O Evangelho hoje nos apresenta Jesus que com o
poder do Espírito vai sábado à sinagoga de Nazaré. Como bom observante, o
Senhor não se subtrai ao ritmo litúrgico semanal e une-se à assembleia dos seus
compatriotas na oração e na escuta das Escrituras. O rito prevê a leitura de um
texto da Tora, ou dos Profetas, seguida de um comentário. Naquele
dia, Jesus ergueu-se para ler e encontrou um trecho do profeta Isaías que
começa assim: O espírito do Senhor repousa sobre mim, / porque o Senhor me
consagrou pela unção; / enviou-me a levar a boa nova aos humildes.
Orígenes comenta: Não é por acaso que ele abriu
o rolo e encontrou o capítulo da leitura que profetiza acerca dele, mas também
isto foi obra da providência de Deus.
Com efeito, após ter terminado a leitura, num
silêncio repleto de atenção, Jesus disse: Hoje cumpriu-se este oráculo que
[agora] vós acabais de ouvir.
São Cirilo de Alexandria afirma que o hoje,
inserido entre a primeira e a última vinda de Cristo, está vinculado à
capacidade que o fiel tem de ouvir e de se arrepender. Mas, num sentido ainda
mais radical, o próprio Jesus é o hoje da salvação na história, porque
leva a cumprimento a plenitude da redenção. O termo hoje, muito querido
a são Lucas, leva-nos ao título cristológico preferido pelo mesmo evangelista,
ou seja, salvador. Já nas narrações da infância, ele é apresentado com as
palavras que o anjo dirigiu aos pastores: Hoje nasceu-vos na Cidade de David
um Salvador, Cristo Senhor.
Caros amigos, este trecho interpela-nos hoje
também a nós. Antes de tudo, faz-nos pensar no nosso modo de viver o domingo:
dia do descanso e da família, mas antes ainda dia a dedicar ao Senhor,
participando na Eucaristia, na qual nos alimentamos do Corpo e Sangue de Cristo
e da sua Palavra de vida.
Em segundo lugar, no nosso tempo dispersivo e
distraído, este Evangelho convida-nos a interrogar-nos sobre a nossa capacidade
de escuta. Antes de poder falar de Deus e com Deus, é preciso ouvi-lo, e a
liturgia da Igreja é a escola desta escuta do Senhor que nos fala. Enfim,
diz-nos que cada momento pode tornar-se um hoje propício para a nossa
conversão. Cada dia pode tornar-se o hoje salvífico, porque a salvação é
história que continua para a Igreja e para cada discípulo de Cristo. Este é o
sentido cristãos do carpe diem: aproveita o hoje em que
Deus te chama para te conceder a salvação!
Papa Bento XVI – 27 de
janeiro de 2013
Hoje celebramos:
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