A simplicidade
evangélica também era uma característica marcante da figura de Catarina
Jarrige. Sua existência humilde e luminosa nos faz pensar espontaneamente em
Maria de Nazaré, a cujos exemplos a nova Beata inspirou sua generosa dedicação
em servir aos outros.
Papa
João Paulo II – 24 de novembro de 1996
Catarina Jarrige nasceu
no dia 4 de outubro de 1754, em Doumis, Cantal, França. A última a nascer numa
família de sete filhos, ela tinha três irmãos e três irmãs. Era uma família de
agricultores pobres. Pierre Jarrige, o pai, trabalhava duro para sustentar a
família toda que se acomodava em um único cômodo da casa.
Catarina levava a
vida simples de uma pequena camponesa pobre de seu tempo. Na época, a
escolaridade não era obrigatória e, como muitas meninas de então, não frequentou
a escola. Ela adquiriu aquela sabedoria rural transmitida pela experiência e
ensinamento dos mais velhos, o contato cotidiano com a natureza e o Catecismo.
Vivia nos campos com seus irmãos e as crianças dos arredores, guardava as
cabras e as ovelhas, levando-as para pastar.
Aos dez anos, para
auxiliar nas despesas da casa, Catarina foi trabalhar como doméstica em uma
fazenda e quando tinha doze ou treze anos, fez sua Primeira Comunhão. Para isto
ela se preparou com todo cuidado e, de maneira geral, o fato produziu uma
mudança nela. Na adolescência, se tornou mais séria, dedicada à oração.
Sua mãe faleceu na
idade de 47 anos quando Catarina tinha apenas 13 anos.
Embora sua infância
pobre tivesse sido calma e piedosa, não faltaram as dificuldades e estas provas
forjaram uma alma forte e corajosa. Catarina era alegre, jamais perdia o bom
humor, risonha sempre e um pouco travessa.
Crescendo, Catarina
aprendeu a dançar, uma das poucas alegrias no meio rural de então. Ela se
apaixonou pela dança. Mas, quando tomou consciência que o Senhor a chamava para
algo maior, renunciou a este inocente prazer, não sem uma enorme batalha para
dominar sua natureza impetuosa.
Este sacrifício ela
o fez para colocar-se a serviço dos pobres, dos órfãos e dos doentes, se
consagrando a Deus. Para mais se dedicar à vocação para a qual Deus a chamava
se fixou em Mauriac. Como sua patrona, Santa Catarina de Siena, ela
escolheu a Ordem Terceira Dominicana para nela ingressar.
As terciárias
faziam votos, mas viviam no mundo, onde eram chamadas de “menette” ou
“monjinha”, em português, e Catarina ficou conhecida como “Catinon-Menette”,
uma forma carinhosa de tratá-la.
As terciárias
deviam ser, no meio de seus contemporâneos, testemunhas da ternura de Deus. A
regra prescrevia horas de oração, assistência cotidiana a Missa, a recitação do
rosário, o serviço dos mais pobres, dos doentes e dos órfãos, e a catequese.
Durante 60 anos,
até a idade de 82 anos, ela serviu aos mais necessitados. Para ajudá-los, ela
procurava os mais afortunados e lhes pedia donativos. E ela sabia insistir, despertando
suas consciências e concluindo: - “Vamos,
vamos, dê ou eu pego”.
Quando encontrava
uma criança órfã, ou pobre, sofredora, Catarina a tomava pela mão, a levava
para sua casa, ou para alguma casa de caridade, e ali a aquecia, servia
alimento, arrumava sua roupa. E a mandava de volta com o que ela podia dar.
Amiga dos pobres,
ela mesma vivia numa grande pobreza. Ela vivia com sua irmã numa pobre choupana.
Quantas vezes ela doou suas roupas ou seus calçados! Ela dava seu próprio
alimento... Sua força vinha da oração que ela fazia na igreja, em sua casa, e
até mesmo nas ruas da cidade.
Durante a Revolução
Francesa, Catarina sentiu enormemente a dilaceração da Igreja, o cisma,
resultante da Constituição Civil do Clero. Havia então duas Igrejas na França.
Ela sofria por ver a lei francesa consagrar a ruptura da comunhão com a Igreja
de Roma, com o Papa, a supressão da vida consagrada, da vida religiosa, a
descristianização sob o Terror, as perseguições injustas contra o clero
refratário.
Durante a tormenta,
ela compreendeu que o que estava em jogo era a sobrevivência da Igreja, a
continuação do anúncio do Evangelho pela Igreja de Cristo. Recusou-se a
assistir os ofícios do clero constitucional e começou a ajudar os refratários
perseguidos a exercer seu ministério clandestinamente. Ela escondeu dois
refratários em sua casa.
Em pleno Terror,
Catarina percorria os bosques para levar alimento, vestimentas e objetos de
culto para a celebração da Missa, aos padres que se escondiam. Ela acompanhou o
Abade François Filiol, condenado à morte aos 29 anos, até o cadafalso e
recolheu seu sangue como os primeiros cristãos recolhiam o sangue dos mártires.
Ela foi presa duas
vezes. Ela foi levada a julgamento uma vez e foi liberada por falta de provas.
Ela não temia arriscar sua vida. A lei punia os suspeitos e os receptadores de
padres refratários.
Passada a época
terrível da Revolução, ela continuou a levar sua ajuda ao clero para
reconstruir a paróquia de Mauriac. Até 1836, ela trabalhou incessantemente
junto aos pobres, órfãos e doentes.
Após uma vida plena
de serviço e de amor a Igreja e aos pobres, Catinon-Menette entregou sua alma a
Deus, no dia 4 de julho de 1836.
O Papa João Paulo
II proclamou-a oficialmente beata no dia 24 de novembro de 1996.
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