"Vinde, benditos de meu Pai... Em
verdade vos digo: sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a mim mesmo o fizestes” (Mt 25, 34.40). Como não pensar que estas palavras de Jesus,
com as quais se concluirá a história da humanidade, possam ser adequadas também
para o Irmão Pedro, que, com tanta generosidade, se dedicou ao serviço dos mais
pobres e abandonados?
Hoje, ao
inscrever no álbum dos Santos o Irmão Pedro de São José de Betancur, faço-o
convencido da atualidade da sua mensagem. O novo Santo, levando como bagagem
unicamente a sua fé e a sua confiança em Deus, atravessou o Atlântico para
servir os pobres e os indígenas da América: primeiro em Cuba, depois em
Honduras e, por fim, neste abençoado solo da Guatemala, a sua "terra
prometida".
O Irmão Pedro
foi homem de oração profunda, já na sua terra natal, Tenerife, e depois em
todas as etapas da sua vida, até chegar aqui, onde especialmente na eremitério
do Calvário, buscava assiduamente a vontade de Deus em todos os momentos.
Assim, ele é um
luminoso exemplo para os cristãos de hoje, aos quais recorda que, para ser
santo "há necessidade de um cristianismo que se destaque principalmente
pela arte da oração". Por isso, repito a minha exortação a todas as
comunidades cristãs da Guatemala e de outros países, para que sejam autênticas
escolas de oração, nas quais rezar seja a parte central de todas as atividades.
Uma vida de piedade intensa produz sempre abundantes frutos.
Foi assim que o
Irmão Pedro formou a sua espiritualidade, particularmente na contemplação dos
mistérios de Belém e da Cruz. Se no nascimento e na infância de Jesus
aprofundou o acontecimento fundamental da Encarnação do Verbo, que o levou a
descobrir quase naturalmente o rosto de Deus no homem, na meditação sobre a
Cruz encontrou a força para praticar heroicamente a misericórdia com os mais
pequeninos e necessitados.
Papa João Paulo II
– Homilia de Canonização – 30 de julho de 2002
Pedro de São José Betancur nasceu em Villaflor de
Tenerife, nas Ilhas Canárias, Espanha, no dia 19 de março de 1626, tendo sido
batizado logo no dia 21. Seus pais, Amador González Betancur de la Rosa e Ana
Garcia educaram-no no amor a Cristo e Pedro descobriu os valores da fé e da
caridade, de modo especial. E ele nunca esqueceu os ensinamentos recebidos;
ouvindo falar dos trabalhos missionários que muitos homens e mulheres estavam a
empreender nas terras da América, deixou-se entusiasmar pela ideia de ir
anunciar o Evangelho, emigrando para a Guatemala em 1651 com esse propósito.
Ali começou a viver como se fosse essa a sua pátria,
depressa captou a simpatia das famílias do lugar, que desejavam a presença de
Pedro em suas casas, pela sua afabilidade e interesse pela situação de cada um;
pagava a hospedagem com os trabalhos humildes que podia fazer.
Fez da pobreza sua companheira de vida, para não ter
outro tesouro a não ser Jesus Cristo e não ter outra preocupação senão o amor
dos pobres. Viveu em Santiago de los Caballeros, entrava livremente na casa de
todos os que ali habitavam, saindo como tinha entrado: livre de apegos
materiais, alma limpa e coração desprendido, mas com a convicção firme de que
tinha deixado a semente do Evangelho no seio daquelas famílias. Por isso, ele
pode ser chamado um “mensageiro do amor de Deus na América”.
Possuía a sabedoria própria de um homem simples. Por esta
razão, a sua vida se lê melhor nas suas ações do que nos seus discursos. Por
dificuldades nos estudos, não conseguiu ser sacerdote, não foi membro de uma
Ordem religiosa, o que o convenceu de que Deus o chamava à santidade por outro
caminho; seguiu o da caridade, tornando-se um verdadeiro apaixonado pelo pobres
por amor a Cristo. Sincero e humilde, mas de um singular intuição e prática na
vida, soube reconhecer Deus e encontrar Cristo nas ruas da cidade.
Era homem de oração; reconhecendo-se como humilde servo
da Santíssima Trindade, distinguiu-se por uma vida de comunhão contínua com
Deus Pai através da oração e da perseverança em fazer o bem, às vezes à custa
das maiores dificuldades, incompreensões e contrariedades, mas espalhando
sempre a caridade a mãos cheias.
Por isso, não nos admiremos de que ele fosse um “leigo fundador
de uma Ordem religiosa”. Assim se expressam os Bispos da Guatemala em Carta
Pastoral, escrita a propósito da sua canonização.
Tendo vestido o hábito da Terceira Ordem da Penitência
franciscana, continuou a sua vida na prática das obras de caridade,
consolidando a sua devoção a Maria; rezava o terço na Capela da casa com os
escravos, os mais simples, sem deixar de se retirar para o “seu” Calvário
(tinha-o construído com as suas próprias mãos), pelos pátios da Pousada de
Belém, onde, no dizer do seu biógrafo, “os pobres podiam encontrar pão material
para o sustento do seu corpo e o pão da doutrina para alimento da sua alma”.
Alguns deixaram-se seduzir pelo seu exemplo e congregou à sua volta os que
julgou idôneos para dar cumprimento aos seus desejos. Com eles acerta uma vida
regular de oração e austeridade que, ao trabalho com os pobres, uniam uma
espiritualidade muito rica de fidelidade a Deus e vida comunitária. Assim
nasceu a Ordem Betlemita, fundada na Guatemala e ainda hoje viva naqueles
meios, ao serviço das pessoas mais humildes e sem lar.
Destacam os Bispos da Guatemala três caminhos na herança
espiritual legada por Pedro de São José:
a) Caminho espiritual, baseado na adoração do Verbo
Encarnado, na meditação constante da paixão de Cristo, no amor e adoração ao
Santíssimo Sacramento da Eucaristia, amor à Mãe de Deus e a devoção do santo
Rosário, a que se juntava a prática da mortificação, da penitência e do jejum.
b) Caminho misericordioso, caracterizado pelo amor aos
pobres e a solidariedade para com todos. Para isto, não hesitou em escrever uma
carta ao Rei de Espanha, pedindo autorização para construir um hospital para
convalescentes, o primeiro do mundo para este género de doentes.
c) Um caminho profético, onde se descobrem os valores
perenes de uma autêntica evangelização. Assim o evangelizador verdadeiro não
deve condenar ninguém definitivamente, pois o plano de Deus quer a salvação de
todos e que todos cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1 Tim 2, 4), o
evangelizador propõe o plano de Deus a um mundo dominado pelo afã das riquezas,
a ambição do poder e a indiferença orientada pelo prazer.
Beatificado por João Paulo II em Roma, no dia 22 de Junho
de 1980, foi canonizado ainda pelo mesmo Sumo Pontífice, na Guatemala, em 30 de
Julho de 2002
Nenhum comentário:
Postar um comentário