Podemos pensar que damos glória a Deus só com o culto e a
oração, ou apenas observando algumas normas éticas (é verdade que o primado
pertence à relação com Deus), mas
esquecemos que o critério de avaliação da nossa vida é, antes de mais nada, o que
fizemos pelos outros. A oração é
preciosa, se alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agrada a
Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com generosidade e quando
deixamos que o dom lá recebido se manifeste na dedicação aos irmãos.
O melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração
é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai transformando à luz da
misericórdia. “A misericórdia é a chave
do Céu”.
São Tomás de Aquino ao interrogar-se quais são as nossas
ações maiores, quais são as obras exteriores que manifestam melhor o nosso amor
a Deus. Responde sem hesitar que, mais do que os atos de culto, são as obras de
misericórdia para com o próximo: “não
praticamos o culto a Deus com sacrifícios e com ofertas exteriores para
proveito d’Ele, mas para benefício nosso e do próximo: de fato Ele não precisa
dos nossos sacrifícios, mas quer que o ofereçamos para nossa devoção e para
utilidade do próximo. Por isso a misericórdia, pela qual socorremos as
carências alheias, ao favorecer mais diretamente a utilidade do próximo, é o sacrifício
que mais Lhe agrada”.
Quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua
vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o
Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras
de misericórdia.
O consumismo hedonista pode-nos enganar, porque, na
obsessão de divertir-nos, acabamos por estar excessivamente concentrados em nós
mesmos, nos nossos direitos e na exacerbação de ter tempo livre para gozar a
vida. Será difícil que nos comprometamos
e dediquemos energias a dar uma mão a quem está mal, se não cultivarmos uma
certa austeridade, se não lutarmos contra esta febre que a sociedade de consumo
nos impõe para nos vender coisas, acabando por nos transformar em pobres
insatisfeitos que tudo querem ter e provar.
A força do
testemunho dos santos consiste em viver as bem-aventuranças e a regra de
comportamento do juízo final. São poucas palavras, simples, mas práticas e
válidas para todos, porque o cristianismo está feito principalmente para ser
praticado e, se é também objeto de reflexão, isso só tem valor quando nos ajuda
a viver o Evangelho na vida diária. Recomendo
vivamente que se leia, com frequência, estes grandes textos bíblicos, que sejam
recordados, que se reze com eles, que se procure encarná-los. Far-nos-ão bem,
tornar-nos-ão genuinamente felizes.
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