quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

14 de dezembro - São João da Cruz

A pobreza. Esta é as marca de toda a vida de João da Cruz. Pobreza que primeiro o abraçou e que depois foi por ele abraçada – o tesouro que ele encontrou.

Não acalenteis outro desejo senão o de entrar, em relação a tudo o que existe à face da terra, no distanciamento, no nada e na pobreza apenas por amor de Cristo: não tereis outra necessidade além daquela a que tenhais submetido o vosso coração. O pobre em espírito nunca é mais feliz do que quando se encontra na indigência, e aquele cujo coração nada deseja põe-no sempre ao largo.
Os pobres em espírito (Mt 5,3) dão com extrema liberalidade tudo o que possuem. O seu prazer consiste em prescindir de tudo oferecendo-o por amor de Deus e do próximo […]. Não são apenas os bens, as satisfações e os prazeres deste mundo que nos atam e que atrasam no nosso itinerário para Deus; se as recebermos ou se as buscarmos com espírito de posse, as alegrias e as consolações espirituais podem, também elas, constituir um obstáculo ao nosso caminho para o Céu.

Conselhos e Máximas, nos. 355-357, 362

A escolha entre o amor e a pobreza: foi a única herança deixada por seu pai – Gonzalo, um nobre, que por amor à sua esposa – Catalina uma jovem plebeia sem recursos – renunciou à riqueza de sua família. Juntos construíram uma nova família pobre, mas rica de amor.
A importância do amor é indubitável. O problema maior para João da Cruz está no objeto do amor. Amar o que?
E quando se ama algo fora de Deus, então será a ruína do coração humano, pois, por causa da própria natureza do nosso amor, o que amamos em detrimento de Deus, torna-se deus para nós. Aqui está o fundamento d a idolatria.

Senhor Deus, amado meu! Se ainda Te recordas dos meus pecados, para não fazeres o que ando pedindo, faze neles, Deus meu, a tua vontade, pois é o que mais quero: e exerce neles a tua bondade e misericórdia e serás neles conhecido.

E, se esperas por obras minhas, para, por meio delas, me concederes o que te rogo, dá-as Tu, e opera-as Tu por mim, assim como as penas que quiseres aceitar e faça-se. Mas se pelas minhas obras não esperas, porque esperas, clementíssimo Senhor meu? Porque tardas? Porque, se, enfim, há de ser graça e misericórdia o que em teu Filho te peço, toma a minha insignificância, pois a queres, e dá-me este bem, pois que Tu também o queres.

Quem se poderá libertar de seu baixo modo de agir de sua condição imperfeita, se não o levantas Tu a Ti em pureza de amor, Deus meu? Como se elevará a Ti o homem gerado e criado em baixezas, se Tu não o levantares, Senhor, com a mão com que o fizeste?

Não me tirarás, Deus meu, o que uma vez me deste em teu único Filho Jesus Cristo, em quem me deste tudo quanto quero. Por isso folgarei pois não tardarás, se eu confiar. Por que tardas em esperar, ó minha alma, se desde já podes amar a Deus em teu coração?

O céu é meu e minha é a terra; meus são os homens, os justos são meus, e meus os pecadores; os anjos são meus, e a Mãe de Deus e todas as coisas são minhas. O próprio Deus é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim. Que pedes pois e buscas, alma minha? Tudo isto é teu e tudo para ti. Não te rebaixes nem atentes nas migalhas que caem da mesa de teu Pai. Sai para fora de ti e gloria-te da tua glória, esconde-te nela e goza, e alcançarás as petições do teu coração.
Canção da alma enamorada de São João da Cruz
João abraça a pobreza carmelitana e em vista dela inicia com Santa Teresa a obra que fará com que outros possam viver a sua mesma busca.Torna-se um reformador, e no Carmelo descalço sobressai-se: foi o primeiro descalço, primeiro mestre de noviços, primeiro reitor de estudantes da Reforma, diretor espiritual das religiosas.

A conflito entre os “calçados” e os “descalços” atinge seu auge na noite de 2 de dezembro de 1577, quando o frei João é preso e levado para o cárcere carmelitano na cidade de Toledo.
Este será um dos momentos mais dolorosos, e ao mesmo tempo, mais ricos da vida de João da Cruz. A prisão, que dura nove meses, é a experiência maior do nada que sempre acompanhou o Frei João e que ele não hesitou em abraçar.

A escuridão, o isolamento, o abandono dos seus irmãos calçados e descalços, a privação da Eucaristia, os maus-tratos, foram absorvidos por ele como meios para a revitalização de suas convicções evangélicas, para saborear o divino em sua pureza, sem nenhum consolo terreno.
Mistério de nove meses em um local sujo, respirando o mesmo ar, vestindo a mesma roupa, sem luz nem diálogo, tomado física e moralmente pela angústia. Teve ali luzes e graças.

Em 1578 consegue fugir, tendo atingido o cume da imersão mística do mistério de Deus, provando o nada que a ele conduz.

No primeiro Capítulo Geral da reforma em 1591 ele fica sem nenhum cargo e até sua morte – seis meses – vive mais uma “noite escura” como a de Toledo: entregue às humilhações, calúnias, abandonado por todos. Quando lhe vem a enfermidade, escolhe um convento onde o superior o olha com maus olhos e, oprimido pelas dores físicas e morais, mas consolado pela união de amor com Deus, por quem tudo suportou, João da Cruz falece e vê seu desejo realizado em 14 de dezembro de 1591:

“Oh chama de amor viva
Que ternamente feres
De minha alma no mais profundo centro!
Pois não és mais esquiva,
Acaba já. Se queres,
AH! Rompe a tela deste doce encontro.”





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