Este diálogo entre
o Senhor e Pedro é tranquilo, entre amigos, sereno, casto, às margens do lago
onde Pedro tinha sido chamado no início. Animavam este diálogo, algumas palavras
como amor, apascentar, as minhas ovelhas, segue-me: palavras serenas, daquela
atmosfera da ressurreição que o Senhor leva em frente.
Assim estamos
diante de um diálogo de amigos e serviço, porque é feito após a refeição que o
próprio Jesus tinha preparado. É um diálogo no qual Jesus, que é o grande
pastor, confia as suas ovelhas a Pedro.
Portanto, um
diálogo entre amigos. De fato, Jesus diz a Pedro: “Amas-me?” “Também tu queres
ser meu amigo? És meu amigo?” Exatamente esta é a atmosfera deste diálogo,
desta página do Evangelho tão serena e casta.
Vou indicar três
aspetos em relação a este diálogo.
O primeiro é aquele "segue-me". Sim, Jesus escolheu o mais pecador dos apóstolos: os outros fugiram.
Ele renegou-o dizendo não o conheço. Mas eis que Jesus lhe pergunta: “Mas tu
amas-me mais do que eles?” Portanto, Jesus escolhe o mais pecador. A tal
propósito, vem-me à mente o diálogo de um santo do século XVII com Jesus, um
santo ao qual Jesus tinha concedido muitas graças. Era uma mulher, uma santa:
“Mas Senhor a mim que sou tão pequena, tão pecadora”. E o Senhor disse-lhe: “Se
eu tivesse encontrado alguém mais pecador do que tu, a ele teria dado
isto ˮ. Portanto, o mais pecador foi escolhido para apascentar o povo de
Deus, para “cuidar” do povo de Deus: isto faz-nos pensar.
O segundo ponto é a
palavra “amor” que é recorrente neste diálogo: “apascenta, porque me amas,
apascenta, porque és meu amigo, apascenta”. Sim apascentar com amor. E Pedro
retoma isto na sua primeira carta: aprendeu. Não é preciso apascentar com a
cabeça erguida, como o grande dominador, não: apascentar com humildade, com
amor, como fez Jesus.
Esta é a missão que
Jesus confia a Pedro: sim, com os pecados, com os erros. A ponto que depois
deste diálogo, Pedro comete um engano, um erro: é tentado pela curiosidade e
diz ao Senhor: “este outro discípulo para onde irá, o que fará?” Mas com amor,
no meio dos seus erros, dos seus pecados, mas com amor. Porque “estas
ovelhinhas não são as tuas ovelhas, são as minhas”, diz o Senhor. Portanto “ama”,
se és meu amigo, deves ser amigos delas”.
O terceiro aspeto
do diálogo entre Jesus e Pedro são "dois ícones". O da quinta-feira santa quando
Pedro seguro de si próprio, com a mesma certeza com a qual disse “Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo”, diz à serva do sumo sacerdote: “Não conheço
aquele homem, não pertenço ao seu grupo”.
Resumindo, Pedro
renegou Jesus e depois cruzaram-se os olhares: quando Jesus sai, olha para ele,
e Pedro corajoso, também corajoso na negação, foi capaz de chorar amargamente. Em
seguida, dedicou a vida toda ao serviço do Senhor e acabou como o Senhor: na
cruz. Mas não se vangloria dizendo “Acabo como o meu Senhor!”. Não. Pede “por
favor, colocai-me sobre a cruz com a cabeça para baixo, para que se veja pelo
menos que não sou o Senhor, sou o servo”.
É isto que podemos
compreender deste diálogo tão bonito, tão sereno e amistoso, tão pudico. Que o
Senhor nos conceda sempre a graça de caminhar na vida com a cabeça para baixo:
a cabeça erguida pela dignidade que Deus nos dá, mas de cabeça baixa, sabendo
que somos pecadores e que o único Senhor é Jesus: nós somos servos.
Papa Francisco - 02 de junho de 2017
Hoje celebramos:
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