O semeador é Jesus.
Observamos que, com esta imagem, Ele se apresenta como alguém que não se impõe,
mas se propõe; não nos atrai conquistando-nos, mas doando-se: lança a semente.
Ele espalha com paciência e generosidade a sua Palavra, que não é uma gaiola nem
uma armadilha, mas uma semente que pode dar fruto. E como pode dar fruto? Se a
acolhermos.
Por isso, a
parábola diz respeito sobretudo a nós: com efeito, ela fala mais do terreno que
do semeador. Jesus faz, por assim dizer, uma radiografia espiritual do nosso
coração, que é o terreno sobre o qual a semente da Palavra cai. O nosso
coração, como um terreno, pode ser bom e então a Palavra dá fruto — e muito —
mas pode também ser duro, impermeável. Isto acontece quando ouvimos a Palavra,
mas ela escorrega, precisamente como numa estrada: não entra.
Entre o terreno bom
e a estrada, o asfalto — se lançarmos uma semente na calçada, nada cresce — há
contudo dois terrenos intermédios que, de maneiras diversas, podemos ter em
nós. O primeiro, diz Jesus, é o pedregoso. Tentemos imaginar: um terreno
pedregoso é um terreno onde não há muita terra, e portanto a semente germina,
mas não consegue ganhar raízes profundas. É assim o coração superficial, que
acolhe o Senhor, quer rezar, amar e testemunhar, mas não persevera, cansa-se e
não cresce. É um coração sem consistência, no qual as pedrinhas da preguiça
prevalecem sobre a terra boa, onde o amor é inconstante e passageiro. Mas quem
acolhe o Senhor só quando lhe apetece, não dá fruto.
Depois, há o último
terreno, aquele espinhoso, cheio de sarças que sufocam as plantas boas. O
que representam estas sarças? A preocupação do mundo e a sedução da riqueza,
assim diz Jesus, explicitamente. As sarças são os vícios que estão em contraste
com Deus, que sufocam a sua presença: antes de tudo os ídolos da riqueza
mundana, viver avidamente, para si mesmos, pelo ter e pelo poder. Se
cultivarmos estas sarças, sufocamos o crescimento de Deus em nós. Cada um pode
reconhecer as suas sarças pequenas ou grandes, os vícios que habitam no seu
coração, aqueles arbustos mais ou menos radicados que não agradam a Deus e
impedem que se tenha o coração limpo. É necessário arrancá-los, senão a Palavra
não dará fruto, a semente não crescerá.
Queridos irmãos e
irmãs, Jesus convida-nos hoje a olhar para dentro de nós: a agradecer pelo
nosso terreno bom e a trabalhar nos terrenos que ainda o não são.
Perguntemo-nos se o nosso coração está aberto para acolher com fé a semente da
Palavra de Deus. Questionemo-nos se os nossos pedregulhos da preguiça ainda são
muitos e grandes; encontremos e chamemos pelo nome as sarças dos vícios.
Encontremos a coragem para limpar o terreno, uma boa limpeza do nosso
coração, levando ao Senhor na Confissão e na oração as nossas pedrinhas e as
nossas sarças. Fazendo assim, Jesus, o bom samaritano, será feliz de realizar
mais um trabalho: purificar o nosso coração, tirando as pedras e os espinhos
que sufocam a Palavra.
Papa
Francisco – 16 de julho de 2017
Hoje celebramos:
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