domingo, 11 de fevereiro de 2018

11 de fevereiro - São Gregório II - Papa


O Papa Gregório II nasceu em 669, filho de Marcelo - senador romano e Honesta - nobre que se dedicava a caridade, e foi iniciado desde cedo na prática dos negócios eclesiásticos. Tendo entrado na Ordem beneditina, foi sucessivamente subdiácono, capelão do palácio pontifício, bibliotecário e esmoler da igreja romana.

A Santa Igreja passava por um período de provação. De 687 a 701, o papado fora perturbado pelo duplo cisma dos antipapas Pascal (de 687 a 692) e Teodoro (687). Teria de enfrentar ainda a grande investida iconoclasta do imperador do Oriente, e para isso a barca de Pedro precisava ter no seu timão um homem enérgico e destemido. Esse homem foi Gregório II.

Com firmeza de caráter e superior inteligência, foi escolhido pelo Papa Constantino para acompanhá-lo a Constantinopla, quando ainda era apenas diácono, a fim de discutir com o imperador Justiniano II os cânones do concílio de Trullo, de 692. 
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No dia 19 de março de 715, subiu ao trono pontifício, como o 89º papa da Igreja, em meio às aclamações do povo e do clero, que já o estimavam e dele esperavam grandes coisas.

Uma das grandes determinações do novo pontífice foi dar continuação ao apostolado inaugurado por São Gregório Magno para a conversão dos povos bárbaros, ainda pagãos. Ele queria, aplicando uma disciplina cristã, dar formação àqueles povos errantes e sempre perigosos para o mundo latino. Outra de suas grandes preocupações eram as relações entre a Santa Sé e o império de Bizâncio, onde habitualmente a heresia encontrava abrigo. A escolha do Papa era então dependente em parte do imperador bizantino, que confirmava a eleição pontifícia. São Gregório tinha ainda que prover materialmente Roma, muito provada pelos ataques dos bárbaros e dos lombardos.

Providência muito premente era fortificar a cidade contra um possível ataque dos sarracenos, com domínio crescente sobre o Mediterrâneo. Iniciou esta medida com sucesso, mas quando as muralhas da cidade estavam sendo reforçadas, vários fatores o impediram de concluí-la, inclusive uma inundação do Tibre.

Trabalhando simultaneamente em várias frentes, planejou implantar a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo além das fronteiras do Danúbio, aonde jamais tinham chegado as águias romanas. Enviou para a Baviera São Corbivian; para as florestas do Hesse e da Turíngia, o monge inglês Winfrid, que se tornou o evangelizador da Alemanha, mais conhecido como São Bonifácio. Bonifácio voltou em 722 a Roma, para ser sagrado bispo. O Papa solicitou então o auxílio de Carlos Martel, rei dos francos, para secundar o seu trabalho, e assim foi legitimamente posta a força a serviço da Religião.

A epístola 27, que São Gregório enviou a São Bonifácio em 22 de novembro de 726, contém diretrizes detalhadas de como agir em relação aos neo-convertidos; e orienta de maneira firme sobre os problemas de moral, doutrina, liturgia e pastoral. Sobre os padres indignos, que por falta de preparação mais acurada e de vida espiritual séria se haviam deixado contaminar pelo paganismo reinante, ele determina: “Quando eles não forem formalmente hereges, é-vos permitido comer ou falar com eles. Mas deveis, usando a autoridade apostólica, adverti-los, repreendê-los; e, se possível, trazê-los de volta à pureza da disciplina eclesiástica. [...] Observareis a mesma regra em relação aos grandes que vos prestam auxílio”.

O imperador do Oriente, Leão III Isáurico, era oriundo de uma família muito humilde, mas fora galgando posições importantes devido à sua bravura e habilidade, chegando ao cobiçado trono de Bizâncio. Esse imperador-soldado salvou a Cristandade por duas vezes, ao derrotar os muçulmanos em 718 e 740. Entretanto, quis legislar também em matéria eclesiástica. Em dois editos – um de 726, outro de 728 – proibiu o culto das imagens religiosas, a veneração das relíquias dos santos, e mesmo que a eles se rezasse. Isso provocou uma onda de revoltas em todo o império. Medidas financeiras de 725 já tinham provocado resistência, principalmente nas províncias italianas do império, que nisto secundaram a oposição do Pontífice romano ao imperador. Quando foi publicado o edito sobre as imagens, a insurreição foi geral.

Começou então em todo o império a guerra contra as imagens. Como uma horda de vândalos, os iconoclastas invadiram igrejas, conventos e até casas particulares, destruindo as imagens religiosas e massacrando quem as quisesse defender. O próprio imperador confiscou em seu proveito grande número de estátuas de ouro e prata, vasos preciosos que serviam ao culto dos santos, pedrarias que ornavam os mantos de várias imagens da Virgem, chegando a destruir um grande crucifixo de bronze que Constantino, o Grande, havia colocado no pórtico do palácio imperial.

Gregório II escreveu várias cartas enérgicas ao imperador iconoclasta, numa das quais diz: “O que são nossas igrejas senão obras das mãos dos homens, senão pedras, madeira, cal e estuque? O que nelas há de ornamento são as pinturas que nos representam as histórias de Jesus Cristo e dos Santos. Dizeis que adoramos as paredes, pedras e tábuas. Só a ignorância pode induzir-vos a crer em semelhantes coisas, pois formamos as imagens somente para recordar aqueles cujos nomes tais objetos levam, e cujas figuras representam para nós, a fim de levantar para o alto nosso ânimo grosseiro e pesado”.

O imperador ameaçou enviar homens a Roma para fazer em pedaços a imagem de São Pedro e levar o Papa encadeado para Constantinopla. O Pontífice contestou: “Sabei que os Papas são os medianeiros e pacificadores entre o Oriente e o Ocidente, e não temem vossas ameaças. A uma milha de Roma, na Campanha, estamos em segurança. Todos os povos do Ocidente olham com crescente reverência para aquele cuja imagem ameaçais derrubar. Quereis destruir São Pedro, ao qual todos os reinos do Ocidente consideram como Vigário de Deus na Terra. Enviai vossa gente. Somos inocentes do sangue que se derramará, o qual recairá sobre vossa cabeça”. 

Aludindo a uma frase contida na carta que o imperador lhe enviara – “Eu sou imperador e sacerdote” – o Papa insiste na clássica distinção entre os dois campos de atuação: “Os dogmas não dizem respeito aos imperadores, mas aos Pontífices, porque temos o espírito de Jesus Cristo. Uma é a constituição da Igreja, outra a do século”.

Apesar dos atentados de oficiais gregos contra sua vida, o Papa continuou opondo-se às taxas ilegais e à interferência imperial no domínio eclesiástico.

Presenciando essas desavenças entre o poder papal e o imperial, Liutprando, rei dos lombardos, creu ser o momento oportuno para estender seu domínio na Itália central. Dominou Ravena, as cidades da Pentápole, e avançou até Sutri, ameaçando o ducado de Roma. Mas as preces do Pontífice o fizeram parar. Como novo São Leão Magno, o Papa fez ver ao conquistador que a queda de Roma seria a queda da Cristandade; e que os sarracenos rejubilar-se-iam com esse desastre, ainda mais que o imperador de Bizâncio.

Liutprando entrou então na basílica do Vaticano, despojou-se dos trajes reais e os depositou sobre os túmulos dos Apóstolos, com sua coroa e sua espada; e fez a doação aos Apóstolos Pedro e Paulo, na pessoa do Papa, das possessões por ele tomadas. Era o início dos Estados Pontifícios, resolvendo uma necessidade de então, pois o Pai comum da Cristandade não podia, para defender a realização de sua missão, confiar inteiramente nos azares e inconstâncias de uma proteção alheia.

São Gregório II faleceu em 11 de fevereiro de 731 e foi sepultado na basílica vaticana. 

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