A
Igreja ouve esta palavra de Deus neste domingo, depois da solenidade de Todos
os Santos e depois do dia dedicado à comemoração de todos os fiéis falecidos.
A
Igreja ouve esta palavra no dia em que eleva à glória dos altares Tito
Brandsma, filho dos Países Baixos, um religioso da Ordem Carmelita.
Mais
uma vez, um homem que passou pelo tormento do campo de concentração, o de
Dachau, é elevado à glória dos altares. Um homem que "tenha sido castigado",
de acordo com as palavras da liturgia de hoje (Sb 3, 4).
E
bem no meio dessa punição, no meio do campo de concentração, que continua sendo
a marca infame de nosso século, Deus achou Tito Brandsma digno de si (Sb 3, 5).
Hoje
a Igreja relê os sinais desta provação divina e proclama a glória da Santíssima
Trindade, professando juntamente com o Autor do Livro da Sabedoria:
"As almas dos
justos estão nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá".
No
entanto, Tito Brandsma passou por um tormento: aos olhos dos homens, ele sofreu
punições.
Sim,
Deus o provou. Os sobreviventes deportados do campo de concentração sabem muito
bem que Calvário humano eram aqueles locais de punição.
Lugares
de grande provação do homem.
O
teste de forças físicas, impiedosamente empurrado até a aniquilação completa.
A
prova de forças morais. . .
Talvez
hoje o Evangelho, que lembra o mandamento do amor aos inimigos, nos fale ainda
melhor. Os campos de concentração foram organizados de acordo com o programa do
desprezo ao homem, de acordo com o programa de ódio.
Através
da prova da consciência, do caráter, do coração teve que passar um seguidor de
Cristo, que se lembrou de suas palavras sobre o amor dos inimigos!
Não
responda ao ódio com ódio, mas com amor. Esta é talvez uma das maiores provas
das forças morais do homem.
Tito
Brandsma saiu vitorioso desta prova. No meio da raiva do ódio, ele sabia amar;
todos, até seus torturadores: "Eles
também são filhos do bom Deus", disse ele, e quem sabe se alguma coisa
permanece neles...”
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 03 de novembro de 1985
Tito
Brandsma nasceu em Bolsward, povoado holandês em 23 de fevereiro de 1881.
Aos
17 anos vestiu o hábito do Carmelo exclamando: “a espiritualidade do Carmelo que é vida de oração e de terna devoção a
Maria, me levaram à feliz decisão de abraçar esta vida. O espírito do Carmelo me
fascinou!”. Emitiu seus votos religiosos em 1899 e se ordenou sacerdote em 1905.
Cursou
brilhantemente seus estudos, primeiro em sua Pátria e depois passou a Roma,
onde se doutorou em filosofia. Retornando à Holanda, se entregou de cheio a
toda classe de apostolado: escreveu livros e artigos em várias revistas; deu
aulas dentro e fora do convento; pregou e dirigiu cursilhos; organizou
congressos; confessou e administrou outros sacramentos.
Todos
se admiram de como pode chegar a todos os lugares (a todas as partes). E do que
mais se admiram é que, antes de tudo, é religioso observante, alma de profunda
oração, fervoroso sacerdote e profundamente sensível e humilde.
Foi
co-fundador da Universidade Católica de Nimega, catedrático e reitor magnífico
da mesma. Assessor religioso de todos os editores de periódicos (revistas,
jornais) da Holanda, em cujo campo trabalhou com grande zelo e acerto.
Suscitou
o ódio dos nazistas por causa de seus escritos que denunciavam os erros e
desmandos da doutrina nazista. Era a pessoa pública mais conhecida de seu país.
Sua atividade apostólica pela escrita não poderia passar despercebida pela
Gestapo e as SS nazistas.
Na
tarde de segunda-feira, 19 de janeiro de 1942, foi capturado pelos “SS”
nazistas e encarcerado em vários campos de concentração. Seis longos meses de
calvário, sobretudo no “inferno” de Dachau (campo de concentração tão terrível
como o de Auchwitz). Por fim, por seu grande amor à Igreja e a seus irmãos, no
domingo, dia 26 de julho de 1942, seu corpo caía por terra, como o “grão de
trigo” do Evangelho, por obra de uma injeção mortal de ácido fênico. Todos no
campo repetiam: “morreu um santo”!
Padre
Tito Brandsma, em seus meses de prisão, sempre se conservou sereno, levando a
todos a bondade e o amor que ardiam em seu coração. Foi um “anjo” para os
demais prisioneiros, já acabrunhados e desesperados por tanto sofrimento.
Em
Dachau, o padre Tito é feliz no tormento, porque tem com ele a hóstia consagrada,
um presente de padres alemães deportados. "Prega" em voz baixa a
pequenos grupos de camaradas, recita de cor as palavras da missa. Quando ele
não pode se mover, há o hospital nos últimos oito dias. E então vem a
"enfermeira" com a seringa: ácido fênico nas veias, morte e
crematório.
Há
uma ordem para queimar até os papéis que lhe dizem respeito. Mas alguém os
salva; eles servirão para a sua beatificação como mártir. Mas de um dos seus
esconderijos, pede para testemunhar também a enfermeira assassina de Dachau: a
doadora de morte. Ela revela que o prisioneiro, nos últimos momentos da vida,
ofereceu-lhe sua coroa de rosário (feita de material improvisado). "Eu não rezo, não posso rezar!"
Ela respondeu. Ele não queria isso. E o padre Tito assegurou-lhe: "Basta você dizer: rogai por nós
pecadores".
Foi
beatificado pelo Papa João Paulo II, em 03 de novembro de 1985, que falou: “Frei Tito Brandsma foi o maior
carmelita do século XX”.
Oração
feita diante da imagem de Cristo na prisão:
“Ó Jesus, quando te
contemplo,
Eu redescubro, a sós contigo,
Que te amo e que teu coração
Me ama como a um dileto amigo.
Eu redescubro, a sós contigo,
Que te amo e que teu coração
Me ama como a um dileto amigo.
Ainda que a
descoberta exija
Coragem, faz-me bem a dor:
Por ela me assemelho a ti
Que ela é o caminho redentor.
Coragem, faz-me bem a dor:
Por ela me assemelho a ti
Que ela é o caminho redentor.
Na minha dor me
rejubilo:
Já não a julgo sofrimento,
Mas sim predestinada escolha
Que me une a ti neste momento.
Já não a julgo sofrimento,
Mas sim predestinada escolha
Que me une a ti neste momento.
Deixa-me, pois, nessa
quietude,
Malgrado o frio que me alcança.
Presença humana não permitas,
Que a solidão já não me cansa,
Malgrado o frio que me alcança.
Presença humana não permitas,
Que a solidão já não me cansa,
Pois de mim sinto-te
tão próximo
Como jamais antes senti.
Doce Jesus, fica comigo,
Que tudo é bom junto de ti”.
Como jamais antes senti.
Doce Jesus, fica comigo,
Que tudo é bom junto de ti”.
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