O Evangelho de hoje
narra a cura de um surdo-mudo por parte de Jesus, um evento prodigioso que
mostra como Jesus restabelece a plena comunicação do homem com Deus e com os
outros homens. O milagre ambienta-se em pleno território pagão; portanto
aquele surdo-mudo que é levado a Jesus torna-se símbolo do não-crente que
percorre um caminho rumo à fé. Com efeito, a sua surdez expressa a incapacidade
de ouvir e de compreender não só as palavras dos homens, mas também a Palavra
de Deus.
A primeira coisa
que Jesus faz é levar aquele homem para longe da multidão: não quer fazer
publicidade ao gesto que está para realizar, mas também não quer que a sua
palavra seja coberta pelo ruído das vozes e do falatório do ambiente. A Palavra
de Deus que Cristo nos transmite precisa de silêncio para ser acolhida como
Palavra que cura, reconcilia e restabelece a comunicação.
São também
evidenciados dois gestos de Jesus. Ele toca os ouvidos e a língua do
surdo-mudo. Para restabelecer a relação com aquele homem bloqueado na
comunicação, procura primeiro restaurar o contato. Mas o milagre é um dom do
alto, que Jesus implora do Pai; por isso levanta os olhos ao céu e comanda: abre-te!
E os ouvidos do surdo abrem-se, a língua desprende-se e começa a falar corretamente.
O ensinamento que
nos advém deste episódio é que Deus não está fechado em si mesmo, mas abre-se
e põe-se em comunicação com a humanidade. Na sua misericórdia imensa, supera o
abismo da diferença infinita entre Ele e nós, vem ao nosso encontro. Para
realizar esta comunicação com o homem, Deus faz-se homem: para Ele não é
suficiente falar conosco mediante a lei e os profetas, mas torna-se presente na
pessoa do seu Filho, a Palavra feita carne. Jesus é o grande construtor de
pontes, que constrói em si mesmo a grande ponte da comunhão plena com o Pai.
Mas este Evangelho
fala-nos também de nós: muitas vezes estamos fechados em nós mesmos, e criamos
muitas ilhas inacessíveis e inospitaleiras. Até as relações humanas mais
elementares por vezes criam realidades incapazes de abertura recíproca: o casal
fechado, a família fechada, o grupo fechado, a paróquia fechada, a pátria
fechada... E isto não é de Deus! Isto é nosso, é o nosso pecado.
Contudo na origem
da nossa vida cristã, no Batismo, estão precisamente aquele gesto e aquela
palavra de Jesus: Effatá! — Abre-te! E o milagre cumpriu-se: todos fomos
curados da surdez do egoísmo e do mutismo do fechamento e do pecado, e fomos
inseridos na grande família da Igreja; podemos ouvir Deus que nos fala e
comunicar a sua Palavra a quantos nunca a ouviram, ou a quem a esqueceu e
sepultou sob os espinhos das preocupações e dos enganos do mundo.
Papa
Francisco – 06 de setembro de 2015
Hoje celebramos:
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