Hoje a Igreja eleva
à glória dos altares e propõe à imitação do povo fiel, Maria Angela Astorch,
novo exemplo de santidade amadurecida nas terras da Espanha.
Pertence à família
das religiosas Clarissas Capuchinhas.
Nas sucessivas
etapas como simples religiosa, jovem mestra de noviças, responsável da formação
das professas e abadessa, deixa em redor, em Barcelona, Saragoça, Sevilha e
Murcia, uma esteira admirável de fidelidade à sua própria consagração e de amor
à Igreja.
A sua inteligência
não comum sabe apoiar-se na solidez da palavra revelada e dos escritores
eclesiásticos, que estuda e conhece em profundidade. Isto leva-a a um firme
conhecimento teórico e prático dos caminhos da espiritualidade, que vive em
íntima união com a Igreja, sobretudo através da liturgia, dos textos sagrados e
do oficio divino. Até ao ponto de podermos indicá-la como a mística do
breviário.
Nas suas tarefas de
formadora emprega "o nobre estilo" que Deus usa com ela mesma. Sabe,
por isso, respeitar a individualidade de cada pessoa, ajudando-a ao mesmo tempo
a "caminhar ao passo de Deus", que é diferente em cada um. Assim a
profunda compreensão não se torna tolerância inerte.
Maria Angela
Astorch é pois uma figura digna de ser vista hoje atentamente. Para que nos
ensine a respeitar os caminhos do homem, abrindo-os aos caminhos de Deus.
Papa
João Paulo II – Homilia de Canonização – 23 de maio de 1982
Nasceu no seio de
boa família, sendo a mais nova de quatro irmãos. Seu pai, Cristóvão Cortey, era
livreiro de profissão e sua mãe, Catarina Astorch, era herdeira de Pedro Miguel
Astorch, com a condição de conservar o sobrenome na sua descendência. Ambos
morreram num período de quatro anos, deixando Maria Ângela órfã, passa a ser
cuidada por uma ama em Sarriá.
Em 1599, como
resultado de uma intoxicação, foi dada por morta. Sua irmã Isabel Astorch, que
era monja em um mosteiro de capuchinhas recém-fundado em Barcelona, junto com a
fundadora do mesmo, Ângela Serafina Prat, foram ao enterro. Em meio dos
preparativos, Maria Ângela retornou à vida, e o milagre foi atribuído às orações
de Ângela Serafina.
A partir de então
Maria Ângela passou a ter uma maturidade precoce e uma grande capacidade que
faziam pensar em uma menina superdotada. Aprendeu a ler e a fazer trabalhos
manuais, tinha grande amor pela leitura, especialmente por livros em latim.
Com a idade de 11
anos, ingressou no Mosteiro de Santa Margarida de Barcelona, fundado por Madre
Ângela Serafina Prat. Com essa idade ela já dominava os seis tomos do Breviário
em latim.
Não obstante sua maturidade
precoce, Maria Ângela teve que esperar até os 16 anos para fazer o noviciado
canônico. Foi um tempo de espera muito provado pela incompreensão e inveja da
mestra, que chegou aos maus tratos, pois, devido sua maturidade e cultura, fora
encarregada de dar alguma formação a suas companheiras. Finalmente Madre Ângela
Serafina depôs a mestra e colocou Isabel Astorch, irmã de Maria Ângela, em seu
lugar.
Aos 17 anos ela
emitiu a profissão e com 20 anos foi eleita membro do conselho da comunidade.
Em 19 de maio de
1614, Maria Ângela, com cinco religiosas, partiu para a fundação em Zaragoza,
que foi inaugurada em 24 de maio do mesmo ano.
Durante os anos em
que permaneceu em Zaragoza ela exerceu o cargo de mestra de noviças; mestra de
jovens professas; e abadessa, para o que teve que pedir dispensa a Roma, pois
não tinha a idade canônica mínima.
Nesta época também
se dedicou a escrever pequenas obras de caráter espiritual. Um dos seus maiores
triunfos foi conseguir, em 1627, a aprovação de Urbano VIII para as
Constituições que regeriam a vida das Capuchinhas de Zaragoza, e dos mosteiros
que dele se originaram, durante três séculos.
Outra das obras de
Irmã Maria Ângela era o atendimento a todos quantos se acercassem do mosteiro
pedindo conselho ou buscando consolo. Entre estes estavam alguns bispos e o
Cardeal Teodoro Trivulzio, vice-rei de Aragão, com quem manteve uma relação
epistolar após o seu regresso para a Itália.
Um de seus
confessores mandou-a ler os místicos em voga naquele tempo, para ver se com
algum deles ela se sentia identificada: Santa Teresa de Jesus, São João da
Cruz, São Tomas de Jesus. A resposta de Maria Ângela foi negativa. Sua
experiência é mais próxima a de Santa Gertrudes de Helfta. Sua espiritualidade
litúrgica mereceu de João Paulo II a alcunha de mística do Breviário em
sua beatificação. Além disto, era especial seu culto e devoção pela Eucaristia
e a Missa; bem como uma grande devoção à Paixão e ao Coração de Jesus.
Em 9 de junho de
1645, acompanhada de outras quatro religiosas, seguiu para Murcia, inaugurando
em 29 de junho do mesmo ano o Mosteiro da Exaltação do Santíssimo Sacramento.
Ali exerceu os cargos de mestra de noviças e de abadessa. Entre suas discípulas
estava Irmã Úrsula Micaela Morata, que em 1672 seria a fundadora do Mosteiro de
Alicante.
Durante os anos em
que ela viveu em Murcia teve que enfrentar momentos difíceis, especialmente a
peste de 1648 e as inundações do Rio Segura em 1651 e 1653.
Em 1655 deixou de
escrever preparando-se para sua morte. A partir de 1660 foi perdendo suas
faculdades até acabar em um estado infantil. Em 1661 renunciou ao cargo de
abadessa. Em 21 de novembro de 1665 sofreu uma hemiplegia, recobrando
plenamente suas faculdades mentais. Morreu no dia 2 de dezembro do mesmo ano,
cantando o Pange Lingua e após receber os sacramentos. Tinha 75 anos
de idade.
A cidade de Murcia
participou de seu enterro, pois o povo tinha uma grande estima pela Madre
Fundadora, como era popularmente conhecida.
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