A narração de São
Marcos descreve a cena de Jesus a contas com os seus discípulos Tiago e João,
que – apoiados pela mãe – queriam sentar-se, à sua direita e à sua esquerda, no
reino de Deus, reivindicando lugares de honra, de acordo com a sua própria
visão hierárquica do reino. A perspectiva, em que se movem, aparece ainda
inquinada por sonhos de realização terrena. Então Jesus dá um primeiro abanão
naquelas convicções dos discípulos, recordando o caminho d’Ele na terra: “Bebereis
o cálice que Eu bebo (…), mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda
não pertence a Mim concedê-lo: é daqueles para quem está reservado”. Com esta
imagem do cálice, Ele assegura aos dois discípulos a possibilidade de serem
associados plenamente ao seu destino de sofrimento, mas sem garantir os desejados
lugares de honra. A sua resposta é um convite a segui-Lo pelo caminho do amor e
do serviço, rejeitando a tentação mundana de querer sobressair e mandar nos
outros.
À vista de tantos
que lutam por obter o poder e o sucesso, por dar nas vistas, frente a tantos
que querem fazer valer os seus méritos, as suas realizações, os discípulos são
chamados a fazer o contrário. Por isso adverte-os: “Sabeis como aqueles que são
considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e
como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser
ser grande entre vós, faça-se vosso servo”. Com estas palavras, Jesus indica o
serviço como estilo da autoridade na comunidade cristã. Quem serve os outros e
não goza efetivamente de prestígio, exerce a verdadeira autoridade na Igreja.
Jesus convida-nos a mudar a nossa mentalidade e a passar da ambição do poder à
alegria de se ocultar e servir; a desarraigar o instinto de domínio sobre os
outros e exercer a virtude da humildade.
E, depois de
apresentar um modelo a não imitar, oferece-Se a Si mesmo como ideal de
referimento. No procedimento do Mestre, a comunidade encontrará o motivo da
nova perspectiva de vida: “Pois também o Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos”. Na tradição
bíblica, o Filho do Homem é aquele que recebe de Deus “as soberanias, a glória
e a realeza” (Dn 7, 14). Jesus enche de novo sentido esta imagem,
especificando que Ele tem a soberania enquanto servo, a glória enquanto capaz
de abaixamento, a autoridade real enquanto disponível ao dom total da vida. Na
verdade, é com a sua paixão e morte que conquista o último lugar, alcança o
máximo de grandeza no serviço, e oferece-o à sua Igreja.
Há incompatibilidade
entre uma forma de conceber o poder segundo critérios mundanos e o serviço
humilde que deveria caracterizar a autoridade segundo o ensinamento e o exemplo
de Jesus; incompatibilidade entre ambições e carreirismo e o seguimento de
Cristo; incompatibilidade entre honras, sucesso, fama, triunfos terrenos e a
lógica de Cristo crucificado. Ao contrário, há compatibilidade entre Jesus que
sabe o que é sofrer e o nosso sofrimento.
Cada um de nós,
enquanto batizado, participa a seu modo no sacerdócio de Cristo: os fiéis
leigos no sacerdócio comum, os sacerdotes no sacerdócio ministerial. Assim,
todos podemos receber a caridade que brota do seu Coração aberto, tanto para
nós mesmos como para os outros, tornando-nos canais do seu amor, da sua
compaixão, especialmente para aqueles que vivem no sofrimento, na angústia, no
desânimo e na solidão.
Papa Francisco - 18 de outubro de 2015
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