Servir aos sofredores: este é o carisma especial de Josefina Vannini, fundadora da Congregação das Filhas de São Camilo. Ser toda
de Deus, amado e honrado nos necessitados, era sua preocupação constante,
traduzida para uma caridade diária sem fronteiras ao lado dos doentes, nos
passos do grande apóstolo dos doentes, São Camilo de Lellis.
"Você sempre vê nos doentes a imagem do sofrimento de
Jesus", repetia a mãe Vannini, convidando suas irmãs a meditar no Salvador
crucificado, que o profeta Isaias apresenta como "desprezado e rejeitado
pelos homens, um homem de tristeza que conhece o sofrimento" (53, 3). E é
aqui, na contemplação de Cristo na cruz, a chave para a leitura da existência e
da atividade da nova Beata, apontada para o povo cristão como um exemplo
luminoso a ser imitado.
Quão atual é o seu testemunho e a sua mensagem! A mãe
Vannini também faz um forte apelo aos jovens e aos jovens de hoje, por vezes
hesitantes em assumir compromissos totais e definitivos. Ela convida a uma
correspondência generosa tanto aos que são chamados para a vida consagrada como
para aqueles que realizam sua vocação na vida familiar: para todos Deus tem um
plano de santidade.
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 16 de outubro
de 1994
Judite Adelaide Vannini nasceu na Itália, no dia 7 de julho
de 1859. Órfã de pai e mãe, Judite foi educada pelas Irmãs de Caridade até a
idade de 21 anos.
A data da sua Primeira Comunhão, que esperou com amor
indescritível, foi também o germe de uma decisão por muito tempo pensada com
especial carinho: dar-se a Deus e a Ele consagrar sua pobre vida, desejo que
cultivou e fez crescer imperiosamente.
O tempo amadureceu ainda mais a decisão de que seria Deus
seu único e indivisível amor. Foi aos 20 anos de idade que pediu o
ingresso no convento das Irmãs de Caridade. Em 2 de março de
1883, ingressou no noviciado de Siena. Mas, por razões de
saúde, foi obrigada a voltar para Roma, para o antigo pensionato onde recebera
o diploma de instrutora. Esta prova causou-lhe grande sofrimento. No silêncio,
teve de aplicar-se aos trabalhos manuais (bordado) para ganhar seu pão.
Posteriormente, foi novamente aceita ao noviciado e enviada
à comunidade de Montenero (Leghorn), onde permaneceu até 1886, em seguida a
Bracciano até 1888, quando novamente teve de retornar ao pensionato. Era mais
uma prova imposta pelo Senhor, que provava a pureza deste ouro no cadinho da
humilhação. Os superiores definitivamente haviam decidido que não tinha vocação
e por isto decidiram que retornasse aos afazeres do mundo.
Judite tinha então 29 anos. A boa superiora do pensionato
encontrou alojamento para ela nos arredores da cidade, e percebendo a piedade e
a disponibilidade de Josefina, explicou-lhe que aceitariam de boa vontade que
permanecesse entre elas, mas este tipo de vida não era compatível com seu
caráter de profunda espiritualidade. Além de todos estes contratempos, teve de
lutar contra as intenções de seu irmão Augusto, que tentava dissuadi-la da
ideia de sua eventual consagração à Deus e a aconselhava a permanecer
entre eles para formarem uma só família.
Aos trinta e poucos anos confiou-se aos cuidados de sua tia
e madrinha Ana Maria. A esta altura todas as suas aspirações
pareciam ter caído por terra, mas o Senhor a predispunha para outros horizontes
sem contudo poupá-la de muitos outros sacrifícios e renúncias. Os frutos destes
dois anos em que ali permaneceu, imprimiu nela ainda mais a qualidade
incontestável de seu caráter, o grande abandono em Deus e a mais perfeita
obediência ao seu diretor espiritual.
Numa conversa privada que teve com o Padre Luís Tezza,
Judite abriu a sua alma ao pregador. Falou de seus projetos, dos
seus malogros, das suas aspirações. Enquanto o Padre Luís a ouvia pela primeira
vez, descobria nela rara sabedoria e uma grande maturidade espiritual. E viu
nela um belo instrumento a ser usado em uma fundação em
amadurecimento. Havia chegado o momento em que Deus realizaria nela
plenamente a Sua vontade.
O Padre Tezza não perdeu tempo: expondo-lhe os detalhes de
uma fundação movida pelo espírito de São Camilo de Lellis, propôs que nela
colaborasse. Judite pediu um tempo para dar uma resposta definitiva. Após
refletir sobre a proposta diante de Deus, finalmente aceitou o encargo,
colocando-se à inteira disposição do Padre Luís Tezza. Assim, na
humildade e no silêncio, surge a nova fundação.
Obtendo permissão de seus superiores eclesiásticos, no dia 2
de fevereiro de 1892 (festa da Purificação de Nossa Senhora e aniversário da
conversão de São Camilo de Lellis), Judite e duas companheiras foram empossadas
em um pequeno apartamento na Rua Merulana, 141. Mantidas na solidão, no
silêncio, oração e trabalho, santamente preparavam-se para receber o ingresso
na Congregação Filhas de São Camilo. Foi na festa de São José, em 19
de março de 1892, que Judite tomou o nome definitivo de Irmã Maria Josefina,
tornando-se superiora da pequena comunidade.
É fácil imaginar a suprema alegria do Padre Luís, das suas
primeiras filhas e dos camilianos presentes. Uma nova congregação tinha
nascido, limitada, extremamente pobre, mas com plena confiança depositada em
Deus, na Santíssima Virgem, em São José, escolhido como protetor específico,
sob a proteção paterna de São Camilo de Lellis.
Em 1909 a fundadora atingiu a idade de cinquenta anos.
Exatamente neste ano Nosso Senhor concedeu a ela a alegria desejada por muito
tempo: a aprovação eclesiástica do Instituto. O cardeal vigário, Pedro
Respighi, por decreto firmado em 21 de junho de 1909, criava os piedosos
asilos, junto à Congregação de Direito Diocesano e aprovava as suas
constituições.
Madre Josefina Vannini, frágil desde a juventude, nunca teve
boa saúde. Os sofrimentos da adolescência, as desilusões da juventude, o peso
da fundação, a apreensão e o amor intenso e dedicado às suas religiosas,
consumiram-na sobremaneira. Seu coração estava cansado e não batia
mais regularmente.
Por ocasião de uma visita à uma comunidade, retornou
extremamente esgotada e foi obrigada, pela grande fraqueza, a pôr-se de
cama. Todos estavam conscientes de que a Madre tinha chegado a uma fase em que
talvez não pudesse mais continuar nas suas funções de superiora. Ela mesma
havia compreendido isto e com muita resignação facilmente aceitou os afetuosos
cuidados de suas filhas.
Pouco tempo de vida restou-lhe depois disto. Ao final da
jornada, um padre escreveu sobre ela: “Como ocorre em cada boa alma, nesta
enfermidade terminal resplandecerá mais do que nunca as virtudes que a
acompanharam durante sua vida religiosa. Piedade para com Deus, paciência nas
suas dores, afeição para seus irmãos, docilidade aos confessores, mortificação
para si mesma, gratidão em cada pequeno serviço, humildade nos sentimentos,
espírito de fé e amor de Deus, eram coisas que a animavam eu diria quase
continuamente”.
Estando próximo o fim, repetia aos padres que a assistiam
frases de amor e de fé em Deus e na Virgem. À véspera de sua morte quis ver as
suas filhas, dando-lhes as últimas instruções. Morreu serenamente na noite de
23 de fevereiro de 1911, aos cinquenta e dois anos, em Roma.
Em apenas 19 anos de trabalho, Madre Josefina Vannini
conseguiu difundir o seu providencial instituto na Itália, na França, na
Bélgica e na América do Sul. Hoje as Filhas de São Camilo trabalham em quatro
continentes: Europa, Ásia, África, América.
A causa de canonização foi enviada ao tribunal do Vicariato
de Roma em 1955. Em 16 de outubro de 1994 João Paulo II a proclamou
Beata e em 13 de outubro de 2019 o Papa Francisco a canonizou.