Pai
Santo, Deus Todo Poderoso, quando levanto para o Teu céu a fraca luz dos meus
olhos, posso duvidar de que é o Teu céu? Quando contemplo o caminho das
estrelas, o seu regresso no ciclo anual, quando vejo as Plêiades, a Ursa Menor
e a Estrela da Manhã e considero como cada uma brilha no lugar que lhe foi
assinalado, compreendo, ó Deus, que Tu estás aí, nesses astros que eu não
compreendo. Quando vejo “as belas ondas do mar” (Sl 92,4), não compreendo a
origem dessas águas, não compreendo sequer o que põe em movimento os seus
fluxos e refluxos regulares, e, no entanto, creio que existe uma causa –
certamente impenetrável para mim – para estas realidades que ignoro, e também
aí eu pressinto a Tua presença.
Se volto o meu espírito para a terra, que,
pelo dinamismo das forças escondidas, decompõe todas as sementes que acolheu no
seu seio, as faz germinar lentamente e as multiplica, e depois lhes permite
crescerem, não encontro nada que possa compreender com a minha inteligência;
mas esta ignorância ajuda-me a discernir-Te a Ti, porque, se não conheço a
natureza posta ao meu serviço, reencontro-Te, no entanto, pelo fato de ela
estar lá para minha utilização.
Se me volto para mim, a experiência diz-me
que não me conheço a mim próprio e admiro-Te tanto mais quanto sou para mim um
desconhecido. De fato, mesmo que não os possa compreender, tenho a experiência
dos movimentos do meu espírito que julga, destas operações, da sua vida, e esta
experiência a Ti a devo, a Ti que me deste a partilhar esta natureza sensível
que faz a minha felicidade, mesmo que a sua origem esteja para além da minha
inteligência. Eu não me conheço a mim próprio, mas dentro de mim encontro-Te e,
ao encontrar-Te, adoro-Te.
Santo Hilário de
Poitiers – século IV
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