terça-feira, 1 de maio de 2018

Sinais de Santidade no mundo de hoje: Perseverança, Paciência e Mansidão – Gaudete et exsultate n.ºs 110 a 121


Quero evidenciar algumas características que são grandes manifestações do amor a Deus e ao próximo, que considero particularmente importantes devido a alguns riscos e limites da cultura de hoje.

Perseverança, Paciência e Mansidão

A primeira destas grandes caraterísticas é permanecer centrado, firme em Deus que ama e sustenta. A partir desta firmeza interior, é possível aguentar, suportar as contrariedades, as vicissitudes da vida e também as agressões dos outros, as suas infidelidades e defeitos: “se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?” (Rm 8, 31). Nisto está a fonte da paz que se expressa nas atitudes dum santo.

São Paulo convidava os cristãos de Roma a não pagar a ninguém o mal com o mal, a não fazer-se justiça por conta própria, nem a deixar-se vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem. Esta atitude não é sinal de fraqueza, mas da verdadeira força, porque o próprio Deus é paciente e grande em poder.

É preciso lutar e estar atentos às nossas inclinações agressivas e egocêntricas, para não deixar que ganhem raízes: “se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento” (Ef 4, 26).

Pode acontecer também que os cristãos façam parte de redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital. Gera-se, assim, um dualismo perigoso, porque, nestas redes, dizem-se coisas que não seriam toleráveis na vida pública e procura-se compensar as próprias insatisfações descarregando furiosamente os desejos de vingança. É impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo: “não levantar falsos testemunhos” e destrói-se sem piedade a imagem alheia.

O santo não gasta as suas energias a lamentar-se dos erros alheios, é capaz de guardar silêncio sobre os defeitos dos seus irmãos e evita a violência verbal que destrói e maltrata, porque não se julga digno de ser duro com os outros, mas considera-os superiores a si próprio.

Não nos faz bem olhar com altivez, assumir o papel de juízes sem piedade, considerar os outros como indignos e pretender continuamente dar lições. Esta é uma forma subtil de violência. São João da Cruz propunha outra coisa: “mostra-te sempre mais propenso a ser ensinado por todos do que a querer ensinar quem é inferior a todos”.

A humildade só se pode enraizar no coração através das humilhações. Sem elas, não há humildade nem santidade. Se não fores capaz de suportar e oferecer a Deus algumas humilhações, não és humilde nem estás no caminho da santidade. A santidade que Deus dá à sua Igreja, vem através da humilhação do seu Filho: este é o caminho.

Não me refiro apenas às situações cruentas de martírio, mas às humilhações diárias daqueles que calam para salvar a sua família, ou evitam falar bem de si mesmos e preferem louvar os outros em vez de se gloriar, escolhem as tarefas menos vistosas e às vezes até preferem suportar algo de injusto para o oferecer ao Senhor. Não é caminhar com a cabeça inclinada, falar pouco ou escapar da sociedade. Às vezes uma pessoa, precisamente porque está liberta do egocentrismo, pode ter a coragem de discutir amavelmente, reclamar justiça ou defender os fracos diante dos poderosos, mesmo que isso traga consequências negativas para a sua imagem.

Não digo que a humilhação seja algo de agradável, porque isso seria masoquismo, mas que se trata dum caminho para imitar Jesus e crescer na união com Ele. Isto não é compreensível no plano natural, e o mundo ridiculariza semelhante proposta.

Esta atitude pressupõe um coração pacificado por Cristo, liberto daquela agressividade que brota dum ego demasiado grande. A própria pacificação, que a graça realiza, permite-nos manter uma segurança interior e aguentar, perseverar no bem ainda que atravesse vales tenebrosos Ele fez saber a Santa Faustina Kowalska: a humanidade não encontrará paz, enquanto não se dirigir com confiança à Minha Misericórdia. Por isso, não caiamos na tentação de procurar a segurança interior no sucesso, nos prazeres vazios, na riqueza, no domínio sobre os outros ou na imagem social: “Eu vos dou a minha paz. Eu vo-la dou não como o mundo a dá.” (Jo 14, 27).




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