O discernimento não é necessário apenas em momentos extraordinários,
quando temos de resolver problemas graves ou quando se deve tomar uma decisão
crucial; mas é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor. É-nos
sempre útil, para sermos capazes de reconhecer os tempos de Deus e a sua graça,
para não desperdiçarmos as inspirações do Senhor, para não ignorarmos o seu
convite a crescer.
Frequentemente isto decide-se
nas coisas pequenas, no que parece irrelevante, porque a magnanimidade
mostra-se nas coisas simples e diárias. Trata-se de não colocar limites
rumo ao máximo, ao melhor e ao mais belo, mas ao mesmo tempo concentrar-se no
pequeno, nos compromissos de hoje.
Por
isso, peço a todos os cristãos que não deixem de fazer cada dia, em diálogo com
o Senhor que nos ama, um sincero exame de consciência. Ao mesmo tempo, o
discernimento leva-nos a reconhecer os meios concretos que o Senhor predispõe,
no seu misterioso plano de amor, para não ficarmos apenas pelas boas intenções.
É verdade que o discernimento espiritual não exclui as
contribuições de sabedorias humanas, existenciais, psicológicas, sociológicas
ou morais; mas transcende-as. Não bastam sequer as normas sábias da Igreja.
Lembremo-nos sempre de que o
discernimento é uma graça. Embora inclua a razão e a prudência, supera-as,
porque trata-se de entrever o mistério daquele projeto, único e irrepetível,
que Deus tem para cada um e que se realiza no meio dos mais variados contextos
e limites.
Não está em jogo apenas um
bem-estar temporal, nem a satisfação de realizar algo de útil, nem mesmo o
desejo de ter a consciência tranquila.
Está em jogo o sentido da minha vida diante do Pai que me conhece e ama, aquele
sentido verdadeiro para o qual posso orientar a minha existência e que ninguém
conhece melhor do que Ele. Em suma, o discernimento leva à própria fonte da
vida que não morre, isto é, conhecer o Pai, o único Deus verdadeiro, e a quem
Ele enviou, Jesus Cristo (Jo 17, 3). Não
requer capacidades especiais nem está reservado aos mais inteligentes e
instruídos; o Pai compraz-Se em manifestar-Se aos humildes (Mt 11,
25).
Embora o Senhor nos fale de
muitos e variados modos durante o nosso trabalho, através dos outros e a todo o
momento, não é possível prescindir do
silêncio da oração prolongada para perceber melhor aquela linguagem, para
interpretar o significado real das inspirações que julgamos ter recebido, para
acalmar ansiedades e recompor o conjunto da própria vida à luz de Deus. Assim,
podemos permitir o nascimento daquela nova síntese que brota da vida iluminada
pelo Espírito.
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