“Se o grão de trigo,
caindo na terra, não morrer fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Jo 12,
24). Estamos hoje repletos de alegria ao darmos juntos graças a Deus pelo novo
fruto de santidade, que a terra croata oferece à Igreja na pessoa do mártir
Alojzije Stepinac, Arcebispo de Zagrábia e Cardeal da Santa Igreja Romana.
Com o seu sacrifício unido aos sofrimentos
de Cristo, os mártires ofereceram um testemunho extraordinário que, com o passar do
tempo, nada perde da sua eloquência, mas continua a irradiar luz e a infundir
esperança. Ao lado deles muitos outros pastores e simples fiéis, homens e mulheres,
também confirmaram com o sangue a sua adesão a Cristo. Eles fazem parte da
multidão daqueles que, envolvidos em vestes brancas e com palmas nas mãos,
estão agora diante do trono do Cordeiro (cf. Ap 7, 9).
O Beato Alojzije Stepinac não derramou o sangue
no sentido estrito da palavra. A sua morte foi causada pelos longos sofrimentos
a que o submeteram: os últimos 15 anos da sua vida foram um contínuo suceder-se
de vexações, no meio das quais expôs com coragem a própria vida, para
testemunhar o Evangelho e a unidade da Igreja. Para usar as próprias palavras
do Salmo, ele pôs nas mãos de Deus a sua própria vida (cf. Sl 16[15],
5).
“Se alguém quer servir-Me, que Me siga” (Jo 12,
24.26). O Bom Pastor foi para o Beato Stepinac o único Mestre: no Seu exemplo
ele inspirou a própria conduta até ao fim, oferecendo a vida pelo rebanho que
lhe tinha sido confiado num período particularmente difícil da história.
Na pessoa do novo Beato sintetiza-se, por
assim dizer, a inteira tragédia que atingiu as populações croatas e a Europa no
decurso deste século, marcado pelos três grandes males do fascismo, do nazismo
e do comunismo. Agora, ele está na glória do céu, circundado por todos aqueles
que, como ele, combateram o bom combate, temperando a sua fé no cadinho do
sofrimento. Hoje olhamos para ele com confiança, invocando a sua intercessão.
São significativas, a respeito disso, as
palavras que o novo Beato pronunciava em 1943, durante a segunda guerra
mundial, quando a Europa se encontrava amordaçada por uma violência inaudita:
«Qual é o sistema que a Igreja Católica hoje apoia, enquanto o mundo inteiro
está a combater por uma nova ordem mundial? Nós, ao condenarmos todas as
injustiças, todos os massacres dos inocentes, todos os incêndios das aldeias
tranquilas, cada destruição dos afãs dos pobres [...] respondemos assim: a
Igreja apoia aquele sistema que tem tantos anos quantos os Dez Mandamentos de
Deus. Somos favoráveis ao sistema que não foi escrito em tábuas corruptíveis,
mas inscrito com o dedo do Deus vivo nas consciências dos homens» (Homilias,
Discursos, Mensagens, Zagrábia 1996, pp. 179-180).
“Pai, glorifica o Teu nome!” (Jo 12,
24.28). Com o seu itinerário humano e espiritual, o Beato Alojzije Stepinac
ofereceu ao seu povo uma espécie de bússola, com a qual se podia orientar. Eis
os seus pontos cardeais: a fé em Deus, o respeito pelo homem, o amor para com
todos levado até ao perdão e a unidade com a Igreja guiada pelo Sucessor de
Pedro. Ele sabia bem que não se pode minimizar a verdade, porque esta não é
mercadoria de intercâmbio. Por este motivo, enfrentou o sofrimento em vez de
faltar à palavra dada a Cristo e à Igreja.
Neste indómito testemunho ele não esteve
sozinho. Teve ao seu lado outras pessoas corajosas que, para conservarem a
unidade da Igreja e para lhe defender a liberdade, aceitaram pagar como ele um
pesado tributo de cárcere, de sevícias e até mesmo de sangue. A esta plêiade de
almas generosas - Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, fiéis leigos -
dirigem-se hoje a nossa admiração e o nosso reconhecimento. Escutemos o seu
vigoroso convite ao perdão e à reconciliação. Perdoar e reconciliar-se, quer
dizer purificar a memória do ódio, dos rancores, da vontade de vingança;
significa reconhecer como irmão também aquele que nos fez algum mal; quer dizer
não se deixar vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem (cf. Rm 12,
21).
Papa João Paulo II – Homilia de
Beatificação – 03 de outubro de 1998
O
Cardeal Stepinac, Arcebispo de Zagabria a partir de 1937, viveu inicialmente o
período da II Guerra Mundial e depois, em 1946, sob o regime comunista de Tito,
foi preso, processado e condenado. Morreu em prisão domiciliar em 1960.
Durante
a sua vida, o Cardeal Stepinac se ocupava em salvar vidas, como testemunha,
entre outros, um documento divulgado internamente na Igreja. No texto, lê-se
que o purpurado convidava os sacerdotes a acolher, sem pedir-lhes nenhuma
particular instrução religiosa, as pessoas de religião hebraica ou de confissão
ortodoxa em perigo de morte e intencionadas a converterem-se ao catolicismo,
para salvar sua vida.
“O compromisso e o dever do cristão é em
primeiro lugar o de salvar a vida dos homens. Quando tiver passado este tempo
de loucura – escrevia – permanecerão na nossa Igreja aqueles que tiverem se
convertido por convicção, enquanto os outros, passado o perigo, retornarão à
sua fé”.
“Soube
resistir a todo totalitarismo, tornando-se no tempo da ditadura nazista e
fascista defensor dos judeus, dos ortodoxos e de todos os perseguidos, e
depois, no período do comunismo, “advogado” de seus fiéis, especialmente dos
tantos sacerdotes perseguidos e mortos”. Papa Bento XVI
Alojzije
Stepinac nasceu em 8 de maio de 1898, uma pequena cidade na Croácia chamada
Krasic. Seus pais,
humildes camponeses, educam-no na verdade e no amor da vida. Quando ele ainda era jovem, decide
consagrar sua vida ao serviço de Deus. Os tempos não foram fáceis. A Europa passou pela Primeira
Guerra Mundial e todos conheceram a fome, a desolação e a perda de valores
fundamentais.
Em 26 de outubro de 1930, aos 32 anos de idade, foi
ordenado sacerdote em Roma. Apenas 4 anos depois, o arcebispo é consagrado, com
direito a sucessão à cidade de Zagreb. Assim, tornou-se o arcebispo mais jovem de toda a Igreja
no mundo. Essa
posição assumiu por seu próprio mérito. Ele tinha 36 anos, mas se destacou por defender os
direitos de todos os que sofreram, independentemente da religião, país ou raça.
Ele também se destacou como defensor de seu país,
atacado por todas as frentes e todos os setores. Durante a sangrenta Segunda
Guerra Mundial, protegeu os perseguidos e os necessitados, levantando a voz
quando havia uma injustiça, sem se preocupar com as consequências.
Em 1945, após a II Guerra Mundial, sua nação foi
incorporada à força na Iugoslávia, abolindo todos os direitos humanos e
forçando-os a renunciar a suas crenças.
Assim, começou uma nova batalha pelo jovem arcebispo,
que viu o governo torturar seus sacerdotes, maltratar seus irmãos e destruir as
escolas católicas.
Para dominar este povo croata, fiel à sua religião, o
Marechal Tito, propõe a Stepinac, que gozava de grande prestígio, separar-se de
Roma e formar uma nova igreja. Ele pede que ele forme a "Igreja Nacional",
dependente da autoridade comunista, dando-lhe poderes e riquezas. Eles não conseguiram
quebrá-lo ou alicia-lo.
Então o acusaram de ser um colaborador nazista e o
submeteram a um julgamento polêmico no qual sua inocência foi comprovada, mas
com leis criadas especialmente para esse processo, ele foi condenado a 16 anos
de trabalho forçado.
A resposta de Stepinac foi: "Eu sei o que é o meu
dever, com a Divina Graça eu o cumprirei até o fim, sem ódio contra ninguém,
mas também sem medo de ninguém".
A imprensa mundial condenou os juízes e o governo. Como provar que é o culpado
que merece elogios universais? Mais tarde, soube-se de várias testemunhas que foram
encontradas torturadas e mortas. Então pressionaram sua mãe para silenciá-la,
torturando-a e confinando-a em um campo de concentração. Um dos irmãos do arcebispo teve
um destino semelhante.
Em 29 de novembro de 1951, o papa Pio XII o nomeou
Cardeal da Igreja, embora ele estivesse na prisão. Enquanto continuava a
defender o seu país e os direitos dos pobres, e como eles não podiam
executá-lo, eles o submeteram a uma morte lenta e dolorosa. Eles instalaram algumas
máquinas de raios-x para irradiá-la todas as noites ao lado de sua cela, o condenando
a uma morte dolorosa.
Seguindo o modelo de Cristo, ele suportou todo o seu
martírio sem ódio, oferecendo a sua dor para o seu povo. Ele morreu em 10 de fevereiro
de 1960. Suas últimas palavras foram "Fiat voluntas tua".
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