São
Paulo recorda-nos que "a Palavra de Deus é viva e eficaz" (Hb 4, 12). Nela,
o Pai, que está no céu, conversa amorosamente com os seus filhos de todos os
tempos, dando-lhes a conhecer o seu amor infinito e, deste modo, estimula-os,
conforta-os e oferece-lhes o seu desígnio de salvação para a humanidade e para
cada pessoa. Consciente disto, São Francisco Coll dedicou-se
abnegadamente na sua propagação, cumprindo assim fielmente a sua vocação na
Ordem dos Pregadores, na qual emitiu a profissão.
A sua paixão foi pregar, em
grande parte de modo itinerante e seguindo a forma de "missões
regulares", com a finalidade de anunciar e reavivar nos povoados e cidades
da Catalunha a Palavra de Deus, facilitando assim o encontro profundo dos povos
com Ele. Um encontro que leva à conversão do coração, a receber com alegria a
graça divina e a manter um diálogo constante com nosso Senhor mediante a
oração. Por isso, a sua atividade evangelizadora incluía uma grande entrega ao
sacramento da Reconciliação, uma especial ênfase na Eucaristia e uma
insistência constante na oração.
Francisco Coll atingia o coração do próximo porque transmitia o
que ele mesmo vivia com paixão no seu interior, o que ardia no seu coração: o
amor de Cristo, a sua entrega a Ele. Para que a semente da Palavra de Deus
encontrasse terra boa, Francisco fundou a Congregação
das Irmãs Dominicanas da Anunciação, com a finalidade de dar uma educação
integral a crianças e jovens, de modo que pudessem descobrir a riqueza
insondável que é Cristo, esse amigo fiel que nunca nos abandona nem se cansa de
estar ao nosso lado, animando a nossa esperança com a sua Palavra de vida.
Papa
Bento XVI – Homilia de Canonização – 11 de outubro de 2009
Francisco
Coll veio ao mundo em Gombrén, Espanha, aos 18 de maio de 1812. Filho de pais
piedosos, foi batizado já no dia seguinte ao seu nascimento. Com apenas dez
anos decide-se pela vida sacerdotal. A partir daí sua trajetória será num
crescente constante, rumo ao cumprimento das palavras proféticas de sua mãe que
lhe dizia: “Filho, oxalá arrebentes
de amor de Deus.”
No
seminário de Vic, apesar das muitas dificuldades, pois era um estudante pobre e
a instituição não lhe oferecia alojamento, Francisco soube seguir firme em seu
chamado vencendo todas as tribulações. Ali, teve contato com pessoas
providenciais; era a mão de Deus a moldar-lhe lenta e gradativamente a
personalidade. Eram tempos difíceis, de intensa perseguição à Igreja de Cristo.
Certo
dia, andando pela rua, encontra-se inesperadamente com um desconhecido que lhe
diz: “Tu Coll, deves ser dominicano.” Aquelas palavras ficaram
profundamente gravadas em seu coração e nunca mais se apagariam. Após este
episódio misterioso e providencial, Francisco Coll baterá à porta do convento
de São Domingos em Vic, lugar em que tantas vezes acorrera para obter por
caridade um prato de sopa quente, o mesmo que fazia no convento das monjas de
Santa Clara. No entanto, ali não iria permanecer, pois era muito pobre e não
possuía recursos para arcar com os gastos do noviciado. Aconselharam-lhe,
então, o convento dominicano de Gerona, onde, com a ajuda bondosa de mais um
ilustre desconhecido, pôde ingressar tornando-se noviço em 1830.
Durante
sua estada em Gerona, Maria Santíssima o viria visitar, e os primeiros sinais da
providência de Deus que acompanhará sua missão começa a ser percebido pelos
demais. Em 1835 é ordenado diácono na Igreja de Nossa Senhora das Mercês,
Barcelona, poucos meses antes dos tristes acontecimentos causados pelos
liberais que viriam a resultar na expulsão violenta de religiosos e
seminaristas de suas casas eclesiásticas. Em muitas regiões espanholas houve
devastações e saques de conventos; muitos sacerdotes e consagrados foram
assassinados. Francisco Coll, que havia profetizado todos esses acontecimentos,
será ordenado somente um ano depois, em 28 de maio de 1836, não enclausurado,
pelo ódio anticlerical.
Doravante,
o Padre Coll surge como um pregador incansável da palavra de Deus. Juntando-se
ao zelo admirável de Santo Antônio Maria Claret, na chamada “Irmandade
Apostólica” arrasta incontáveis almas para a penitência e a mortificação. Anda
a pé, de localidade em localidade, preocupando-se, tão somente, com a salvação
das almas e a propagação do reinado de Cristo sobre o mundo.
Certa
feita, vindo de um povoado, encontrou-se pelo caminho com um condutor de mulas,
e este, vendo o servo de Deus a pé e tão humildemente vestido, com toda
zombaria e gesto sarcástico perguntou-lhe se queria confessar os animais. O
Padre Coll, dissimulando o insulto e ardendo de amor por aquela alma, disse-lhe
com doçura: “Seria melhor que você se confessasse, pois há vinte anos que não o
faz.” O moço, maravilhado e tocado pela graça de Deus, ajoelhou-se ali
mesmo, e com os olhos cheios de lágrimas e o coração contrito, confessou seus
muitos pecados.
Em
15 de agosto de 1856, Deus pede mais uma missão ao humilde dominicano pregador
do Evangelho: fundar uma nova congregação religiosa. E assim ele o fez! Surge
então as Irmãs Dominicanas da
Anunciação, sempre prontas para espalhar, segundo a vontade de seu
fundador, “o perfume da verdadeira
doutrina” por todos os lugares por onde vierem a passar. De acordo com o Padre
Coll, suas religiosas deveriam ser mulheres idôneas para o ensino, brilhantes
estrelas, à imitação de seu pai São Domingos, para iluminar com sua doutrina as
inumeráveis crianças pobres que caminhavam nas densas trevas da ignorância.
Este
modelo de virtudes morrerá santamente aos 2 de abril de 1875, com 62 anos de
operosa vida apostólica.
O
Rosário foi sua oração preferida. A alguém que lhe perguntava onde adquiria os
profundos e convincentes argumentos que expressava em suas pregações, ele
respondia:
“O
Rosário é meu livro, é tudo para mim...”
“A
oração mental e a vocal são as duas asas que o Rosário de Maria oferece às
almas cristãs.”
“O
Santo Rosário com seus quinze mistérios nos quais se faz memória e medita a
reconciliação da natureza humana com Deus, é a escada para subir aos céus.”
“Demorava-se
em dar uma resposta, mas tinha-se a impressão que depois de dá-la, nunca mais
voltaria atrás, apesar de ser muito humilde.”
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