No
dia 13 de junho de 1999, João Paulo II beatificou em Varsóvia, durante sua
sétima viagem apostólica a Polônia, 108 mártires vítimas da perseguição contra
a Igreja polonesa durante a ocupação alemã nazista de 1939 a 1945.
O
ódio racial forjado pelo nazismo provocou mais de cinco milhões de vítimas
entre a população civil polonesa, muitos deles eram religiosos, sacerdotes,
bispos e leigos católicos.
Compilando
informações e testemunhos foi possível abrir vários processos de beatificação.
O primeiro foi aberto pelo bispo de Wloclawek, onde um grande número de vítimas
padeceu o martírio. A este processo confluíram outros e o número de Servos de
Deus, que inicialmente era de 92, paulatinamente chegou a 108.
Dentre
estes nomes se destaca no dia de hoje o da religiosa professa dominicana Maria Júlia
Rodzinska, que nasceu em 16 de março de 1899 em Nawojowa, Malopolskie, Polônia
e que na pia batismal recebeu o nome de Estanislava Maria José. Ela cresceu em
um ambiente familiar muito religioso, seus pais eram ativos na paróquia,
colaborando nas missas e no coral.
Com
oito anos de idade perde sua mãe e seu pai morre quando ela completa dez anos.
Ficando órfã, ela e sua irmã foram acolhidas pelas irmãs dominicanas.
Iingressou
na Ordem Dominicana no ano de 1916 e realizou sua profissão solene em 5 de
agosto de 1924.
Durante
vinte e dois anos desempenhou o papel de educadora, sendo muito próxima de seus
alunos, seja como babá do orfanato ou como professora de música, bordado e
outras disciplinas. Ficando então conhecida como a “mãe dos órfãos”, além disto, era também chamada “a apóstola do Rosário”.
Com
a invasão da Polônia pelos nazistas durante a Segunda Guerra, Irmã Júlia não
cessou seus trabalhos, mas o manteve, mesmo nas situações mais cruéis. Em 1940
as professoras religiosas foram forçadas a abandonar seus hábitos e substituídas
por professores não religiosos, para não “contaminar” as crianças com religião.
Assim,
na clandestinidade, Irmã Júlia continuou ensinando religião às crianças
polonesas, e organizando planos de apoio aos sacerdotes que haviam sido
despojados de todos os recursos.
Foi
aprisionada em 12 de julho de 1943, sofreu no campo de concentração de Lukiszki,
Polônia, onde durante um ano esteve em uma solitária em uma cela tão estreita
que não podia sentar-se, passando frio, calor, falta de ar. Foi então
transferida para Stutthof em julho de 1944, onde foi hospitalizada na área
judaica. Ali sofreu inúmeras humilhações como ter sido despida para desfilar
diante dos soldados e outros homens do campo. No pavilhão onde ela ficou,
milhares de judeus morriam de fome e sede, vivendo na sujeira com insetos e o
medo constante de uma execução sumária.
No
meio desse pesadelo Irmã Júlia brilhou como luz na escuridão. Organizava grupos
de oração, mesmo sendo proibidos, ajudava a todos que encontrava, confortando e
consolando, embora estivesse sofrendo o mesmo que todos os outros.
O
ponto culminante de seu heroísmo de amor foi a sua morte em 20 de fevereiro de
1945, na idade de quarenta e cinco anos, depois de haver contraído tifo,
enfermidade que assolava o campo de concentração, pois não tinha as mais
elementares condições higiênicas. Ela contraiu a doença enquanto consolava e
apoiava e cuidava das prisioneiras judias já contagiadas e isoladas. Com seu
amor e dedicação não permitiu que morressem abandonadas e com seu cuidado
amoroso conseguiu, ainda, salvar algumas mulheres.
A
Beata Júlia Rodzinska é a única religiosa dominicana incluída neste numeroso
grupo de mártires. Seu processo de beatificação foi iniciado em 10 de março de
1989 e em 24 de abril de1994 a Congregação para as Causas dos Santos deu
como número de protocolo o 1844.
O
Papa João Paulo II aprovou seu martírio e a declarou digna de veneração
-"Venerável" – em 26 de março de 1999. Finalmente, a declarou beata
em 13 de junho do mesmo ano, junto com os outros cento e sete mártires. Na sua
homilia declarou:
“Precisamente hoje estamos a celebrar a
vitória daqueles que, no nosso tempo, deram a vida por Cristo, deram a vida
temporal para a possuir pelos séculos na sua glória. Trata-se de uma vitória
particular, porque é compartilhada pelos representantes do clero e dos leigos,
jovens e idosos, pessoas de várias classes e posições. Há sacerdotes diocesanos
e religiosos, que morreram porque não quiseram abandonar o seu ministério, e
aqueles que morreram servindo os companheiros de prisão, doentes de tifo; há
pessoas que foram torturadas até à morte pela defesa dos judeus. No grupo dos
Beatos existem irmãos religiosos e irmãs, que perseveraram no serviço da
caridade e na oferta dos seus tormentos pelo próximo. Entre estes Beatos
mártires contam-se também leigos. Há cinco leigos jovens, formados no oratório
salesiano; um ativista zeloso da Ação Católica, um catequista leigo, torturado
até à morte pelo seu serviço, e uma mulher heroica que deu livremente a sua
vida em permuta daquela da sua nora, que esperava um filho. Hoje estes Beatos
mártires são inscritos na história da santidade do Povo de Deus, peregrinante
em terra polaca há mais de mil anos.
Se
hoje nos alegramos pela beatificação de 108 Mártires clérigos e leigos,
fazemo-lo antes de mais porque eles são o testemunho da vitória de Cristo,
o dom que restitui a esperança. Enquanto realizamos este ato solene, num certo
sentido revive em nós a certeza de que, independentemente das circunstâncias,
podemos obter a vitória plena em tudo, graças Àquele que nos amou (cf. Rm 8,
37). Os Beatos mártires bradam aos nossos corações: crede que Deus é amor! Acreditai n'Ele, no bem e no mal! Despertai a
esperança em vós! Que esta dê em vós o fruto da fidelidade a Deus em cada
provação!”
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