Um povo a caminho que, entre graça e pecado, vai em
frente na história rumo à plenitude dos tempos. E neste povo está incluído cada
cristão que percorre o seu itinerário pessoal até ao dia em que se encontrar de
caras com aquele Deus que, entretanto, nunca nos deixa sozinhos.
O Senhor guia o seu povo, com momentos
bons e difíceis, com liberdade e escravidão; mas guia o povo rumo à plenitude, ou
seja, quando apareceu Jesus.
Portanto, não terminou ali: Jesus foi-se embora, mas não
nos deixou sozinhos: deixou-nos o Espírito. Aquele Espírito que nos faz compreender
a mensagem de Jesus. Começa deste modo um segundo caminho, o do povo de Deus
depois de Jesus, à espera de outra plenitude dos tempos, quando Jesus vir pela
segunda vez. É o caminho da Igreja que vai em frente, com muitos santos e pecadores;
entre graça e pecado, com a atitude que se encontra no Apocalipse: Vem, ó Senhor
Jesus; vem. Esperamos por ti.
Este segundo caminho serve para
compreender, para aprofundar a pessoa de Jesus, para aprofundar a fé, graças ao
Espírito Santo que Jesus nos deixou. E serve, acrescentou, também para compreender
a moral, os mandamentos. Com efeito, algo que outrora parecia normal, que não
era pecado, hoje é considerado pecado mortal: na realidade era pecado, mas o
momento histórico não permitia que fosse entendido como tal.
Para melhor compreender este conceito, damos alguns
exemplos, começando pela escravidão: Quando íamos à escola, contavam-nos o que
faziam aos escravos, eram levados de um lado para outro, vendidos noutro lugar,
na América Latina eram vendidos e comprados. Hoje é considerado pecado mortal,
antes não; aliás, alguns diziam que era possível fazer isto, porque esta gente
não tinha alma! Evidentemente, era necessário que o tempo passasse para
compreender melhor a fé, para compreender melhor a moral. E isto não significa
que hoje não haja escravos: há mais, mas pelo menos sabemos que é pecado mortal.
O mesmo processo ocorreu relativamente à pena de morte
que outrora era normal. Hoje afirmamos que é inadmissível. Pensemos também nas
guerras de religião: hoje, sabemos que não só é um pecado mortal, um sacrilégio,
mas até uma idolatria.
Este caminho está constelado também por muitos santos que
ajudam a esclarecer a fé e a moral. Os santos que todos conhecemos e os santos
escondidos: a Igreja está cheia de santos escondidos! Precisamente esta
santidade, é a que nos leva em frente, rumo à segunda plenitude dos tempos,
quando o Senhor vier, no final, para ser tudo em todos.
Este é o modo como o Senhor quis deixar-se conhecer pelo
seu povo: a caminho. E o mesmo povo de Deus está a caminho, sempre. Mais ainda:
quando o povo de Deus para, torna-se prisioneiro, como um pequeno jumento num
estábulo, fica ali e não compreende, não vai em frente, não aprofunda a fé, o
amor, não purifica a alma.
Papa Francisco - 11 de maio de 2017
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