terça-feira, 24 de abril de 2018

24 de abril - As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Jo 10,27


Jesus confronta-se mais uma vez com os sacerdotes, os doutores da lei, e eles perguntaram-lhe: “Até quando nos deixarás na incerteza? Se tu és o Cristo, di-lo claramente”. O Evangelho diz-nos que Jesus lhes respondeu: “Eu vo-lo disse, mas não credes. As obras que faço em nome de meu Pai dão testemunho de mim. Entretanto, não credes”.

Não acreditavam, no entanto viram muitas coisas, muitos milagres. E assim quando Jesus curou o cego de nascença, fizeram todas as pesquisas possíveis e imagináveis: chamaram os pais, os conhecidos, o próprio cego; depois, outra vez... Por fim esclareceu-se que era um cego de nascença, mas não acreditaram. Então Jesus pronuncia algumas palavras sobre a cegueira espiritual: eles, que acreditavam ver, os ilustres que sabiam tudo — a lei inteira — não viam porque eram eles os cegos, os cegos de nascença.

Mas não credes diz Jesus aos doutores da lei. E explica porque: eis aqui também a novidade deste trecho do Evangelho. Não credes, porque não sois minhas ovelhas, diz o Senhor. Substancialmente, alguém poderia pensar que para crer devo dizer “creio” e entro no rebanho de Jesus. Mas não é assim, é o contrário: só quem faz parte das ovelhas de Jesus pode acreditar.

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu conheço-as e elas seguem-me. Eu dou-lhes a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará da minha mão. Mas, estas ovelhas estudaram para seguir Jesus e depois acreditaram? Não. A resposta definitiva é dada pelo próprio Jesus: Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai. É precisamente o Pai que dá as ovelhas ao pastor; é o Pai que atrai os corações para Jesus. É o Senhor que o confirma com clareza: Ninguém vem a mim senão pelo Pai. E este povo, que são as ovelhas de Jesus, foram atraídas pelo Pai, deixaram-se atrair.

Contudo, os doutores da lei tinham o coração fechado, sentiam-se donos de si mesmos mas, na realidade, eram órfãos porque não mantinham uma relação com o Pai. É verdade, falavam dos seus pais — o nosso pai Abraão, os patriarcas — mas como personagens distantes. Porém no seu coração eram órfãos, viviam numa condição de órfãos e preferiam-na em vez de se deixar atrair pelo Pai.

Estamos diante do drama do coração fechado destas pessoas: elas acreditavam que tinham sido criadas por si sós porque sabiam tudo e, por conseguinte, o seu coração era incapaz de acreditar, porque não se deixavam atrair pelo Pai a Jesus e por isso não faziam parte das ovelhas de Jesus. Este drama continua até ao Calvário. E também no dia da ressurreição: quando os soldados vão dizer-lhes o que tinha acontecido, como reagem? Inventam uma boa desculpa: “Dizei que vos tínheis adormecido e que os discípulos roubaram o corpo”. Assim colocam a mão no bolso, segundo o princípio do suborno: “Tu calas-te e eu pago-te para te calares”.

Portanto nem sequer diante daquela prova, daquelas testemunhas que tinham visto a ressurreição deixaram-se atrair pelo Pai a Jesus. Por isso não podem acreditar, porque não são ovelhas de Jesus: são órfãos, rejeitaram o seu Pai.

Papa Francisco – 19 de abril de 2016

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