Condição essencial para avançar no discernimento é educar-se para a
paciência de Deus e os seus tempos, que nunca são os nossos. Ele não faz
descer fogo do céu sobre os incrédulos, nem permite aos zelosos arrancar o joio
que cresce juntamente com o trigo. Além disso requer-se generosidade, porque “a
felicidade está mais em dar do que em receber” (At 20, 35).
Faz-se discernimento, não para descobrir que mais proveito podemos
tirar desta vida, mas para reconhecer como podemos cumprir melhor a missão que
nos foi confiada no Batismo, e isto implica estar disposto a fazer renúncias
até dar tudo. Com efeito, a felicidade é paradoxal, proporcionando-nos as
melhores experiências quando aceitamos aquela lógica misteriosa que não é deste
mundo, mas “é a nossa lógica”, como dizia São Boaventura, referindo-se à
cruz. Quando uma pessoa assume esta dinâmica, não deixa anestesiar a sua
consciência e abre-se generosamente ao discernimento.
Quando perscrutamos na
presença de Deus os caminhos da vida, não há espaços que fiquem excluídos. Em
todos os aspetos da existência, podemos continuar a crescer e dar algo mais a
Deus, mesmo naqueles em que experimentamos as dificuldades mais fortes. Mas é
necessário pedir ao Espírito Santo que nos liberte e expulse aquele medo que
nos leva a negar-Lhe a entrada nalguns aspetos da nossa vida. Aquele que pede tudo, também dá tudo, e não
quer entrar em nós para mutilar ou enfraquecer, mas para levar à perfeição.
Isto mostra-nos que o discernimento não é uma autoanálise presuntuosa, uma
introspeção egoísta, mas uma verdadeira saída de nós mesmos para o mistério de
Deus, que nos ajuda a viver a missão para a qual nos chamou a bem dos irmãos.
Desejo coroar estas reflexões com a
figura de Maria, porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de
Jesus. É Aquela que estremecia de júbilo na presença de Deus, Aquela que
conservava tudo no seu coração e Se deixou atravessar pela espada. É a mais
abençoada dos santos entre os santos, Aquela que nos mostra o caminho da
santidade e nos acompanha. E, quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e,
às vezes, leva-nos nos seus braços sem nos julgar. Conversar com Ela
consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas
palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para Lhe explicar o que se
passa conosco. É suficiente sussurrar
uma vez e outra: «Ave Maria...».
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