É no contexto de grata
memória que brota o cântico de Isabel em forma de pergunta: “Quem
sou eu, para que a mãe do meu Senhor venha ter comigo?” Isabel, a
mulher marcada pelo sinal da esterilidade, encontramo-la cantando sob o sinal
da fecundidade e do deslumbre.
Isabel, mulher estéril, com
tudo o que isto implicava para a mentalidade religiosa da sua época, que
considerava a esterilidade como um castigo divino, fruto do próprio pecado ou
do esposo. Um sinal de vergonha levado na própria carne, ou por se considerar
culpado de um pecado que não cometeu, ou por se sentir pouco importante, por
não estar à altura do que se esperava dela. Esterilidade que pode ter muitos
nomes e formas, cada vez que uma pessoa sente na sua carne a vergonha por se
ver estigmatizada ou se sentir insignificante.
Assim podemos ver
isto no pequeno índio Juan Diego, quando diz a Maria: “Na verdade, de nada
valho, sou mecapal, cacaxtle, cauda, asa, submetido a ombros e à dependência de
outrem, este não é o meu paradeiro, e nem sequer vou para onde te dignas
enviar-me”.
E juntamente com
Isabel, a mulher estéril, contemplamos Isabel, a mulher fecunda-deslumbrada. Ela é a primeira que
reconhece e abençoa Maria. Foi ela que, na velhice, experimentou na sua própria
vida, na sua carne, o cumprimento da promessa feita por Deus. Ela, que não
podia ter filhos, trouxe no seu ventre o precursor da salvação. Nela entendemos
que o sonho de Deus não é nem será a esterilidade, nem estigmatizar ou encher
os seus filhos de vergonha, mas fazer brotar neles e deles um cântico de
bênção.
Vemo-lo, de igual
modo, em Juan Diego. Foi precisamente ele, e não outro, quem trouxe na sua
tilma a imagem da Virgem: a Virgem de pele morena e rosto mestiço, sustentada
por um anjo com asas de quetzal, pelicano e arara; a mãe capaz de assumir os
traços dos seus filhos para os levar a sentir-se partícipes da sua bênção.
Irmãos, neste clima
de memória grata por sermos latino-americanos, entoemos no nosso coração o
cântico de Isabel, o cântico da fecundidade, e digamos juntos aos nossos povos
que não se cansem de o repetir: Bendita sois Vós entre todas as mulheres, e
bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Papa
Francisco – 12 de dezembro de 2017
Hoje celebramos:
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