Eis o irmão Alberto: ele é um personagem que deixou uma marca
profunda na história de Cracóvia e do povo polonês, bem como na história da
salvação. Devemos "dar a nossa alma" - isso parece ser o fio
orientador da vida de Alberto Chmielowski, desde seus jovens anos. Como
estudante de 17 anos da escola de agricultura, ele participou da luta pela
liberdade de sua terra natal do jugo estrangeiro - e nela recebeu a mutilação
de uma perna. Ele buscou o significado de sua vocação através da atividade
artística, deixando obras que ainda impressionam hoje pela sua capacidade
expressiva particular.
À medida que ele se dedicava cada vez mais intensamente à
pintura, Cristo o fazia sentir o chamado para outra vocação e convidou-o a
olhar mais e mais longe: "Aprenda comigo. . . que sou manso e humilde de
coração. . . Aprender ".
Alberto Chmielowski foi um discípulo pronto para ouvir o
chamado de seu mestre e Senhor.
Com esse chamado decisivo, que seguiu seu caminho para a
santidade em Cristo, fala o texto da primeira leitura de hoje, tirada do profeta
Isaías: ". . . para desatar as
cadeias injustas, remover os laços do jugo, libertar os oprimidos e quebrar
todo jugo "(Is 58: 6). Esta é a teologia da libertação messiânica, que
contém o que agora estamos acostumados a definir como uma "opção para os
pobres": "dividir o pão com o faminto, acolher os pobres, os sem-teto
em sua casa, vestir aqueles que estão nus, sem distrair os olhos do seu povo
"(Is 58, 7).
Assim fez o irmão Alberto. Neste serviço incansável e heroico
para os despossuídos, ele finalmente encontrou seu caminho. Ele encontrou
Cristo. Ele tomou seu jugo e seu fardo sobre si mesmo; e ele não era apenas
"um que faz caridade", mas se tornou um irmão para os que serviu. Seu
irmão. O "irmão cinzento", como ele era chamado.
Outros o seguiram: os "Irmãos cinzentos" e as
"Irmãs cinzentas", para quem hoje é uma grande festa comum. Eis, de
fato: as palavras adicionais da profecia de Isaías que foram cumpridas: "A
tua justiça andará diante de ti, a glória do Senhor te seguirá. Então você o
invocará e o Senhor responderá: implorará ajuda e ele dirá: Aqui estou eu!
"(Is 58: 8-9).
Papa João Paulo II –
Homilia de Canonização – 12 de novembro de 1989
Santo Alberto Chmielowski, definido pelo Papa São João Paulo
II como “o São Francisco polonês do século XX” pela forma de vida marcada por
uma pobreza rigorosa e alegre, nasceu em Igolomia, perto de Cracóvia, em 20 de
Agosto de 1845, como primogênito de Alberto Chmielowki e de Josefa Borzylawska.
Foi batizado a 26 desse mês, com o nome de Adão Hilário Bernardo. A família era
rica, detentora de enormes propriedades. Aos sete anos, perdeu o pai. A mãe
mudou-se para Varsóvia, onde Adão prosseguiu os estudos, primeiro na escola de
cadetes, depois no instituto de agronomia, para melhor se dedicar à sua lavoura.
Em 1863, aos 18 anos, participou da insurreição contra o
domínio do Czar da Rússia. Foi ferido, na batalha de Melchow e levado
prisioneiro. No cárcere, foi-lhe amputada a perna esquerda, sem anestesia,
operação que aguentou com heroica valentia. Após um ano, conseguiu fugir.
Matriculou-se em Paris, numa academia de pintura. Foi para a Bélgica e,
posteriormente, para Mônaco, regressando depois a Varsóvia, onde se formou em
pintura e arquitetura. As suas telas tornaram-no muito popular e conhecido.
A meditação sobre a paixão de Cristo levou-o a mudar de
vida. Começou a preocupar-se e a afligir-se com os necessitados e pobres.
Ingressou na Terceira Ordem de São Francisco e começou a socorrer mendigos,
vagabundos e doentes abandonados por serem repugnantes. Fazendo-se pobre com os
pobres, à semelhança de Cristo, que de tudo Se despojou em favor dos outros, ia
distribuindo os haveres, ganhos com os trabalhos de pintor notável, entre os
mais necessitados, que reunia nos albergues públicos, onde também ele dormia.
Chegou a mendigar com eles.
Portando um hábito, prosseguiu na sua caridade para com os
indigentes. Como não se sentisse capaz de sozinho socorrer tantos pobres, com a
aprovação do bispo de Cracóvia, reuniu alguns companheiros e lançou os
fundamentos de uma nova congregação, os Servos dos Pobres, mudando o seu nome
para Alberto, ao fazer os seus votos de pobreza, castidade e obediência.
Não escreveu nenhuma Regra, mas o seu exemplo e proceder
foram incentivo e modelo inédito de viver à maneira de Cristo. Construiu
oficinas várias, para os necessitados poderem ganhar alguma coisa e
reconstituírem a vida. Jamais aceitou bens imóveis ou auxílios econômicos
estáveis.
De tal modo essa obra de assistência se multiplicou, que à
sua morte deixou 21 grandes casas de asilo para pobres e 92 eremitérios com
função de sanatórios para religiosos doentes. Tudo isso era organizado e
administrado pelos irmãos e irmãs da Ordem Terceira de São Francisco, Servos
dos Pobres, que se comprometiam a uma plena e perene disponibilidade para
servir os miseráveis, os sem abrigo, os marginalizados, os abandonados, os
vagabundos, os doentes, os idosos e os moribundos. Ele próprio adotara a forma
de vida dos mendigos, morando nos seus tugúrios e compartilhando com eles as
esmolas recebidas. Em comunidade era tratado por “Irmão Ancião”.
Vivendo em casas do Estado ou da Diocese, limitava-se a
receber o que lhe iam dando, dia a dia. Nos albergues acolhia todos os
infelizes, sem querer saber suas origens, raça, etnia ou religião. A 15 de
Janeiro de 1891, ao reparar nas necessidades de tantas mulheres, com a
cooperação de Ana Francisca Lubanska e Maria Cunegundes Silokowka, seduzidas
pelo seu exemplo, fundou um ramo feminino da sua associação, para que
alimentassem as famintas e as acolhessem em abrigos decentes, sobretudo nos
casos de epidemias.
Com palavras de ânimo e conselhos apropriados, com pregações
sobre os desajustamentos sociais, ressaltando a obrigação de todos, sobretudo
os mais favorecidos em riquezas, de ajudarem os ignorantes e miseráveis, Santo
Alberto não só formava os seus seguidores como suscitava nos ricos um
desprendimento que os impulsionasse a uma generosa caridade. Para a direção das
duas congregações recorria aos conselhos de prudentes sacerdotes. Para a
fundação de novas casas nunca prescindia da opinião e do consentimento do
bispo.
Não obstante a prótese rudimentar na perna, viajava imenso
para fundar novos asilos e visitar as diversas casas religiosas. A sua fama
cedo ultrapassou os limites de Cracóvia e se estendeu a toda a Polônia,
concentrando-se num só nome: Frei Alberto. Tudo nascera do nada; tudo ia
"de vento em popa", com o capital inesgotável da Providência.
Em tudo seguiu o exemplo de São Francisco de Assis. Sempre
confiou a sua missão à Providência divina. Tomava forças na oração, na
Eucaristia e na meditação do mistério da Cruz.
Nos últimos dez anos da vida andou atormentado com um tumor
no estômago; mas ninguém o soube senão os poucos meses antes da morte, quando o
mal se agravou. Sem exprimir qualquer lamento, expirou no dia de natal de 1916,
no hospício dos pobres, em Cracóvia.
Antes de morrer, apontando para a imagem de Nossa Senhora de
Czestochowa, disse aos irmãos e irmãs: “Esta Senhora é a vossa Fundadora, lembrai-vos disso”. E
ainda: “Em primeiro lugar observai
a pobreza”. Por ocasião de sua morte, tinha já várias comunidades ao
serviço dos pobres, com mais de uma centena de discípulos. Junto das pessoas
que ele tinha aproximado e conhecido, deixou um testemunho maravilhoso de fé e
de caridade. Em Cracóvia, na Polônia, é conhecido como o Pai dos pobres, e por
sua pobreza evangélica.
Os seus restos mortais repousam na igreja dos carmelitas de
Cracóvia, meta incessante de peregrinação. Em 22 de Junho de 1983 o Papa São
João Paulo II beatificou a Alberto em Cracóvia, durante sua segunda viagem
apostólica à Polônia. Foi proclamado Santo em 12 de Novembro de 1989, em Roma,
pelo mesmo Santo Pontífice, seu compatriota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário