Na
segunda Leitura da liturgia, ouvimos: «A palavra de Deus é viva... penetra até
dividir a alma» (Hb 4, 12). Emília d’Hooghvorst acolheu esta palavra no
mais íntimo de si mesma. Aprendendo a submeter-se à vontade de Deus, realiza em
primeiro lugar a missão de todo o casal cristão: tornar o seu lar «um santuário
doméstico da Igreja» (Apostolicam actuositatem, 11). Quando se tornou viúva e
animada pelo desejo de participar no mistério pascal, Madre Maria de Jesus fundou
a Sociedade de Maria Reparadora. Pela sua vida de oração, ela recorda-nos que,
na adoração eucarística, onde bebemos como na fonte da vida que é Cristo,
encontramos a força para a missão quotidiana. Que cada um de nós, qualquer que
seja o seu estado de vida, saiba «escutar a voz de Cristo», «que deve ser a
regra da nossa existência», como ela gostava de dizer!
Esta beatificação é também para as religiosas
de Maria Reparadora um encorajamento a prosseguirem o seu apostolado, com uma
renovada atenção aos homens deste tempo. Segundo o seu carisma próprio, elas
responderão à missão: despertar a fé entre os seus contemporâneos e ajudá-los
no seu crescimento espiritual, participando assim ativamente na edificação da
Igreja.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 12 de outubro de 1997
Emília
d’Oultremont d’Hooghvorst nasceu a 11 de outubro de 1818, em Wégimont (Liége,
Bélgica), numa família nobre e impregnada dos valores cristãos. Era filha do
Conde Emilio d’Oultremont e da Condessa Maria de Lierneux de Presles. Recebeu
uma sólida formação humanística e religiosa, que resultou em um caráter
enérgico, seja no plano físico (tornou-se uma ótima atleta) seja no plano
moral. Coragem e energia foram dois traços fundamentais da sua personalidade.
A
devoção ao Sagrado Coração, à Virgem Maria e sobretudo à Eucaristia, se
enraizaram no sua alma juvenil e caracterizaram desde então o desenvolvimento
de sua espiritualidade. A personalidade da jovem desenvolveu-se de forma serena
e equilibrada, enriquecida com os seus extraordinários dons humanos e
espirituais.
Precisamente
durante uma cerimônia num palácio em Roma, ela teve uma inspiração e pronunciou
estas palavras: “Mestre, só Tu na minha vida!”, e pensou em consagrar-se ao
Senhor. Diversas foram as propostas de casamento, mas quando conheceu o Conde
Victor van der Linden, “um jovem de virtude sólida e de piedade excepcional” -
como ela mesma diria - Emília reconheceu que o Senhor a queria conduzir pelo
caminho do matrimônio, o qual foi celebrado a 19 de outubro de 1837.
Viveu
em plenitude a vida de uma jovem e feliz esposa, mãe de quatro filhos: Adriano,
Edmundo, Olímpia e Margarida. A partir daí Emília encontrou nos Padres Jesuítas
os guias espirituais, que a compreenderam e orientaram no seu caminho
espiritual.
De
1839 a 1846, Emília permaneceu em Roma e foi brindada com experiências
interiores que a dirigiram sempre mais a um amor total a Deus. Aos 24 anos,
quando já era mãe de dois filhos, enquanto rezava na capela de Santo Inácio de
Loyola, perto da Igreja de Jesus, em Roma, teve uma visão do santo fundador dos
Jesuítas que, com a Constituição da Ordem nas mãos, lhe assegurou que um dia
haveria de seguir as suas Regras.
Em
10 de agosto de 1847 o seu esposo faleceu vítima de malária. Emília viveu esta
prova com fé e prosseguiu com coragem a sua missão de mãe e educadora;
consagrou-se a Deus com o voto de castidade, dedicando-se ainda mais às obras
de caridade. Transferiu-se para Paris, a fim de seguir a formação dos seus
filhos no Colégio dos Jesuítas.
Quando
a 8 de dezembro de 1854 o Papa Pio IX proclamava a Imaculada Conceição da Mãe
de Deus, Emília pedia a Maria que lhe inspirasse o que era mais agradável a
Deus. Durante uma longa e intensa oração na capela do castelo da família lhe foi
revelado por Nossa Senhora o que Deus esperava dela: a fundação de uma
Congregação destinada à reparação dos ultrajes cometidos contra o Santíssimo
Sacramento.
Com
algumas jovens de diversas nacionalidades, iniciou no ano seguinte a vida em
comum, mas o início oficial da nova família religiosa teve lugar em 1º de maio
de 1857, em Estrasburgo, com o nome de Instituto de Maria Reparadora, dia da
vestidura de Madre Maria de Jesus (este era o seu nome religioso) e das suas
companheiras, guiadas pelo espírito de Santo Inácio.
Madre
Maria de Jesus acompanhou com solicitude a opção dos seus dois filhos de
seguirem o caminho matrimonial, e alegrou-se com a decisão das suas filhas de a
seguirem na vida religiosa, na mesma Congregação por ela fundada.
O
espírito inaciano foi a alma que animou todo o seu zelo apostólico, a tal ponto
que tomou decisões arriscadas, como a resposta ao chamado dos Jesuítas para que
constituísse uma casa na Índia, após apenas dois anos de fundação, a fim de as
religiosas se dedicarem à promoção humana e espiritual das jovens relegadas a
uma situação de inferioridade devido à divisão das castas. Foi o lançamento
definitivo de uma expansão por vários países da Europa.
Os
últimos anos de Madre Maria de Jesus foram repletos de sofrimentos de diversos
gêneros: lutos familiares, preocupação pelos seus filhos, separações e
dificuldades no seio da Congregação.
Com
a saúde muito debilitada, quando se encontrava de passagem por Florença, de
retorno à Bélgica, estando na casa do filho Adriano, Madre Maria de Jesus
faleceu, no dia 22 de fevereiro de 1878, aos 59 anos de idade. Seu túmulo se
encontra na Igreja da Santa Cruz e São Bartolomeu na Via Lucchesi, em Roma.
A
heroicidade de suas virtudes foi reconhecida em 23 de dezembro de 1993 e foi
beatificada em Roma no dia 12 de outubro de 1997 pelo papa João Paulo II.
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