Com essas palavras
Jesus não quer cancelar o quarto mandamento, e nem podemos pensar que o Senhor,
depois de ter realizado o seu milagre pelos esposos de Caná, depois de ter
consagrado o vínculo conjugal entre o homem e a mulher, depois de ter
restituído filhos e filhas à vida familiar, nos peça para ser insensíveis a
estes vínculos! Esta não é a explicação.
Ao contrário,
quando Jesus afirma a primazia da fé em Deus, não encontra um termo de comparação
mais significativo dos afetos familiares. E, aliás, estes mesmos laços
familiares, dentro da experiência da fé e do amor de Deus, são transformados,
são repletos de um sentido maior e tornam-se capazes de ir além de si
mesmos, para criar uma paternidade e uma maternidade mais amplas, e para
acolher como irmãos e irmãs também aqueles que estão nas margens de cada
vínculo.
Um dia, a quem lhe
disse que fora a sua mãe e os seus irmãos andavam à sua procura, Jesus
respondeu, indicando os seus discípulos: “Eis
aqui minha mãe e meus irmãos! Aquele que faz a vontade de Deus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe”.
A sabedoria dos afetos
que não se compram e não se vendem é o melhor talento do gênio familiar.
Precisamente em família aprendemos a crescer naquela atmosfera de sabedoria dos
afetos. A sua gramática aprende-se ali, caso contrário é muito difícil
aprendê-la. E é exatamente esta a linguagem através da qual Deus se faz
compreender por todos.
O convite a pôr os
vínculos familiares no âmbito da obediência da fé e da aliança com o Senhor não
os mortifica; pelo contrário, protege-os, liberta-os do egoísmo, preserva-os da
degradação, põe-nos em salvo para a vida que não morre.
Quando os afetos
familiares se deixam converter ao testemunho do Evangelho, tornam-se capazes de
coisas impensáveis, que fazem tocar com mão as obras de Deus, aquelas obras que
Deus realiza na história, como as que Jesus realizou em prol dos homens, das
mulheres, das crianças que encontrou.
Um só sorriso
roubado milagrosamente ao desespero de uma criança abandonada, que recomeça a
viver, explica-nos o agir de Deus no mundo mais de mil tratados de teologia. Um
só homem e uma só mulher, capazes de arriscar e de se sacrificar por um filho
de outros, e não só pelo próprio, explicam-nos coisas do amor que muitos
cientistas já não compreendem. E onde há estes afetos familiares, nascem estes
gestos do coração que são mais eloquentes do que as palavras. O gesto do
amor...
Papa
Francisco – 02 de setembro de 2015
Hoje celebramos:
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