A contraposição entre
os que seguem a lei do Senhor e os arrogantes, malvados se encontra no
evangelho do dia. Também nesse trecho há os bons e os maus. Por detrás das
palavras de Jesus percebe-se a figura destes justos que se sentem pequeninos,
mas a sua confiança está no Senhor. Um trecho, no qual por quatro vezes se
repete a palavra escândalo.
E ao usá-la o
Senhor foi muito severo, a ponto de dizer: “Ai de quem escandalizar um só destes
pequeninos. Ai!”.
Com efeito, o
escândalo, para o Senhor, é destruição. E Jesus aconselha: É melhor que se
destrua a si mesmo do que os outros. Corta a tua mão, o pé, arranca um olho,
lança-te ao mar. Mas não escandalizes os pequeninos, ou seja, os justos,
aqueles que confiam no Senhor, que simplesmente acreditam no Senhor.
Mas o que é o escândalo?
A resposta diz
respeito à vida concreta de cada pessoa: O escândalo é dizer uma coisa e fazer
outra; é a vida dupla. Um exemplo? Eu sou muito católico, vou sempre à missa,
pertenço a esta associação e àquela; mas a minha vida não é cristã, não pago o
justo aos meus empregados, exploro as pessoas, faço negócios sujos, lavagem de
dinheiro. Esta é uma vida dupla. Infelizmente, muitos católicos são assim e
escandalizam.
Palavras claras que
reconduzem todos à vida de cada dia: Quantas vezes ouvimos no bairro ou noutras
partes: “Mas ser católico como aquele, é melhor ser ateu”. Eis o escândalo, que
destrói, que desmoraliza. E isto acontece todos os dias: é suficiente ver o
telejornal ou ler os jornais. Nos jornais há tantos escândalos, e há também a
grande publicidade dos escândalos. E com os escândalos destrói-se.
Vou dar um exemplo:
Uma empresa importante estava à beira da falência. Dado que, disse, as
autoridades queriam evitar uma greve justa, mas que não teria sido boa,
procuraram entrar em contato com o responsável da empresa. E onde estava ele
enquanto a empresa estava a falir e as pessoas não recebiam o ordenado do próprio
trabalho? Este dirigente, que dizia ser um homem católico, muito católico,
estava numa praia do Médio Oriente a passar as férias invernais. O episódio não
foi publicado nos jornais, mas as pessoas souberam-no. Estes são os escândalos,
a vida dupla. E Jesus diz a quem se comporta assim: A estes pequeninos, a estes
pobres que creem em mim, não os arruínes com a tua vida dupla.
Imagine o momento
no qual quem dá escândalo se apresenta à porta do Céu:
Sou eu, Senhor! — Mas como, não te recordas? Eu ia à
missa, estava ao teu lado, pertencia a esta associação, faço isto... não te
recordas de todas as ofertas que dei?
Sim, recordo. Responde Jesus: As ofertas, recordo-me delas: todas sujas.
Todas roubadas aos pobres. Não te conheço.
A cada um de nós
fará bem, hoje, pensar se há algo de dupla vida em nós, de parecer justos, de
parecer bons crentes, bons católicos, mas por detrás fazer outra coisa.
Trata-se de compreender se a atitude é a de quem diz: Mas sim, o Senhor perdoar-me-á
tudo, mas eu continuo... e, apesar de estar ciente dos próprios erros, repete: Sim,
isto não está bem, converter-me-ei, mas não hoje: amanhã. Um exame de consciência
que deve levar à conversão do coração, a partir da consciência de que o
escândalo destrói.
Papa Francisco - 23 de fevereiro de 2017
Hoje celebramos:
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