quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

14 de fevereiro - Quarta-feira de Cinzas


Convertei-vos a mim de todo o coração com jejuns ... Convertei-vos ao Senhor nosso Deus (Jo. 2, 12.13).

Anunciamos hoje a Quaresma com as palavras do Profeta Joel, e principiamo-la com toda a Igreja. Anunciamos a Quaresma do ano do Senhor com um rito que é ainda mais quente que as palavras do Profeta. A Igreja benze hoje as cinzas, tiradas dos ramos benzidos no domingo de Ramos do ano passado, para as impor a cada um de nós. Inclinemos portanto as nossas cabeças, e no sinal das cinzas reconheçamos toda a verdade das palavras dirigidas por Deus ao primeiro homem: Recorda-te que és pó e em pó te hás de tornar (Gn. 3, 19).

Sim, recordemos esta realidade sobretudo durante o tempo da Quaresma, no qual a liturgia da Igreja hoje nos introduz É “tempo forte”. Neste período as verdades divinas devem falar aos nossos corações com força especialíssima. Devem encontrar-se com a nossa experiência humana, com a nossa consciência. A primeira verdade, hoje proclamada, recorda ao homem a sua caducidade, recorda a morte que é para cada um de nós o fim da vida terrena. A Igreja insiste hoje muito nesta verdade, comprovada pela história de cada homem: Recordai-vos que “voltareis ao pó”. Recordai-vos que a vida na terra tem limite.

Porém a mensagem de quarta-feira de cinzas não se fica só nisto. Toda a liturgia de hoje faz notar: Recorda-te daquele limite; e ao mesmo tempo: Não te detenhas naquele limite. A morte é mistério. Pois bem: entremos no tempo especial em que toda a Igreja, mais que nunca, quer meditar sobre a morte como mistério do homem em Cristo. Cristo-Filho de Deus aceitou a morte como necessidade da natureza, como parte inevitável da sorte do homem na terra. Jesus Cristo aceitou a morte como consequência do pecado. Desde o princípio, se juntou a morte ao pecado: a morte do espírito humano por causa da desobediência a Deus, ao Espírito Santo. Jesus Cristo aceitou a morte em sinal de obediência a Deus, para restituir ao espírito humano o dom pleno do Espírito Santo. Jesus Cristo aceitou a morte para vencer o pecado. Jesus Cristo aceitou a morte para vencer a morte na essência mesma do seu perene mistério.

Por isso, a mensagem de quarta-feira de cinzas exprime-se com as palavras de São Paulo: Somos embaixadores de Cristo, e é Deus que vos exorta por nosso intermédio. Suplicamo-vos, pois, em nome de Cristo; Reconciliai-vos com Deus. Aquele que não havia conhecido pecado, Deus O fez pecado por nós, para que nos tornássemos n'Ele justiça de Deus (2 Cor. 5, 20-21). Colaboremos com Ele.

O significado de quarta-feira de cinzas não se limita a recordar-nos a morte e o pecado; é também enérgica chamada a vencermos o pecado, a convertermo-nos. Um e outro exprimem a colaboração com Cristo. Durante a Quaresma temos diante dos olhos toda a divina «economia» da graça e da salvação. Neste tempo da Quaresma pensemos em não receber em vão a graça de Deus (2 Cor. 6, 1).

O próprio Jesus Cristo é a mais sublime graça da Quaresma. É Ele mesmo que se apresenta diante de nós na admirável simplicidade do Evangelho: da sua palavra e das suas obras. Fala-nos com a força do seu Getsemani, do julgamento diante de Pilatos, da flagelação, da coroação de espinhos, do caminho do Calvário, da sua crucifixão, com tudo o que pode abalar o coração do homem.

A Igreja inteira deseja neste período quaresmal estar especialmente unida a Cristo, para que a sua pregação e o seu serviço sejam ainda mais fecundos. É este o tempo favorável, este é o dia da salvação (2 Cor. 6, 2).

Compenetrado da profundidade da liturgia de hoje, digo portanto a Vós, Cristo, eu, João Paulo II, Bispo de Roma, com. todos os meus Irmãos e Irmãs na única fé da Tua Igreja, com todos os Irmãos e Irmãs da imensa família humana: Compadecei-vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade, pela vossa grande misericórdia apagai os meus pecados ... Não queirais repelir-me da vossa presença e não retireis de mim o vosso espírito de santidade ... Criai em mim, ó Deus, um coração ,puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme ... Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me com espírito generoso (Sl. 50, 1.13.12.14).
Mostre-se o Senhor tomado de zelo pela sua terra e tenha compaixão do seu povo (Cfr. Jl. 2, 18).

Amem.

Homilia do Papa João Paulo II – Quarta-feira de Cinzas – 28 de fevereiro de 1979

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