Quero evidenciar algumas características que são grandes manifestações
do amor a Deus e ao próximo, que considero particularmente importantes devido a
alguns riscos e limites da cultura de hoje.
Perseverança, Paciência e Mansidão
A primeira destas grandes caraterísticas é permanecer
centrado, firme em Deus que ama e sustenta. A partir desta firmeza interior, é
possível aguentar, suportar as contrariedades, as vicissitudes da vida e também
as agressões dos outros, as suas infidelidades e defeitos: “se Deus está por nós,
quem pode estar contra nós?” (Rm 8, 31). Nisto está a fonte da paz que se
expressa nas atitudes dum santo.
São Paulo convidava os cristãos de Roma a não pagar a
ninguém o mal com o mal, a não fazer-se justiça por conta própria, nem a
deixar-se vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem. Esta atitude não é sinal
de fraqueza, mas da verdadeira força, porque o próprio Deus é paciente e grande
em poder.
É preciso lutar e estar atentos às nossas inclinações
agressivas e egocêntricas, para não deixar que ganhem raízes: “se vos irardes,
não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4,
26).
Pode acontecer também que os cristãos façam parte de
redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de
intercâmbio digital. Gera-se, assim, um dualismo
perigoso, porque, nestas redes, dizem-se coisas que não seriam toleráveis na
vida pública e procura-se compensar as próprias insatisfações descarregando
furiosamente os desejos de vingança. É impressionante como, às vezes,
pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo: “não
levantar falsos testemunhos” e destrói-se sem piedade a imagem alheia.
O santo não gasta as suas energias a lamentar-se dos
erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos dos seus irmãos e
evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de
ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si próprio.
Não nos faz bem olhar com altivez, assumir o papel de
juízes sem piedade, considerar os outros como indignos e pretender
continuamente dar lições. Esta é uma forma subtil de violência. São João da
Cruz propunha outra coisa: “mostra-te sempre mais propenso a ser ensinado por
todos do que a querer ensinar quem é inferior a todos”.
A humildade só se pode enraizar no coração através das
humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade. Se não fores capaz de
suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no
caminho da santidade. A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da
humilhação do seu Filho: este é o caminho.
Não me refiro apenas às situações cruentas de martírio,
mas às humilhações diárias daqueles que calam para salvar a sua família, ou
evitam falar bem de si mesmos e preferem louvar os outros em vez de se gloriar,
escolhem as tarefas menos vistosas e às vezes até preferem suportar algo de
injusto para o oferecer ao Senhor. Não é caminhar com a cabeça inclinada, falar
pouco ou escapar da sociedade. Às vezes uma pessoa, precisamente porque está
liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar
justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga
consequências negativas para a sua imagem.
Não digo que a humilhação seja algo de agradável, porque
isso seria masoquismo, mas que se trata dum caminho para imitar Jesus e crescer
na união com Ele. Isto não é compreensível no plano natural, e o mundo
ridiculariza semelhante proposta.
Esta atitude pressupõe um coração pacificado por Cristo,
liberto daquela agressividade que brota dum ego demasiado grande. A própria
pacificação, que a graça realiza, permite-nos manter uma segurança interior e
aguentar, perseverar no bem ainda que atravesse vales tenebrosos Ele fez saber
a Santa Faustina Kowalska: a humanidade não encontrará paz, enquanto não se
dirigir com confiança à Minha Misericórdia. Por isso, não caiamos na tentação
de procurar a segurança interior no sucesso, nos prazeres vazios, na riqueza,
no domínio sobre os outros ou na imagem social: “Eu vos dou a minha paz. Eu
vo-la dou não como o mundo a dá.” (Jo 14, 27).
Nenhum comentário:
Postar um comentário