"O
amor e a verdade se encontram, justiça e paz abraçam". Santa
Margarida d'Youville, no Advento da Igreja, nos dá com todos os santos uma
imagem do novo mundo onde o Amor, a Verdade, a Justiça e a Paz reinam. São
Pedro diz: "O que estamos esperando, de acordo com a promessa do Senhor, é
um novo céu e uma nova terra onde a justiça reside". Em sua dedicação
diária, Margarida traz aos pobres um pouco dessa inovação: uma comunidade de
amor, onde os pequenos são respeitados porque o Senhor está perto deles, porque
ele está presente em seu coração. A santa que hoje honramos é a caridade
concreta de cada dia, que faz o triunfo da justiça e em Deus, que revela a
presença do Novo Mundo: "A sua salvação está perto aqueles que o temem e
glória habitará na nossa terra."
Papa
João Paulo II – Homilia de Canonização – 09 de dezembro de 1990
Margarida
nasceu em Varennes, Quebec, no dia 15 de outubro de 1701, filha de
Cristovão-Dufrost de Lajemmerais e de Renée de Varennes. Era a mais velha de
uma família de seis filhos e perdeu seu pai quando tinha apenas sete
anos.
Dos
11 aos 13 anos estudou no pensionato das Irmãs Ursulinas de Quebec, o que lhe
possibilitou ajudar na educação de seus irmãos; foi também apoio indispensável
à sua mãe nos trabalhos domésticos.
Margarida
cresceu em idade e maturidade. Sua graça e distinção atraiam a atenção de
pretendes e um jovem nobre tornou-se seu noivo. Entretanto, o segundo casamento
de sua mãe com um médico irlandês, que a sociedade de Varennes considerava como
um estrangeiro, influencia a reputação familiar de Margarida e o seu primeiro
noivado é desfeito.
A
família se transferiu para Montreal, onde Margarida conheceu Francisco
d’Youville e casou-se com ele no dia 12 de agosto de 1722. O marido era um
homem volúvel, egoísta, indiferente e ela sofria com suas longas ausências e
seu comércio ilegal de aguardente com os índios. Francisco ficou gravemente
doente e veio a falecer com a idade de 30 anos, após oito anos de casamento.
Margarida estava grávida de seu sexto filho. Dos seis filhos, quatro morreram
ainda pequenos.
Viúva
aos 28 anos, com dois filhos para educar, com dívidas contraídas pelo marido e
sua reputação de novo abalada devido aos atos do esposo, Margarida abre um
pequeno comércio tendo em vista a sua sobrevivência e a dos filhos, pagar as
dívidas que o marido lhe deixara, e ainda prover as necessidades dos pobres que
ela encontra em seu caminho.
Sua
família não aprovava seu gesto de caridade, alegando não ser bem visto pela
sociedade que uma mulher de ascendência nobre, agisse de tal maneira. Apesar da
oposição familiar e da sociedade, Margarida continuou sua missão junto aos
pobres. Na idade de 26 anos, ainda durante o casamento, ela havia sido
agraciada por Deus com uma experiência espiritual que iria transformar a sua
vida conduzindo-a a cumprir sua missão de caridade.
No
dia 21 de novembro de 1737, Margarida acolheu em sua casa uma mulher cega. Mais
ainda, pedia esmola para o enterro dos criminosos executados na praça do
mercado de sua cidade e consertava as roupas dos idosos do Hospital Geral de
Montreal. Sua dedicação aos pobres inspira três mulheres a se juntarem a ela.
No
dia 31 de dezembro de 1737, Margarida e suas três amigas se consagram ao
serviço dos pobres em quem elas veem Jesus Cristo. Esse ato é considerado como
a fundação da Congregação das Irmãs de Caridade
de Montreal “Soeurs Grises”. Este foi o nome dado a este pequeno grupo por
desprezo. “As irmãs estão grises” (quer dizer estão embriagadas!), gritava o
povo, com desprezo, para Margarida e para suas companheiras.
As
pessoas que a discriminavam o faziam por relacionarem o seu trabalho ao tráfico
de Francisco d’ Youville. Contudo, o mesmo povo que as desprezava então, as
enalteceria mais tarde, pois elas passariam para a História como aquelas que a
todos atendem e estendem a mão com suma caridade.
Mais
tarde, quando as irmãs já eram bem respeitadas, Margarida escolheria este nome
(soeurs grises) em sinal de humildade e lembrança desta injusta acusação.
Nos
anos seguintes a obra sofre várias provações: incêndio, doença, pobreza
extrema, conquista do país pelos ingleses. Margarida e suas Irmãs as aceitam
numa atitude de confiança na Providência divina. No dia 2 de fevereiro de 1745,
dia seguinte ao incêndio que destruiu sua casa, assinavam os Primeiros
Propósitos: “receber, nutrir e manter
tantos pobres quantos possamos sustentar...” Fiéis ao compromisso que
assumiram, se mantêm serenas e encontram força e apoio na inabalável confiança
na Divina Providência.
O
Hospital Geral de Montreal, construído em 1693 pelos irmãos Charon,
estava em ruínas. A direção desse hospital foi confiada
provisoriamente a Margarida, pois ninguém queria assumir tal tarefa. Ela entrou
nesta instituição no dia 7 de outubro de 1747 e, em menos de 3 anos, com a
ajuda de suas companheiras, renovou completamente esse hospital para fazer dele
uma casa de acolhimento. – “Vamos à casa
das ‘Soeurs Grises’, dizia o povo desvalido, elas nunca recusam ninguém”.
Sem
conhecimento de Margarida, as autoridades decidiram fazer uma fusão entre o
Hospital Geral de Montreal e o de Quebec. Com sua constante confiança em Deus,
ela diz: “Se Deus nos chama a governar
esta casa, seu plano se realizará, os obstáculos e perseguição dos homens não
nos poderão abalar”.
Em
1753, Luís XV, rei da França, assinava as “Cartas patentes” sancionando a
nomeação de Margarida como diretora do Hospital geral. Não demorou e esta
instituição ficou cheia, abrigando idosos, órfãos, deficientes mentais ou
físicos, doentes crônicos, crianças abandonadas.
Margarida
viveu no Hospital Geral de 1747 até seu falecimento, dia 23 de dezembro de
1771. Ela abria seu coração e sua casa a todas as necessidades humanas. As
últimas palavras de Margarida continuam ainda a inspirar as Irmãs de Caridade
hoje. Seu último pedido foi que ficassem
fiéis ao caminho que lhes havia sido traçado por Deus e percorrido por ela e
suas companheiras: obediência à vontade de Deus e a mais perfeita união entre
elas.
No
dia 3 de maio de 1959, o papa João XXIII beatificou Margarida. Ela tornou-se
assim a primeira mulher de origem canadense beatificada. Em 9 de dezembro de
1990, o papa João Paulo II canonizou esta Mãe dos pobres e apresentou-a ao
mundo inteiro como modelo de amor compassivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário