Jesus, ao
referir-Se ao desígnio primordial sobre o casal humano, reafirma a união
indissolúvel entre o homem e a mulher, mesmo admitindo que, “por causa da
dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres;
mas, ao princípio, não foi assim”. A indissolubilidade do matrimônio (“o que
Deus uniu não o separe o homem”) não se deve entender
primariamente como “jugo” imposto aos homens, mas como um “dom” concedido às
pessoas unidas em matrimónio. A condescendência divina acompanha sempre o
caminho humano, com a sua graça, cura e transforma o coração endurecido,
orientando-o para o seu princípio, através do caminho da cruz. Nos Evangelhos,
sobressai claramente a postura de Jesus, que anunciou a mensagem relativa ao
significado do matrimônio como plenitude da revelação que recupera o projeto
originário de Deus (cf. Mt 19, 3).
Jesus, que
reconciliou em Si todas as coisas, voltou a levar o matrimônio e a família à
sua forma original. A família e o matrimônio foram redimidos por Cristo,
restaurados à imagem da Santíssima Trindade, mistério donde brota todo o amor
verdadeiro. A aliança esponsal, inaugurada na criação e revelada na história da
salvação, recebe a revelação plena do seu significado em Cristo e na sua
Igreja. O matrimônio e a família recebem de Cristo, através da Igreja, a graça
necessária para testemunhar o amor de Deus e viver a vida de comunhão.
A postura de Jesus
é paradigmática para a Igreja. Ele inaugurou a sua vida pública com o sinal de
Caná, realizado num banquete de núpcias. Compartilhou momentos diários de
amizade com a família de Lázaro e suas irmãs e com a família de Pedro. Escutou
o pranto dos pais pelos seus filhos, restituindo-os à vida e mostrando assim o
verdadeiro significado da misericórdia, a qual implica a restauração da Aliança.
Vê-se isto claramente nos encontros com a mulher samaritana e com a adúltera,
nos quais a noção do pecado é avivada perante o amor gratuito de Jesus.
A aliança de amor e
fidelidade, vivida pela Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá
forma a cada família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da
vida e da história. Sobre este fundamento, cada família, mesmo na sua
fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo.
Papa Francisco - Amoris
Laetitia nºs 62 a 66
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