Hoje vamos meditar
sobre as Bem-Aventuranças, que abrem o grande sermão chamado “da montanha”,
a “magna carta” do Novo Testamento. Jesus manifesta a vontade de Deus
de conduzir os homens à felicidade. Esta mensagem já estava presente na
pregação dos profetas: Deus está próximo dos pobres e dos oprimidos e
liberta-os de quantos os maltratam. Mas nesta sua pregação Jesus segue um
caminho particular: começa com o termo bem-aventurados, ou seja, felizes;
prossegue com a indicação da condição para ser tais; e conclui
fazendo uma promessa.
O motivo da
bem-aventurança, ou seja, da felicidade, não consiste na condição exigida — por
exemplo, pobres em espírito, aflitos, famintos de justiça, perseguidos... — mas
na promessa sucessiva, que deve ser acolhida com fé como dom de Deus. Parte-se
da condição de mal-estar para se abrir ao dom de Deus e aceder ao mundo novo, o
reino anunciado por Jesus. Este não é um mecanismo automático, mas um caminho
de vida na esteira do Senhor, motivo pelo qual a realidade de mal-estar e de
aflição é considerada numa perspectiva nova e experimentada segundo a conversão
que se realiza. Não podemos ser bem-aventurados se não nos convertermos, se não
formos capazes de apreciar e viver os dons de Deus.
Quero meditar sobre
a primeira bem-aventurança: Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. O pobre em espírito
é quem assumiu os sentimentos e as atitudes daqueles pobres que na sua condição
não se rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus. A
felicidade dos pobres — dos pobres em espírito — tem uma dupla dimensão: em
relação aos bens e em relação a Deus. Relativamente aos
bens, aos bens materiais, esta pobreza em espírito é sobriedade: não
necessariamente renúncia, mas capacidade de apreciar o essencial, de partilhar;
capacidade de renovar todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem
sucumbir à opacidade do consumo voraz. Quanto mais tenho, mais quero; quanto
mais tenho, mais quero: esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem
ou a mulher que faz isso, que tem essa atitude quanto mais tenho, mais quero,
não é feliz e não alcançará a felicidade. Em relação a Deus é louvor e
reconhecimento que o mundo é bênção e que na sua origem está o amor criador do
Pai. Mas é também abertura a Ele, docilidade à sua senhoria: Ele é o Senhor,
Ele é o Grande, eu não sou grande porque tenho muitas coisas! É Ele: Ele que
quis o mundo para todos os homens e o quis para que os homens fossem felizes.
O pobre em espírito
é o cristão que não confia em si mesmo, nas riquezas materiais, não se obstina
nas suas opiniões pessoais, mas escuta com respeito e aceita de bom grado as
decisões de outros. Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em
espírito, haveria menos divisões, contrastes e polêmicas!
A humildade, como a
caridade, é uma virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs.
Os pobres, nesse sentido evangélico, parecem-se com aqueles que mantêm viva a
meta do Reino dos céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma
germinal na comunidade fraterna, que à posse privilegia a partilha. Gostaria de
sublinhar isto: à posse, privilegiar a partilha. Ter sempre o coração e as
mãos abertas, não fechadas. Quando o coração está fechado, é um
coração apertado: nem sequer sabe como amar. Quando o coração está aberto,
se encaminha para a senda do amor.
Papa Francisco – 29 de
janeiro de 2017
Hoje
celebramos:
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