No trecho
evangélico de hoje, Pedro garante a Jesus: “Nós deixamos tudo e seguimos-te”.
Como quem diz: E a nós, o quê? Qual será o nosso salário? Deixamos tudo. Em
poucas palavras, os ricos que nada deixaram — o jovem que não queria deixar as
suas riquezas — não entrarão no reino de Deus, mas nós? Qual será o nosso
ganho?
A questão é que os
discípulos entendiam Jesus pela metade, porque o conhecimento pleno de Jesus
aconteceu quando o Espírito Santo desceu. E de fato Jesus responde-lhes: “Em
verdade vos digo: quem tiver deixado a casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou
campos por minha causa e por causa da boa nova receberá cem vezes mais agora,
no tempo presente em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, juntamente
com perseguições”. Praticamente Jesus responde indicando outra direção e não
promete as mesmas riquezas que tinha o jovem. Precisamente este ter muitos
irmãos, irmãs, mães, pais, bens é a herança do reino, mas com a perseguição,
com a cruz. E isto muda.
Eis porque, quando
um cristão é apegado aos bens, faz a má figura de quem quer duas coisas: o céu
e a terra. E o termo de comparação é exatamente o que diz Jesus: a cruz, as
perseguições, negar-se a si mesmo, sofrer a cruz todos os dias.
Por sua vez os
discípulos sentiam esta tentação: seguir Jesus mas depois qual será o fim deste
bom negócio? E, pensemos na mãe de Tiago e João quando pediu um lugar para os
seus filhos: Ah, que este seja primeiro-ministro, e este ministro da economia.
Era o interesse mundano no seguir Jesus: mas depois o coração desses discípulos
foi-se purificando até ao Pentecostes, quando entenderam tudo.
A gratuidade no
seguir Jesus é a resposta à gratuidade do amor e da salvação que nos dá Jesus. Quando
se quer seguir Jesus e o mundo, quer com a pobreza quer com a riqueza,
verifica-se um cristianismo a metade, que deseja um ganho material: é o
espírito da mundanidade.
Seguir Jesus sob o
ponto de vista humano não é um bom negócio: é servir. De resto foi exatamente o
que fez ele: e se o Senhor te der a possibilidade de ser o primeiro, tu deves
comportar-te como o último, isto é no serviço. Se o Senhor te der a
possibilidade de possuir bens, deves comportar-te no serviço, isto é, para os
outros.
São três os
aspectos, os degraus que nos afastam de Jesus: as riquezas, a vaidade e o
orgulho. Por isto as riquezas são tão perigosas: levam-te a ser vaidoso e a
pensar que és importante; mas quando te consideras importante, crias a cauda de
pavão e perdes-te.
Esta obra de
catequizar os discípulos levou tanto tempo porque não entendiam bem o que Jesus
dizia. Assim hoje, também nós devemos pedir-lhe: que nos ensine este caminho,
esta ciência do serviço, a ciência da humildade, a ciência de ser os últimos
para servir os irmãos e as irmãs da Igreja.
É desagradável ver
um cristão: leigo, consagrado, sacerdote ou bispo, que quer as duas coisas:
seguir Jesus e os bens, seguir Jesus e a mundanidade. É um contratestemunho e
afasta as pessoas de Jesus. Vamos pensar de novo na pergunta de Pedro: “Nós deixamos
tudo: como nos pagarás?” E ter presente a resposta de Jesus porque o preço que
ele nos dá é ser semelhante a ele: este será o “salário”. E assemelhar a Jesus,
é um grande salário.
Papa Francisco - 26 de maio de 2015
Hoje celebramos:
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