Gemma Galgani, nasceu no povoado próximo à cidade de
Lucca, na Itália, contemporânea de Santa Teresinha do Menino Jesus, e cresceu
habituada à experiência da morte. Sua mãe, Aurélia, faleceu cedo, vítima de
tuberculose. Seu irmão, Eugênio, que decidira entrar no seminário, também foi
acometido pela doença, e morreu antes de ser ordenado sacerdote. Experiências
tão próximas fizeram com que Gemma se desapegasse desde cedo deste mundo.
Questionada, certa vez, se tinha medo da morte, ela respondeu:
"Claro que não... já estou desapegada de
tudo".
Órfã de pai e de mãe aos 19 anos, Gemma vai morar com uma
piedosa senhora: Cecília Giannini. Ela acolhe a pequena gema de Deus como uma
filha e é em sua casa que vão acontecer experiências extraordinárias: às
quintas e sextas-feiras, recolhida em seu quarto, em oração, Gemma recebe os
estigmas de nosso Senhor. A jovem amante de Cristo, com o olhar detido em um
ponto fixo do alto, sangra abundantemente em várias partes do corpo. No momento
da oração, está totalmente alheia às coisas terrenas. Em êxtase, ela perde
todos os seus sentidos, permanece imóvel, totalmente absorta nas coisas
celestes.
Mas, ao mesmo tempo em que é constantemente agraciada com
as consolações de Deus, a santa recebe com frequência a visita indesejada do
diabo.
Conta-se que, certa vez, o seu diretor espiritual, padre
Germano, encontrou-a acamada, por conta dos incessantes ataques do demônio, que
a debilitavam. Durante a noite, o sacerdote permaneceu com ela, rezando o
breviário no canto do quarto. De repente, um enorme gato preto, de aspecto
horrível, se joga aos pés do sacerdote. Ele dá uma volta pelo quarto, dando
miados infernais.
Subitamente, o gato salta sobre o leito de Gemma, ficando
muito próximo de seu rosto e fixando nela um olhar feroz. Padre Germano fica
visivelmente assustado, mas sua filha espiritual permanece calma: está
acostumada às artimanhas do maligno. "Não tenha medo, padre! É o velhaco
do demônio que me quer molestar. Não tema. Ao senhor não fará mal algum",
diz a jovem, tentando tranquilizar o sacerdote.
Ele, então, levanta-se, ainda com a mão trêmula, e
borrifa água benta sobre o gatão, que desaparece, como que por encanto.
"Como é possível permanecer tão tranquila?", pergunta o padre a
Gemma, ao que ela responde: "Só tenho medo... de
magoar Jesus!"
O último Calvário da virgem de Lucca começou na Páscoa de
1902. Seu corpo, prostrado na cama por terrível doença que a impossibilitava de
ingerir alimento, espelhava as penas interiores que padecia sua alma privada de
todas as consolações e alegrias sensíveis. “Não sabeis que sou toda vossa?
Jesus só!”, suspirava Gemma, em meio a um aparente abandono.
Ela havia participado sucessivamente de todos os
tormentos de Jesus: suas angústias interiores, seu suor de sangue, a flagelação
e suas numerosas chagas, os maus tratos, por obra dos demônios, as profundas
feridas da coroa de espinhos, o deslocamento dos ossos e as chagas dos cravos.
Faltavam-lhe apenas, para imitar cabalmente o Redentor em sua Paixão, a agonia
e a morte em um mar de dores.
Foi o que aconteceu, por fim, no Sábado Santo de 1903.
Com apenas 25 anos de idade, parte para o céu.
“Sou feliz, Jesus, porque
sinto meu coração palpitar com o vosso, e porque Vos possuo”.
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