João Gabriel
Perboyre, sacerdote da Congregação da Missão, quis seguir a Cristo como
evangelizador dos pobres, seguindo o exemplo de São Vicente de Paulo. Depois de
ter exercido o ministério de formador do clero na França, ele foi para a China.
Lá ele testemunhou com ardor o amor de Cristo pelo povo chinês. "Não sei o que me espera no caminho
que se abre diante de mim: sem dúvida a cruz, que é o pão cotidiano do
missionário. O que se pode desejar para melhor pregar um Deus
crucificado?" escreveu ele, encontrando-se nas portas da China. Ao
longo do caminho para onde foi enviado, encontrou a cruz de Cristo. Através da
imitação diária de seu Senhor, com humildade e doçura, ele se identificou
totalmente com Ele. Seguindo-O passo a passo em sua paixão, ele O alcançou para
sempre em sua glória. "Uma coisa é
necessária: Jesus Cristo", ele adorava dizer. Seu martírio é o momento
culminante de seu compromisso de seguir a Cristo como missionário.
Depois de ser
torturado e condenado, reproduzindo a Paixão de Jesus com extraordinária
semelhança, chegou como Ele até a morte e a morte na cruz. João Gabriel tinha
apenas uma paixão: Cristo e a proclamação do seu Evangelho. É pela fidelidade a
essa paixão que ele também foi colocado no mesmo nível que os humilhados e
condenados, e que a Igreja pode solenemente proclamar sua glória hoje no coro
dos santos do céu.
Em memória de João Gabriel
Perboyre, a quem celebramos hoje, desejamos unir todos aqueles que deram
testemunho do nome de Jesus Cristo na terra da China nos últimos séculos.
Papa
João Paulo II – Homilia de Canonização – 02 de junho de 1996
João Gabriel
Perboyre nasceu em Puech, no Sul da França, em 6 de janeiro de 1802. Com 15
anos, entrou para o seminário de Montauban, dirigido pelos Padres Lazaristas,
onde seu tio, Padre Jacques Perboyre, era reitor. Com 16 anos, já era um
seminarista consciente da própria vocação.
Em 1818, entrou
para o Seminário Interno da Congregação da Missão e emitiu os votos em 1820.
Concluindo seus estudos em 1823 e não podendo ser ordenado devido à idade (isso
só aconteceria em 1826), retornou a Montauban como professor. Um ano depois de
ordenado, foi nomeado superior do Seminário de Saint-Flour e, em 1832, diretor
do Seminário Interno, em Paris.
Foi em 1820, quando
estava no Seminário Interno, que Padre João Gabriel recebeu a notícia do
martírio do Padre Francisco Régis Clet, depois de longos anos de trabalho
missionário na China (1791-1820). Anos depois, por ocasião da chegada à Paris
das relíquias do Padre Clet, o jovem missionário Perboyre, já como diretor do
Seminário Interno, cargo também exercido por seu Coirmão martirizado, exclamou
diante de seus formandos: “Quisera eu
ser mártir como Clet! Peçam a Deus que minha saúde se fortifique para que eu
possa ir à China, a fim de pregar Jesus Cristo e morrer por ele.”
A falta de saúde
era realmente um grande obstáculo para seus sonhos. Mas Padre Perboyre nunca
perdeu a esperança. De fato, em 1835, partiu para a China, desembarcando em
Macau alguns meses depois. Neste território português, Padre Perboyre foi
recebido por seus Coirmãos de Congregação para se dedicar ao estudo da cultura
e, principalmente, da língua chinesa, esforço que empreendeu sem demora,
permanecendo em Macau apenas quatro meses.
Em terras chinesas,
apesar da grande perseguição contra a fé cristã, Padre Perboyre não se
intimidou e se lançou de corpo e alma à missão.
Seu apostolado
consistia, fundamentalmente, em percorrer os diversos povoados da região,
pregando o Evangelho do Senhor e conclamando o povo à conversão e à santidade
de vida. A estas missões, segundo seu próprio relato, geralmente acorriam
muitas pessoas, inclusive algumas que, por causa das constantes perseguições,
tinham abandonado e renegado sua fé.
Em meio a tantas
atividades e com um futuro claramente promissor em terras chinesas, Padre
Perboyre foi ceifado pela perseguição. Todos os seus projetos e empreendimentos
apostólicos recebiam ali um termo e seriam, com sua oferta e para a decepção de
seus perseguidores, ainda mais fecundados.
Tal perseguição,
que culminaria com seu martírio, começou na aldeia de Nan-Kiang, num domingo,
após a missa. Os soldados investiram contra os cristãos, saqueando e
incendiando a igreja. Fugindo, Padre Perboyre se escondeu num bambuzal, depois
na casa de um catequista e, no dia seguinte, numa floresta vizinha. Mas o
Missionário foi traído e entregue por um neófito. Preso, foi arrastado de
tribunal em tribunal e torturado pelos soldados. Interrogado quanto à sua fé,
respondeu entusiasmado: “Sou europeu e
missionário dessa religião”. No entanto, às calúnias e maus tratos preferia
responder mais pelo silêncio do que por palavras. Firme em suas convicções,
afirmava: “Antes morrer do que renegar a fé”.
Em Ku Chen, Padre
Perboyre submeteu-se a dois interrogatórios; em Sian Yan Fu, outros quatro,
sendo que, em um destes, foi obrigado a ficar meio dia de joelhos, em cima de
correntes e preso numa viga de madeira. Em Outchangfou, último estágio a ser
enfrentado, o resistente e intrépido Missionário ainda sofreu vinte interrogatórios,
todos feitos mediante intensa tortura. No entanto, apesar de todo este
sofrimento, Padre Perboyre não revelou o que queriam seus algozes: o nome dos
demais Missionários, para que a perseguição pudesse se estender por todo o
Império. Também não aceitou o sacrilégio de pisar na cruz, sinal da salvação e
do amor de Deus pela humanidade, e esta recusa lhe rendeu cento e dez açoites
de uma só vez.
A 11 de setembro de
1840, o correio imperial ratificou sua sentença de morte: tirado da prisão,
revestido da túnica vermelha dos condenados, foi levado para ser estrangulado.
Padre Perboyre foi descalço, mãos atadas atrás das costas, sustentando uma
longa vara em cuja extremidade tremulava o motivo de sua condenação: professar
a fé cristã. Chegara o momento supremo. Em Outchangfou, de joelhos, ao pé da
forca, o Missionário dirigiu a Deus sua última prece. Amarrando-o num madeiro
em forma de cruz, seus algozes impiedosamente o estrangularam. Ali morria, no
ardor de sua fé, mais um Missionário, determinado em suas convicções e em seu
zelo apostólico.
João Gabriel foi
beatificado no dia 10 de novembro de 1889, por Leão XIII e canonizado no dia 2
de junho de 1996, por João Paulo II.
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