O beato Carlos Eugênio de Mazenod, a quem a Igreja
proclama Santo no dia de hoje, foi um homem do Advento, um homem da Vinda. Ele
não apenas olhou para essa vinda, mas, como bispo e fundador da Congregação dos
Oblatos de Maria Imaculada, dedicou toda sua vida a prepará-la. Sua expectativa
atingiu a intensidade do heroísmo, caracterizado por um grau heroico de fé,
esperança e caridade apostólica. Eugene de Mazenod foi um daqueles apóstolos
que prepararam os tempos modernos, os nossos tempos.
Foi enviado como bispo para a cidade de
Marselha, para aquela Igreja das costas meridionais da França. Ao mesmo tempo,
porém, ele estava ciente de que a missão de cada bispo, em união com a Sé de
Pedro, tem um caráter universal. A certeza de que o Bispo é enviado ao mundo,
como os apóstolos, baseia-se nas palavras de Cristo: "Ide por todo o mundo e
pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16, 15). De Mazenod estava
ciente de que o mandato de cada Bispo e de toda Igreja local é em si mesmo
missionário e assegurou que mesmo a muito antiga Igreja de Marselha, cujo
início remonta ao período apostólico, pudesse cumprir sua vocação missionária
de maneira exemplar, sob a orientação de seu pastor.
Papa João Paulo II –
Homilia de Canonização – 03 de dezembro de 1995
Charles-Joseph-Eugène de Mazenod nasceu no
dia 1º de agosto de 1782 em Aix-en-Provence, no sul da França. A família,
pertencente à pequena nobreza, sofreu alguns revezes por ocasião da Revolução
Francesa, em 1789, quando teve que fugir para a Itália, abrindo mão de tudo que
tinha.
Foi nesse país que o jovem Carlos José
Eugênio de Mazenod teve contato com o sacerdote Don Bartolo Zinelli, amigo da
família, o qual infundiu-lhe o sentido de uma vida piedosa, voltada para Deus.
Em 1802, aos vinte anos de idade, retorna à
França. Apesar da oposição de sua mãe, em 21 de dezembro de 1811 é ordenado
sacerdote em Amiens.
Retornando a Aix-en-Provence, ele não assumiu
paróquia alguma, mas começou a exercer seu ministério ocupando-se especialmente
em ajudar espiritualmente os mais pobres: os prisioneiros, os jovens, os
empregados, os camponeses. Frequentemente, Eugênio enfrentou a oposição do
clero local. Porém, logo encontrou outros sacerdotes igualmente zelosos e
prontos a quebrar as regras (em nome do Reino de Deus).
Eugênio e seus companheiros pregavam em
provençal, a linguagem corrente dos seus interlocutores, e não em francês, que
era a língua das pessoas instruídas. Eles iam de aldeia em aldeia ensinando aos
aldeões e passando horas e horas nos confessionários. Entre essas “missões paroquiais”, o grupo se
reencontrava para uma intensa vida comunitária de oração, estudo e de vivência
da fraternidade. Eles se denominavam “Os
Missionários da Provença”.
Para assegurar a continuidade da obra,
Eugênio tomou uma importante decisão: foi até o Papa e pediu-lhe autorização
para que seu grupo fosse reconhecido como Congregação de Direito
Pontifício. Eugênio foi nomeado bispo, cargo que exerceu durante trinta e
sete anos.
A intensidade da vida espiritual de Dom
Eugênio não podia ficar escondida a seus diocesanos. Impressionavam lhes a sua
austeridade, suas abstinências e, desde os tempos de seminário, nunca havia
deixado de se impor penitências corporais.
Na aparência, a solenidade a que era obrigado
contrastava com a pobreza de sua vida privada: batinas remendadas, faltando
alguns botões e sem adornos: Sou bispo, mas fiz voto de pobreza.
A pobreza que ele praticava pessoalmente o
tornava mais complacente e mais liberal com os necessitados; abria de par em
par, seu coração e sua bolsa a todos os que vinham pedir-lhe: Dar
dinheiro é o de menos; mas ver-me incapaz, fazendo mais do que posso, de
remediar suas necessidades, é algo superior a minhas forças...
Ajuda aos necessitados que o assediavam e
àqueles ocultos que por vergonha não se revelavam; tinha que encontrar sempre o
dinheiro para suas esmolas, e em tudo via a ação da Providência de Deus.
Como fizera quando criança, trocando de roupa
com o menino pobre carvoeiro, faria novamente: Dom Eugênio de Mazenod, vestido de simples sacerdote e despojado de
todas as insígnias de sua dignidade, tirando seus sapatos em plena rua, em
pleno inverno e obrigar um mendigo a calçá-los e ele mesmo descalço, foi
comprar um novo par de sapatos em uma sapataria vizinha.
Sua fé e sua perseverança deram frutos e foi assim
que, em 17 de Fevereiro de 1826, o Papa Leão XII aprovou a nova Congregação sob
o nome de “Oblatos de Maria Imaculada”.
Eugênio foi eleito Superior Geral e continuou a inspirar e guiar seus membros
durante 35 anos.
Sofreu dores terríveis durante quatro meses,
mas seu espírito não se abatia. Nem uma queixa, nem um suspiro: Quando se está
na cruz é preciso saber estar. É uma graça. Uma de suas últimas alegrias foi a
bênção que o Santo Padre lhe enviou, e morreu em 21 de maio de 1861, aos 79
anos de idade.
Santo Carlos Eugênio de Mazenod esteve presente à
definição do dogma da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1854, e, na mesma
noite, escreveu aos seus religiosos: “Parecia-me que os céus se abriam e tomavam
parte na exaltação da Igreja triunfante; que o purgatório se esvaziara,
enviando todas as almas aos pés da Mãe. Eu misturei minhas lágrimas às do
papa… Ninguém sentia tanto gáudio quanto eu, como pai de uma numerosa família
que traz em sua bandeira o nome de Maria concebida sem pecado… Imaginai como
tais pensamentos me elevavam a alma e me inflamavam o coração que, como sabeis,
não está envelhecido”
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