Hoje a Igreja
agradece ao seu Senhor, que a abençoa e a imbui de luz com o esplendor da
santidade destes filhos e filhas da China. Não é porventura o Ano Santo o
momento mais oportuno para fazer resplandecer o seu testemunho heroico? A jovem
Ana Wang, com catorze anos, resiste às ameaças do carnífice que a convida a
renegar e, dispondo-se à decapitação, declara com o rosto radiante: "A
porta do Céu está aberta a todos" e murmura três vezes "Jesus".
E Chi Zhuzi, com dezoito anos, grita destemido aos que acabavam de lhe cortar o
braço direito e se preparavam para o esfolar vivo: "Cada pedaço da minha
carne, cada gota do meu sangue vos repetirão que sou cristão".
Igual convicção e
alegria testemunharam os outros 85 chineses, homens e mulheres de todas as
idades e condições, sacerdotes, religiosos e leigos, que selaram a própria
indefectível fidelidade a Cristo e à Igreja com o dom da vida. Isto aconteceu
ao longo de vários séculos e em complexas e difíceis épocas da história da
China. Esta celebração não é a ocasião oportuna para formular juízos sobre
aqueles períodos históricos: poder-se-á e dever-se-á fazê-lo noutra
circunstância. Com esta solene proclamação de santidade, a Igreja só
deseja reconhecer que aqueles Mártires constituem um exemplo de coragem e
de coerência para todos nós e honram o nobre povo chinês.
Nesta plêiade de
Mártires resplandecem também 33 missionários e missionárias, que deixaram a sua
terra e procuraram introduzir-se na realidade chinesa, assumindo com amor as
suas características, no desejo de anunciar Cristo e de servir aquele povo. Os
seus túmulos estão lá, como que a significar a sua definitiva pertença à China,
que eles, apesar dos seus limites humanos, amaram com sinceridade, despendendo
por ela as suas energias. "Nunca fizemos mal a ninguém responde Dom Francisco Fogolla ao governador que se prepara para o golpear com a espada. Ao
contrário, fizemos o bem a muitos".
Papa
João Paulo II – 01 de outubro de 2000 – homilia de canonização
José Maria
Gambaro nasceu na província de Novara (Itália), em 7 de agosto de 1869 de
Pacifico e Francesca Bozzolo, pais piedosos, e recebeu no batismo o nome de
Bernardo. Ele cresceu alegre e um exemplo de bondade e
pureza; aos oito anos fez a Primeira
Comunhão, que era raro na época e já aos 13 anos, depois de ter seguido um
curso de Exercícios Espirituais pregados na aldeia pelos Padres Passionistas,
amadureceu nele o ideal de se tornar religioso.
Tinha cerca de 17 anos quando pediu permissão para seus amados pais e foi admitido no Colégio Seráfico de Monte Mesma, localizado no Lago Orta; seu antigo superior atestou que Bernardo era conhecido por sua docilidade e obediência às Regras e por sua dedicação constante ao estudo. Em 27 de setembro de 1886 foi admitido no noviciado do mesmo convento, mudando seu nome para José Maria.
Ativo e ao mesmo
tempo circunspecto, entusiasta sem deixar de ser prudente, foi apreciado pelos
superiores, ao ponto de o escolherem, quando ainda era clérigo teólogo, para
assistente dos irmãos jovens em Ornavasso. Uma escolha muito acertada, pois a
sua natureza perspicácia, aliada ao bom exemplo que dava e à afabilidade com
que a todos tratava, produziu copiosos frutos naqueles jovens que se preparavam
para o sacerdócio e para a vida religiosa franciscana.
Logo após ser ordenado
sacerdote, em 1892, foi nomeado reitor do colégio de Ornavasso. Por um ano
apenas, porquanto, secundando os seus desejos, os superiores permitiram-lhe
seguir a vocação missionária.
Em 1896 abandonou a
Itália, e ao chegar à China foi destinado a Hu-nan.
A nova experiência
num primeiro momento apresentou para ele grandes dificuldades: os usos e
costumes tão diferentes dos europeus não foram tão difíceis de assimilar como a
língua. O vigário apostólico Fantosati, considerando as ótimas qualidades de
Gambaro, destinou-o a um seminário, onde durante três anos foi reitor e
professor, e incutiu entusiasmo em três jovens seminaristas que o admiravam e
imitavam. Mas quando faltou o missionário duma importante cristandade, José
Maria foi encarregado de o substituir. Com serena fortaleza e absoluto abandono
nas mãos do Senhor conseguiu fazer frente à vida missionária ativa e às suas
inevitáveis dificuldades.
No Pentecostes de
1900 foi chamado a Lei-yang por Mons. Fantosati, e passados poucos dias
dirigiram-se ambos a um lugar onde os pagãos tinham destruído a capela, a fim
de providenciarem à sua reconstrução. Aí se abateu sobre eles a perseguição,
que também estalou de improviso na residência do vigário apostólico. Logo que
receberam as primeiras tristes notícias, apressaram-se ambos a regressar à
sede. Debalde os cristãos insistiram com eles para se esconderem num refúgio
seguro; ambos declararam sem hesitação que o seu lugar era junto do rebanho em
perigo, custasse o que custasse, e para lá embarcaram de imediato.
Em
6 de julho, Mons. Fantosati,
o padre Gambaro e quatro cristãos subiram em um barco para retornar a
Hoang-scia-wan. Por volta do meio dia de 7 de julho o barco chegou no rio
perto da cidade; Reconhecido por alguns
garotos e aos gritos de "morte aos europeus" a turba da costa, tomou
os barcos dos pescadores e cercou a dos missionários, que mal conseguiam sair
da costa, onde agredidos pela multidão, foram massacrados com pedras e golpes
de pau; Padre Gambaro morreu depois de
cerca de vinte minutos de espancamento.
Alguém contou que o
Padre José Maria, já agonizante, ainda teve forças para pronunciar as suas últimas
palavras sobre a terra: “Jesus, tem
piedade e salva-nos”. Ele contava 31 anos de idade, 14 de religioso, 8 de
sacerdócio e 4 de missionário.
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