entrar entre as
capuchinhas da localidade devido ao fato de ser viúva.
Em 1640 se
transferiu para Piacenza, onde os jesuítas se tornaram seus diretores
espirituais, guiando-a sempre e a mantendo na via da perfeição, especialmente
por parte do Padre Antônio Morando, seu confessor e primeiro biógrafo.
Margarida de
Médici, duquesa de Parma e Piacenza, queria dotar Piacenza de um Instituto de
Ursulinas para a educação da juventude feminina, similar ao que existia em
Parma. Para isto, em setembro de 1646, Brígida Morello acolheu algumas jovens
mulheres em sua casa, sob a denominação de Santa Úrsula, dando assim início, em
17 de fevereiro de 1649, Quarta-feira de Cinzas, com cinco companheiras, a uma
nova família de Ursulinas, sob a direção dos jesuítas.
Entretanto, Brígida
não foi a primeira superiora, pois em 1665 ela foi eleita como tal, sendo
confirmada em 1670 e em 1675. Suas precárias condições de saúde não a impediram
governar por extensos períodos, inclusive da cama, sua Congregação de Ursulinas
de Maria Imaculada.
Durante os longos
anos de doença e de sofrimentos físicos e interiores, a Beata dirigia com
frequência o olhar orante para o Crucifixo que levava sempre consigo. A oração
da Beata Brígida dirigia-se com frequência para a terra dos Balcãs, invocando
ao Senhor a conversão de todos e a paz para “o universo mundo”.
Brígida faleceu no
dia 3 de setembro de 1679, em Piacenza, e foi enterrada na igreja local de São
Pedro; hoje não existem rastros de seu túmulo, mas há um certo número de
cartas, alguns escritos autobiográficos e edificantes, documentos dos quais se
pode tirar uma visão exata das experiências espirituais da fundadora.
Somente nos anos
1927-28 se celebrou em Piacenza o processo ordinário para sua beatificação. O
decreto sobre a heroicidade de suas virtudes se obteve em 29 de abril de 1980.
Em 15 de março de 1998 o papa João Paulo II a beatificou.
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