Dado que não se pode conceber
Cristo sem o Reino que Ele veio trazer, também a tua missão é inseparável da
construção do Reino: “procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,
33). A tua identificação com Cristo e os
seus desígnios requer o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de
amor, justiça e paz para todos. O próprio Cristo quer vivê-lo contigo em
todos os esforços ou renúncias que isso implique e também nas alegrias e na
fecundidade que te proporcione. Por
isso, não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de
ti neste compromisso.
Não é saudável amar o silêncio e esquivar o encontro com o outro,
desejar o repouso e rejeitar a atividade, buscar a oração e menosprezar o
serviço. Somos chamados a viver a contemplação mesmo no meio da ação, e
santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão.
Poderá porventura o Espírito
Santo enviar-nos para cumprir uma missão e, ao mesmo tempo, pedir-nos que
fujamos dela ou que evitemos doar-nos totalmente para preservarmos a paz
interior? Obviamente não; mas, às vezes, somos tentados a relegar para posição
secundária a dedicação pastoral e o compromisso no mundo, como se fossem “distrações”
no caminho da santificação e da paz interior. Esquecemo-nos disto: “não é que a
vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão.”
É usual falar, por exemplo,
duma espiritualidade do catequista, duma espiritualidade do clero diocesano,
duma espiritualidade do trabalho. Pela mesma razão, na Evangelii gaudium,
quis concluir com uma espiritualidade da missão, na Laudato si’ com uma
espiritualidade ecológica, e na Amoris laetitia com uma
espiritualidade da vida familiar.
Isto não implica menosprezar
os momentos de quietude, solidão e silêncio diante de Deus. Antes pelo
contrário! Com efeito, as novidades contínuas dos meios tecnológicos, o
fascínio de viajar, as inúmeras ofertas de consumo, às vezes, não deixam
espaços vazios onde ressoe a voz de Deus. Em certos momentos, deveremos encarar
a verdade de nós mesmos, para a deixar invadir pelo Senhor; e isto nem sempre
se consegue, se a pessoa “não se vê à
beira do abismo da tentação mais opressiva, se não sente a vertigem do
precipício do abandono mais desesperado, se não se encontra absolutamente só, no
cume da solidão mais radical”.
Poderá ser saudável um fervor
espiritual que convive com a preguiça na ação evangelizadora ou no serviço dos
outros?
Precisamos dum espírito de
santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como
a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado
sob o olhar do Senhor.
Gaudete et Exsultate –
nºs 25 a 31
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