quarta-feira, 2 de maio de 2018

02 de maio - Encarnação do Verbo (Santo Atanásio)


Vendo o gênero humano caminhar para a sua perdição e a corrupção da morte estender sobre nós seu império; vendo a ameaça do pecado fortalecer ainda esse domínio e considerando que, sem dúvida, semelhante disposição não seria abolida antes de atingir sua conclusão; e avaliando, por outro lado, que não convinha deixar perder-se esse universo, cujo Artífice era ele mesmo, mas vendo também a malícia dos homens tomar proporções inauditas e erguer-se progressivamente contra eles além de toda a medida; vendo, enfim, todos os homens culpados de morte – o Verbo de Deus se encheu de piedade por nossa raça enferma. Comovido por essa corrupção que era a nossa e não suportando mais que a morte dominasse em nós, querendo também evitar a todo o preço que a obra já realizada viesse a perecer e que seu Pai tivesse trabalhado em vão quando formou o homem – o Verbo tomou um corpo, um corpo semelhante ao nosso.

Não foi suficiente para ele ser ou simplesmente aparecer num corpo. Se ele tivesse querido somente mostrar-se num corpo, sem dúvida teria podido escolher um corpo mais prestigioso. Não; foi um corpo como o nosso que ele tomou. E não importa como: ele o tomou de uma virgem sem falta nem mancha e que não tinha conhecido homem: corpo absolutamente puro e estranho a toda a ingerência do homem.

Ele, o Todo Poderoso, o Artífice do universo, construiu para si, no seio de uma virgem, um templo: seu próprio corpo. Esse corpo, ele o fez seu, como se instrumento, para nele residir e por ele se dar a conhecer. Sim, verdadeiramente ele tomou um corpo semelhante ao nosso corpo.

E como todos estavam submetidos à corrupção da morte, por todos, em sua extrema condescendência, ele ofereceu ao Pai seu próprio corpo como vítima para a morte. Assim, uma vez que todos morrem em seus corpos, a lei da corrupção lançada contra os homens esgotaria o vigor de seu agulhão no corpo do Senhor e, em seguida, se veria sem poder algum contra os homens, seus semelhantes.
Esses, recaídos na corrupção, ele os tornou novamente incorruptíveis: por sua encarnação e pela graça da ressurreição, ele os chamou da morte para a vida, consumindo a morte como a palha é consumida pelo fogo.

Compreendo que a corrupção dos homens não poderia ser apagada a não ser pela sua própria morte, mas sabendo também que ele mesmo, o Verbo, o Filho do Pai, imortal, portanto, não podia morrer, tomou para si um corpo mortal. Dessa maneira, unido ao Verbo, que é o Senhor de todos, esse corpo estaria em condições de morrer também por todos; e, além disso, tornado incorruptível pelo Verbo, que habita nele, ele teria o poder, por sua ressurreição, de expulsar de todos também a corrupção. O Verbo de Deus ofereceu, pois, seu corpo puríssimo como vítima à morte; assim ele a expulsou de todos os corpos semelhantes ao seu. Ele, que é superior a todos, ofereceu em resgate por todos seu templo e o instrumento de seu corpo; deste modo, com sua morte, ele pagou nossa dívida.

Uma vez que está unido a todos os homens por um corpo semelhante ao deles, o Filho incorruptível de Deus pode também revestir todos os homens de sua própria incorruptibilidade e dar-lhes um penhor de sua ressurreição próxima, de modo a que a corrupção da morte não tem mais nenhum poder sobre eles, precisamente por causa do Verbo que habita entre eles num corpo semelhante ao deles.

Quando um rei muito poderoso faz sua entrada numa grande cidade e escolhe por morada uma determinada casa, essa cidade inteira se sente muito honrada com isso: inimigos e bandidos cessam de combate-la e importuna-la, e todos a julgam digna das mais altas honras por causa do rei que habita numa só de suas casas. O mesmo se dá com o Rei do Universo: quando ele veio à nossa terra e habitou um corpo semelhante ao nosso, toda a maquinação do inimigo dos homens cessou, e até a antiga corrupção da morte desapareceu. O gênero humano todo teria perecido completamente se o Filho de Deus, Rei do universo, não tivesse vindo pessoalmente apara arranca-lo da morte e salva-lo.

Encarnação do Verbo – Santo Atanásio

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