A perseguição religiosa na
Espanha no século passado deixou atrás de si um rastro de milhares de vítimas
indefesas e inocentes. Ao mesmo tempo, fez emergir a coragem de milhares de
mártires, homens e mulheres, cujo sangue tornou-se seiva vital para o dinamismo
da Igreja espanhola hoje.
Entre estes mártires, os 109
claretianos que reagiram às perseguições com a eficaz arma da caridade e do
perdão. Àqueles que queriam aniquilar a presença cristã na Espanha, os mártires
responderam perdoando, rezando e dizendo a alta voz: “Não temos medo!”.
Eles
foram beatificados em 21 de outubro de 2017, na Igreja da Sagrada Família em
Barcelona.
Os 109 Mártires Claretianos provinham
das comunidades claretianas de Barcelona (8), Castro Urdiales (3), Cervera-Mas
Claret (60), Sabadell (8), Vic-Sallent (15) e Valencia (4). À frente do grupo
de mártires figuravam três nomes: Mateu Casals (sacerdote), Teófilo Casajús
(estudante) e Ferran Saperas (irmão). Eles representam os 49 sacerdotes, 31
irmãos e 29 estudantes que foram beatificados. Catalães – em sua maioria –,
navarros, aragoneses, castelhanos… todos compartilham a comum profissão
religiosa e um grande amor por Jesus Cristo e pela Igreja. Salvo dois
claretianos que morreram em 1937, todos foram martirizados nos últimos meses do
ano de 1936, durante a perseguição religiosa ocorrida durante a Guerra Civil
Espanhola.
Os testemunhos sobre a
maneira de enfrentar a morte são diversos. O Padre Júlio Leache, navarro de 27
anos, assassinado na chácara Mas Claret próxima à comunidade de Cervera
(Lleida), nos esclarece sobre os verdadeiros motivos do martírio: “Se
eles desejam nos matar, quem dera fosse apenas por Deus, isto é, que nos
matassem celebrando, administrando os Sacramentos ou rezando. Agora não nos
matem por razões humanas ou políticas…Se nos matam porque acreditam que somos
fascistas, não há graça ou mérito nisso visto que há fascistas de todas as
cores. Agora se nos matam por celebrarmos Missa e por sermos católicos, isso é
digno de mérito frente a Deus, então somos mártires”.
O Padre Jaime Payàs,
martirizado em Sallent (Barcelona), dizia que morriam sem ódio, perdoando aos
seus verdugos: “Perdoo todos que me querem mal, dou-lhes um abraço de amizade; não
guardo rancor de ninguém, nem por aqueles que me perseguiram em casa como se eu
fosse um cão; também Vos trataram assim”.
O Padre Emili Bover,
assassinado no cemitério de Cervera, no dia 20 de agosto, exclamou antes de
morrer: “Eu perdoo a todos de coração por amor de Deus”.
Não é fácil entender hoje a impressionante
força dos testemunhos que nos deixaram. Na carta que o Superior Geral dos
Claretianos, o indiano Mathew Vattamattam, publicou em razão da beatificação,
escreveu: “Em tempos líquidos como os
nossos, as atitudes sólidas nos desarmam e nos estimulam. Com a graça de Deus
sempre é possível sermos fieis a Jesus por mais difíceis que sejam as
circunstâncias. Somos chamados a dar corajosos testemunhos em meio a provações
e contradições”. E, mais adiante, acrescenta: “Uma beatificação é sempre uma celebração da fé e do perdão, não um
juízo ou uma vingança. Por isso, tem sempre sentido, não é um ajuste de contas
com o passado, mas sim uma aposta no futuro. Podemos viver juntos apenas quando
aprendermos a nos respeitar e a perdoar”.
O lema escolhido para a
beatificação foi: ‘Missionários até o
fim’. A palavra - ‘Missionários’
- resume a identidade carismática dos Claretianos. A expressão - ‘até o fim’- escrita em letras
vermelhas, simboliza o sangue derramado, evoca uma vida missionária levada até
as suas últimas consequências: dar a vida por Cristo tal como Ele fez por nós
(cf. Jo 13,1).
O Cardeal Angelo Amato
nos fala desta beatificação:
O sacrifício de suas vidas é
a semente de um novo cristianismo, mais forte, mais consciente da verdade do
Evangelho, que ensina a amar os amigos e também os inimigos, porque a única
vingança do cristão é o perdão dos inimigos.
A
Igreja celebra os mártires, não por vingança, mas para repropor hoje, como
ontem e como amanhã, a eterna lei cristã da caridade sem limites. O
cristianismo propõe uma cultura de paz e de fraternidade e não de guerra e de
divisão. O cristianismo não produz as flores do mal, mas as flores do bem.
Trata-se
de 109 testemunhas heroicas do Evangelho, mortos entre 1936 e 1937 em várias
cidades espanholas: Barcelona, Sabadeli, Vic, Cervera, Valencia, Santander. O
líder é Padre Mateo Casals Mas, que pertencia à comunidade de Sabadeli, próxima
à Barcelona. Os Padres estavam sempre disponíveis a ajudar os necessitados e
sempre prontos para administrar a Palavra de Deus e os Sacramentos, segundo o
exemplo e o carisma do Fundador, Santo Antônio Maria Claret. Eram, portanto,
conhecidos e bem quistos pelo povo, pela sua simplicidade, amabilidade, generosidade
e disponibilidade!
Em
julho de 1936, quando começou a revolução, o instituto e a igreja foram
incendiados e os missionários abrigaram-se em casas de conhecidos. Mas isto não
foi o suficiente para salvá-los. Padre Mateo Casals Mas foi preso, aprisionado
e fuzilado no amanhecer do dia 5 de setembro de 1936. A única culpa que tinha
era a de ser sacerdote católico. No caminho que o levou à execução, diversas
vezes repetiu em alta voz: “Viva Cristo Rei! Viva o Sagrado Coração de Jesus!”.
Os outros confrades mártires foram mortos da mesma forma.
Os
mártires claretianos tinham consciência da eventualidade das perseguições e da
morte, pelas próprias palavras de Jesus: “Bem aventurados quando vos
insultarem, vos perseguirem e, mentindo, dirão toda espécie de mal contra vós,
por causa de mim”; “Quem não toma a sua Cruz e não me segue, não é digno de
mim. Quem perdeu a sua vida por minha causa, a encontrará”. E não tiveram medo.
Estavam prontos também ao sacrifício supremo para gritar ao mundo, mais uma
vez, que o bem vence o mal, que o homem – como disse o poeta Dante – foi criado
“não para viver como brutos, mas para seguir virtude e conhecimento”.
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