«“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!”
E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua»
(Jo 19, 26-27)
E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua»
(Jo 19, 26-27)
Queridos irmãos e irmãs!
O serviço da Igreja aos doentes e a quantos
cuidam deles deve continuar, com vigor sempre renovado, por fidelidade ao
mandato do Senhor (cf. Lc 9, 2-6, Mt 10, 1-8; Mc 6, 7-13) e seguindo o exemplo
muito eloquente do seu Fundador e Mestre.
Este ano, o tema do Dia do Doente é tomado
das palavras que Jesus, do alto da cruz, dirige a Maria, sua mãe, e a João:
«“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!” E, desde aquela hora, o discípulo
acolheu-A como sua» (Jo 19, 26-27).
1. Estas palavras do Senhor iluminam
profundamente o mistério da Cruz. Esta não representa uma tragédia sem
esperança, mas o lugar onde Jesus mostra a sua glória e deixa amorosamente as
suas últimas vontades, que se tornam regras constitutivas da comunidade cristã
e da vida de cada discípulo.
Em primeiro lugar, as palavras de Jesus dão
origem à vocação materna de Maria em relação a toda a humanidade. Será, de uma
forma particular, a mãe dos discípulos do seu Filho e cuidará deles e do seu
caminho. E, como sabemos, o cuidado materno dum filho ou duma filha engloba
tanto os aspetos materiais como os espirituais da sua educação.
O sofrimento indescritível da cruz trespassa
a alma de Maria (cf. Lc 2, 35), mas não a paralisa. Pelo contrário, lá começa
para Ela um novo caminho de doação, como Mãe do Senhor. Na cruz, Jesus
preocupa-Se com a Igreja e toda a humanidade, e Maria é chamada a partilhar
esta mesma preocupação. Os Atos dos Apóstolos, ao descrever a grande efusão do
Espírito Santo no Pentecostes, mostram-nos que Maria começou a desempenhar a
sua tarefa na primeira comunidade da Igreja. Uma tarefa que não mais terá fim.
2. O discípulo João, o amado, representa a
Igreja, povo messiânico. Ele deve reconhecer Maria como sua própria mãe. E,
neste reconhecimento, é chamado a recebê-La, contemplar n’Ela o modelo do
discipulado e também a vocação materna que Jesus Lhe confiou incluindo as
preocupações e os projetos que isso implica: a Mãe que ama e gera filhos
capazes de amar segundo o mandamento de Jesus. Por isso a vocação materna de
Maria, a vocação de cuidar dos seus filhos, passa para João e toda a Igreja.
Toda a comunidade dos discípulos fica envolvida na vocação materna de Maria.
3. João, como discípulo que partilhou tudo
com Jesus, sabe que o Mestre quer conduzir todos os homens ao encontro do Pai.
Pode testemunhar que Jesus encontrou muitas pessoas doentes no espírito, porque
cheias de orgulho (cf. Jo 8, 31-39), e doentes no corpo (cf. Jo 5, 6). A todos,
concedeu misericórdia e perdão e, aos doentes, também a cura física, sinal da
vida abundante do Reino, onde se enxugam todas as lágrimas. Como Maria, os
discípulos são chamados a cuidar uns dos outros; mas não só: eles sabem que o
Coração de Jesus está aberto a todos, sem exclusão. A todos deve ser anunciado
o Evangelho do Reino, e a caridade dos cristãos deve estender-se a todos
quantos passam necessidade, simplesmente porque são pessoas, filhos de Deus.
4. Esta vocação materna da Igreja para com as
pessoas necessitadas e os doentes concretizou-se, ao longo da sua história
bimilenária, numa série riquíssima de iniciativas a favor dos enfermos. Esta
história de dedicação não deve ser esquecida. Continua ainda hoje, em todo o
mundo. Nos países onde existem sistemas de saúde pública suficientes, o
trabalho das congregações católicas, das dioceses e dos seus hospitais, além de
fornecer cuidados médicos de qualidade, procura colocar a pessoa humana no
centro do processo terapêutico e desenvolve a pesquisa científica no respeito
da vida e dos valores morais cristãos. Nos países onde os sistemas de saúde são
insuficientes ou inexistentes, a Igreja esforça-se por oferecer às pessoas o
máximo possível de cuidados da saúde, por eliminar a mortalidade infantil e
debelar algumas pandemias. Em todo o lado, ela procura cuidar, mesmo quando não
é capaz de curar. A imagem da Igreja como «hospital de campo», acolhedora de
todos os que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta, porque,
nalgumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das dioceses são os
únicos que fornecem os cuidados necessários à população.
5. A memória da longa história de serviço aos
doentes é motivo de alegria para a comunidade cristã e, de modo particular,
para aqueles que atualmente desempenham esse serviço. Mas é preciso olhar o
passado sobretudo para com ele nos enriquecermos. Dele devemos aprender: a
generosidade até ao sacrifício total de muitos fundadores de institutos ao
serviço dos enfermos; a criatividade, sugerida pela caridade, de muitas
iniciativas empreendidas ao longo dos séculos; o empenho na pesquisa
científica, para oferecer aos doentes cuidados inovadores e fiáveis. Esta
herança do passado ajuda a projetar bem o futuro. Por exemplo, a preservar os
hospitais católicos do risco duma mentalidade empresarial, que em todo o mundo
quer colocar o tratamento da saúde no contexto do mercado, acabando por
descartar os pobres. Ao contrário, a inteligência organizativa e a caridade
exigem que a pessoa do doente seja respeitada na sua dignidade e sempre
colocada no centro do processo de tratamento. Estas orientações devem ser
assumidas também pelos cristãos que trabalham nas estruturas públicas, onde são
chamados a dar, através do seu serviço, bom testemunho do Evangelho.
6. Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu
poder de curar: «Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: (…) hão de
impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados» (Mc 16, 17.18). Nos Atos dos
Apóstolos, lemos a descrição das curas realizadas por Pedro (cf. At 3, 4-8) e
por Paulo (cf. At 14, 8-11). Ao dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem
ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão
do seu Senhor. A pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever
necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado começando
pelas comunidades paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não
podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias
acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crónicos ou gravemente
incapacitados. Os cuidados prestados em família são um testemunho
extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o
reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto, médicos e enfermeiros,
sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se
empenham no cuidado dos doentes, participam nesta missão eclesial. É uma
responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada
um.
7. A Maria, Mãe da ternura, queremos confiar
todos os doentes no corpo e no espírito, para que os sustente na esperança. A
Ela pedimos também que nos ajude a ser acolhedores para com os irmãos enfermos.
A Igreja sabe que precisa duma graça especial para conseguir fazer frente ao
seu serviço evangélico de cuidar dos doentes. Por isso, unamo-nos todos numa
súplica insistente elevada à Mãe do Senhor, para que cada membro da Igreja viva
com amor a vocação ao serviço da vida e da saúde. A Virgem Maria interceda por
este XXVI Dia Mundial do Doente, ajude as pessoas doentes a viverem o seu
sofrimento em comunhão com o Senhor Jesus, e ampare aqueles que cuidam delas. A
todos, doentes, agentes de saúde e voluntários, concedo de coração a Bênção
Apostólica.
FRANCISCO
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