Pode acontecer, porém, que na
própria oração evitemos de nos deixar confrontar com a liberdade do Espírito,
que age como quer. Não nos esqueçamos de
que o discernimento orante exige partir da predisposição para escutar: o
Senhor, os outros, a própria realidade que não cessa de nos interpelar de novas
maneiras.
Somente quem está disposto a
escutar é que tem a liberdade de renunciar ao seu ponto de vista parcial e
insuficiente, aos seus hábitos, aos seus esquemas. Desta forma, está realmente
disponível para acolher um chamado que quebra as suas seguranças, mas leva-o a
uma vida melhor, porque não é suficiente que tudo corra bem, que tudo esteja
tranquilo. Pode acontecer que Deus nos esteja a oferecer algo mais e, na nossa
cômoda distração, não o reconheçamos.
Tal atitude de escuta implica, naturalmente, obediência ao Evangelho
como último critério, mas também ao Magistério que o guarda, procurando
encontrar no tesouro da Igreja aquilo que pode ser mais fecundo para “o hoje”
da salvação. Não se trata de aplicar receitas ou repetir o passado, uma vez
que as mesmas soluções não são válidas em todas as circunstâncias e o que foi
útil num contexto pode não o ser noutro. O
discernimento dos espíritos liberta-nos da rigidez, que não tem lugar no “hoje”
perene do Ressuscitado.
Somente o Espírito sabe
penetrar nas dobras mais recônditas da realidade e ter em conta todas as suas
nuances, para que a novidade do Evangelho surja com outra luz.
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