Arsênio, que
pertencia a uma nobre e tradicional família de senadores, nasceu por volta do
ano 350, em Roma. Segundo os
registros, ele foi ordenado sacerdote, pessoalmente, pelo papa Dâmaso. Em 383,
o próprio imperador Teodósio convidou-o para cuidar da educação e formação de
seus filhos Arcádio e Honório, em Constantinopla. Arsênio permaneceu na Corte
por onze anos, até 394. Após a morte de seus pais, Afrositty sua irmã foi
admitida numa comunidade de virgens, ele doou toda a sua herança para os pobres
e passou a viver uma vida asceta, tendo retirado-se para o deserto no
Egito.
O mundo católico
passava por muitas transformações. Nos séculos anteriores, o martírio, a morte
pela fé na palavra de Cristo, era o melhor exemplo para a salvação da alma. A
partir do século IV, a "morte em vida" passou a ser o sacrifício mais
perfeito para a purificação, com o aparecimento dos eremitas no Oriente. Eram
cristãos e isolavam-se no deserto, em oração e penitência, numa vida solitária
e contemplativa, como forma de servir a Deus.
No início,
sozinhos, depois se organizavam em pequenas comunidades. Havia apenas uma regra
ascética, para fixar o período de jejum e oração, mas que mantinha uma rígida
separação, inclusive de convivência entre eles mesmos.
Arsênio tornou-se
um deles. O seu refúgio, no deserto egípcio da Alexandria, era dos mais
procurados pelos cristãos, que buscavam, na sabedoria e santidade de alguns
ermitãos, conselhos e paz para as aflições da alma, mesmo que para tanto
tivessem de fazer longas e cansativas peregrinações.
A antiga tradição
diz que ele não gostava muito de interromper seu exílio voluntário para atender
aos que o procuravam. Mas, para não usufruir o egoísmo da solidão total,
decidiu juntar-se aos eremitas de Scete, também no deserto da Alexandria, os
quais já viviam parcialmente em comunidade, para não se isolarem totalmente dos
demais seres humanos.
Um monge certa vez
perguntou a Arsênio o que ele deveria fazer quando lesse as Sagradas Escrituras
e não compreendesse o seu significado. O Ancião respondeu: "Meu
filho, tu deves estudar e aprender as Sagradas Escrituras constantemente, ainda
que não entendas o seu poder ... Pois, quando temos as palavras das Sagradas
Escrituras em nossos lábios, os demônios, ouvindo-as, ficarão aterrorizados .
Em seguida, fogem de nós, incapazes de suportar as palavras do Espírito Santo
que fala através de Seus apóstolos e profetas. "
Os monges ouviram
como o santo muitas vezes se esforça no trabalho, induzindo o ânimo repetindo
as seguintes palavras: "Levanta-te, Arsênio, trabalha! Não fiques
ocioso! Tu não vieste aqui para descansar, mas para o trabalho."
Ele também
dizia: "Muitas vezes tenho lamentado as palavras que eu falei, mas
nunca me arrependi do meu silêncio."
Mas a paz e a tranquilidade
daqueles religiosos findaram com a invasão de uma tribo das redondezas.
Arsênio, então, abandonou o local. Entre 434 e 450, viveu isolado vagando pelo
deserto, só nos últimos anos aceitando a companhia de uns poucos discípulos.
Ele acabou recebendo de Deus o dom das lágrimas. Em oração ou penitência,
quando se emocionava com o Evangelho, caia em prantos. Morreu em Troc,
perto de Mênfis, em 450, com cerca de 100 anos.
Durante cinquenta e
cinco anos de vida solitária, foi sempre o mais maltrapilho de todos, se
punindo pela aparente vaidade do período anterior de sua vida. De maneira
similar, para se penitenciar por ter usado perfume na corte, ele nunca trocava
a água na qual ele umedecia as folhas de palma que ele usava para fazer seu
colchão, simplesmente adicionava água quando a que ali estava evaporava, o que
exalava um odor pútrido.
Mesmo quando ele se dedicava aos trabalhos manuais,
ele jamais relaxava sua atenção às orações. A todo momento, lágrimas de devoção
caíam de seus olhos.
Mas o que o distinguiu dos demais era a sua falta de
vontade de agir como conselheiro de seu antigo pupilo, o agora imperador romano
Arcádio, se negando até mesmo a ser o seu distribuidor de esmolas para os
pobres e para os mosteiros da região. Ele invariavelmente se negava a receber
visitas, não importando o quão importantes ou a condição em que estavam,
deixando para seus discípulos o cuidado de recebê-las.
A importância de
santo Arsênio na história da Igreja prende-se à importância da época em que
nasceu e viveu. Foi um dos mais conhecidos eremitas do Egito, sendo considerado
um dos "Padres do deserto". O seu legado chegou-nos por meio de uma
crônica biográfica e de suas sábias máximas, escritas por Daniel de Pharan, um
dos seus discípulos. Além de um retrato estampando sua bela figura de homem
alto e astuto, feito pelo mesmo discípulo.
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