No Dia Mundial das Missões, celebramos a beatificação dos santos mártires da
Tailândia. Em união com toda a Igreja, damos graças à Santíssima Trindade pelo
testemunho e exemplo que esses mártires deram a todo o mundo cristão. Seu
exemplo de pronta aceitação da proclamação da Fé encontrou sua maior
confirmação no nobre martírio que eles suportaram. É significativo que o seu
generoso sacrifício tenha sido feito dentro de uma comunidade cristã que, ainda
jovem, estava preparada para testemunhar Jesus Cristo e o poder de seu amor com
entrega total: "Vocês serão minhas testemunhas.. . até o fim da terra".
Os
mártires cuja memória nós celebramos hoje - alguns deles bastante jovens -
viviam em uma área que o resto do mundo consideraria remota: a aldeia de
Songkhong, no nordeste da Tailândia. A comunidade deles carecia de sacerdotes
durante a revolta política que afetou essa área há cerca de cinquenta anos.
Nessa situação, Felipe Siphong, um catequista leigo e o pai de uma família,
ficou convencido de que ele tinha que desempenhar um papel ativo na difusão da
fé. Aqui estava um leigo que estava profundamente consciente de que, através do
Batismo, ele pertencia a Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, e foi assim chamado
pessoalmente para proclamar o Evangelho. Felipe sentiu a obrigação de
preencher, na medida do possível, a lacuna deixada pelo sacerdote que havia sido
expulso de sua terra.
Neste espírito, ele proclamou a palavra insistentemente em
todos os momentos, e exortou com infinita paciência e ensino. Felipe gastou-se
generosamente como um "homem de Deus", para que cada um de seus irmãos
e irmãs na fé fosse "completo e preparado para toda boa obra", mesmo
para o testemunho heroico do martírio. Este foi um testemunho que ele mesmo foi
o primeiro a oferecer, permitindo-se ser preso e morto em vez de trair sua fé.
Felipe
Siphong foi seguido neste caminho pelas Irmãs Agnes Phila e Lucy Khambang, que
sustentaram a comunidade cristã em sua fidelidade ao Senhor durante esses dias
difíceis. Presa alguns dias depois de Felipe, juntamente com alguns de seus
companheiros - Agatha Phutta, Cecilia Butsi, Bibiana Kamphai, Maria Phon -
enfrentaram a morte, diante de um esquadrão, com grande coragem e selaram com
sangue o amor que dedicavam a Cristo. Foi assim que Deus respondeu a oração que
a Irmã Agnes havia posto em uma carta escrita na noite anterior ao seu
martírio: "Pedimos ser tuas testemunhas, ó Senhor, nosso Deus".
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 22 de outubro de 1989.
O
Cristianismo foi introduzido na Tailândia em 1881. A Sociedade das Missões
Estrangeiras de Paris era ativa naquele país, bem como outras Congregações
missionárias ou caritativas. Em 1940, o país contava com um milhão de católicos
reunidos em pequenas comunidades, além da presença de comunidades cristãs
protestantes. A Tailândia era um país essencialmente budista, com algumas
minorias hinduístas.
A
partir de 1940, os missionários franceses tiveram que deixar o país por causa
da II Guerra Mundial. O pluralismo religioso era então considerado uma ameaça à
unidade nacional. O vilarejo de Songkhon às margens do rio Mekong, na fronteira
com o Laos, foi o palco do martírio de sete moradores católicos daquela
região: Philippe Siphong, as religiosas Agnes Fhila e Lúcia
Khambang, e os leigos Ágata Fhutta, Cecília Butsi, Viviane Khamfhai e Maria
Fhon.
Felipe
Sifhong nasceu na província de Nakhon Fhanom em 30 de setembro de 1907,
numa família católica, e foi batizado no mesmo dia do seu nascimento. Aluno da
escola paroquial de Non Seng, Felipe tornou-se mais tarde professor
primário, em 1926, no vilarejo de Songkhon. Ali ele se casou, cinco
anos mais tarde, com Maria Thong, e tiveram cinco filhos. Além de professor,
Felipe era também catequista e homem de confiança dos missionários, que lhe
confiavam a administração do posto missionário quando precisavam se
ausentar.Ele era o líder da comunidade cristã local.
Em
agosto de 1940, um grupo de policiais tailandeses chegou em barcos nesse
vilarejo isolado, constatando que os habitantes daquele lugar professavam uma
religião estrangeira. Em novembro, o Padre Figuet foi expulso do país. Os
habitantes locais se confiaram à proteção do catequista Felipe Sifhong e das
Irmãs Agnes Fhila e Lúcia Khambang, a fim de permanecerem firmes na Fé.
Em
meados de dezembro, Felipe recebeu uma carta contendo uma mensagem falsa,
escrita por policiais, ordenando-lhe que comparecesse à subprefeitura. Felipe
pressentiu o perigo. No início da noite do dia 15 daquele mês, dois
policiais levaram-no preso para que fosse interrogado. Felipe foi fuzilado
naquela noite, depois de fazer o sinal da Cruz.
A
mesma sorte estava reservada às duas religiosas. O Cristianismo era,
então, considerado uma das práticas anti-nacionais. As autoridades tailandesas
tiveram o cuidado de esconder os túmulos dos mártires a fim de que as almas dos
falecidos não viessem “atormentar os vivos”. Em 1959, seus restos mortais
foram solenemente enterrados em Songkhon.
Os
sete tailandeses foram beatificados em 1989, pelo Papa João Paulo II.
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