Jesus confronta-se
mais uma vez com os sacerdotes, os doutores da lei, e eles perguntaram-lhe:
“Até quando nos deixarás na incerteza? Se tu és o Cristo, di-lo claramente”. O
Evangelho diz-nos que Jesus lhes respondeu: “Eu vo-lo disse, mas não credes. As
obras que faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim. Entretanto, não
credes”.
Não acreditavam, no
entanto viram muitas coisas, muitos milagres. E assim quando Jesus curou o cego
de nascença, fizeram todas as pesquisas possíveis e imagináveis: chamaram os
pais, os conhecidos, o próprio cego; depois, outra vez... Por fim esclareceu-se
que era um cego de nascença, mas não acreditaram. Então Jesus pronuncia algumas
palavras sobre a cegueira espiritual: eles, que acreditavam ver, os ilustres
que sabiam tudo — a lei inteira — não viam porque eram eles os cegos, os cegos
de nascença.
Mas não credes diz
Jesus aos doutores da lei. E explica porque: eis aqui também a novidade deste
trecho do Evangelho. Não credes, porque não sois minhas ovelhas, diz o Senhor. Substancialmente,
alguém poderia pensar que para crer devo dizer “creio” e entro no rebanho de
Jesus. Mas não é assim, é o contrário: só quem faz parte das ovelhas de Jesus
pode acreditar.
As minhas ovelhas
ouvem a minha voz, eu conheço-as e elas seguem-me. Eu dou-lhes a vida eterna;
elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará da minha mão. Mas, estas
ovelhas estudaram para seguir Jesus e depois acreditaram? Não. A resposta
definitiva é dada pelo próprio Jesus: Meu Pai, que as deu para mim, é maior do
que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai. É precisamente o Pai
que dá as ovelhas ao pastor; é o Pai que atrai os corações para Jesus. É o Senhor
que o confirma com clareza: Ninguém vem a mim senão pelo Pai. E este povo, que
são as ovelhas de Jesus, foram atraídas pelo Pai, deixaram-se atrair.
Contudo, os
doutores da lei tinham o coração fechado, sentiam-se donos de si mesmos mas, na
realidade, eram órfãos porque não mantinham uma relação com o Pai. É verdade, falavam
dos seus pais — o nosso pai Abraão, os patriarcas — mas como personagens
distantes. Porém no seu coração eram órfãos, viviam numa condição de órfãos e
preferiam-na em vez de se deixar atrair pelo Pai.
Estamos diante do drama
do coração fechado destas pessoas: elas acreditavam que tinham sido criadas por
si sós porque sabiam tudo e, por conseguinte, o seu coração era incapaz de
acreditar, porque não se deixavam atrair pelo Pai a Jesus e por isso não faziam
parte das ovelhas de Jesus. Este drama continua até ao Calvário. E também no
dia da ressurreição: quando os soldados vão dizer-lhes o que tinha acontecido,
como reagem? Inventam uma boa desculpa: “Dizei que vos tínheis adormecido e que
os discípulos roubaram o corpo”. Assim colocam a mão no bolso, segundo o
princípio do suborno: “Tu calas-te e eu pago-te para te calares”.
Portanto nem sequer
diante daquela prova, daquelas testemunhas que tinham visto a ressurreição deixaram-se
atrair pelo Pai a Jesus. Por isso não podem acreditar, porque não são ovelhas
de Jesus: são órfãos, rejeitaram o seu Pai.
Papa Francisco – 19
de abril de 2016
Hoje celebramos:
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