A santificação é um caminho comunitário, que se deve
fazer dois a dois. Reflexo disto temo-lo em algumas comunidades santas. Em
várias ocasiões, a Igreja canonizou comunidades inteiras, que viveram
heroicamente o Evangelho ou ofereceram a Deus a vida de todos os seus membros.
Pensemos, por exemplo, nos sete Santos Fundadores da Ordem dos Servos de Maria,
nas sete Beatas religiosas do primeiro mosteiro da Visitação de Madrid, em São
Paulo Míki e companheiros mártires no Japão, em Santo André Taegon e
companheiros mártires na Coreia, em São Roque González, Afonso Rodríguez e
companheiros mártires na América do Sul. E recordemos também o testemunho
recente dos monges trapistas de Tibhirine (Argélia), que se prepararam juntos
para o martírio. De igual modo, há muitos casais santos, onde cada cônjuge foi
um instrumento para a santificação do outro. Viver e trabalhar com outros é,
sem dúvida, um caminho de crescimento espiritual.
A comunidade é chamada a criar
aquele espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor
ressuscitado. Partilhar a Palavra e celebrar juntos a Eucaristia torna-nos
mais irmãos e vai nos transformando pouco a pouco em comunidade santa e
missionária. Isto dá origem também a autênticas experiências místicas vividas
em comunidade, como no caso de São Bento e Santa Escolástica, ou daquele
sublime encontro espiritual que viveram juntos Santo Agostinho e sua mãe Santa
Mônica: “próximo já do dia em que ela ia sair desta vida – dia que Vós
conhecíeis e nós ignorávamos – sucedeu, segundo creio, por disposição dos
vossos secretos desígnios, que nos encontrássemos sozinhos, ela e eu, apoiados
a uma janela cuja vista dava para o jardim interior da casa onde morávamos (…).
Os lábios do nosso coração abriam-se ansiosos para a corrente celeste da vossa
fonte, a fonte da Vida, que está em Vós (...). Enquanto assim falávamos,
anelantes pela Sabedoria, atingimo-la momentaneamente num ímpeto completo do
nosso coração (...) E se a vida eterna fosse semelhante a este vislumbre
intuitivo?”
Contudo estas experiências não são o mais frequente, nem
o mais importante. A vida comunitária, na família, na paróquia, na comunidade
religiosa ou em qualquer outra, compõe-se de tantos pequenos detalhes diários.
Assim acontecia na comunidade santa formada por Jesus, Maria e José, onde se
refletiu de forma paradigmática a beleza da comunhão trinitária. E o mesmo
sucedia na vida comunitária que Jesus transcorreu com os seus discípulos e o
povo simples.
Lembremo-nos como Jesus convidava os seus discípulos a
prestarem atenção aos detalhes:
o pequeno detalhe do vinho que
estava a acabar numa festa;
o pequeno detalhe duma ovelha que faltava;
o pequeno detalhe da viúva que ofereceu as duas moedinhas que tinha;
o pequeno detalhe de ter azeite de reserva para as lâmpadas, caso o noivo se
demore;
o pequeno detalhe de pedir aos discípulos que vissem quantos pães tinham;
o pequeno detalhe de ter a fogueira acesa e um peixe na grelha enquanto
esperava os discípulos ao amanhecer.
A comunidade, que guarda os pequenos detalhes do amor e
na qual os membros cuidam uns dos outros e formam um espaço aberto e
evangelizador, é lugar da presença do Ressuscitado que a vai santificando
segundo o projeto do Pai.
Contra a tendência para o individualismo consumista que
acaba por nos isolar na busca do bem-estar à margem dos outros, o nosso caminho
de santificação não pode deixar de nos identificar com aquele desejo de Jesus: “que
todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti”.
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