Nºs 268 a
273
Os bispos dos Estados Unidos deixaram claro que
frequentemente a juventude, uma vez atingida a maioridade, marca a entrada duma
pessoa no mundo do trabalho. “Que fazes
para viver?” é tema constante de conversa, porque o trabalho é uma parte
muito importante da sua vida. Para os jovens adultos, esta experiência é muito
fluida, porque passam dum emprego para outro e mesmo duma carreira para outra. O trabalho pode definir o uso do tempo e
determinar o que se pode fazer ou comprar. E pode determinar também a qualidade
e a quantidade de tempo livre. O trabalho define e influi na identidade e noção
de si mesmo que tem um jovem adulto, sendo um lugar fundamental onde se
desenvolvem as amizades e outras relações, porque habitualmente não se trabalha
sozinho. Homens e mulheres jovens falam do trabalho como cumprimento duma
função e como algo que lhes proporciona um sentido. Aquele permite aos jovens
adultos satisfazer as suas necessidades práticas e – mais importante ainda –
procurar o significado e a realização dos seus sonhos e visões. Ainda que o
trabalho não ajude a alcançar os seus sonhos, resta importante para os adultos
jovens poder cultivar uma visão, aprender a trabalhar de maneira realmente
pessoal e satisfatória para a sua vida e continuar a discernir a chamada de
Deus.
Peço aos
jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda dos outros.
Isto não faz bem, porque o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da
vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Neste sentido, ajudar
os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar
emergências. Assim, a espiritualidade cristã, a par da admiração contemplativa
das criaturas que encontramos em São Francisco de Assis, desenvolveu também uma
rica e sadia compreensão do trabalho, como podemos encontrar, por exemplo, na
vida do Beato Carlos de Foucauld e
seus discípulos.
Salientamos que o mundo do trabalho é uma área
onde os jovens experimentam formas de exclusão e marginalização. A primeira e a
mais grave é o desemprego juvenil, que, em alguns países, atinge níveis
exorbitantes. Para além de os empobrecer, a falta de trabalho rescinde nos
jovens a capacidade de sonhar e esperar, e priva-os da possibilidade de
contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Em muitos países, esta situação depende do fato de alguns setores da
população juvenil carecerem de competências profissionais adequadas, devido
também às deficiências do sistema educacional e formativo. Muitas vezes, a
precariedade ocupacional que aflige os jovens fica-se a dever aos interesses
econômicos que exploram o trabalho.
É uma questão muito delicada que a política
deve considerar como prioritária, sobretudo hoje que a velocidade dos avanços
tecnológicos, aliada à obsessão de reduzir os custos laborais, pode levar
rapidamente à substituição de inúmeros postos de trabalho por máquinas. Trata-se duma questão fundamental da
sociedade, porque o trabalho, para um jovem, não é simplesmente uma atividade
para ganhar dinheiro. É expressão da dignidade humana, é caminho de maturação e
inserção social, é um estímulo constante para crescer em responsabilidade e
criatividade, é uma proteção contra a tendência para o individualismo e a
comodidade, e serve também para dar glória a Deus com o desenvolvimento das
próprias capacidades.
Nem sempre um jovem tem a possibilidade de
decidir a que vai dedicar os seus esforços, em que tarefas vai empregar as suas
energias e a sua capacidade de inovação. Com efeito, aos próprios desejos e
mesmo às próprias capacidades e discernimento que a pessoa pode maturar,
sobrepõem-se os duros limites da realidade. É verdade que não podes viver sem trabalhar e que, às vezes, tens de
aceitar o que encontras, mas nunca renuncies aos teus sonhos, nunca enterres definitivamente
uma vocação, nunca te dês por vencido. Continua sempre a procurar, ao
menos, modalidades parciais ou imperfeitas de viver aquilo que, no teu
discernimento, reconheces como uma verdadeira vocação.
Quando
alguém descobre que Deus o chama para uma coisa concreta, que está feito para
isso – enfermagem, carpintaria, comunicação, engenharia, ensino, arte ou
qualquer outro trabalho –, então será capaz de fazer desabrochar as suas
melhores capacidades de sacrifício, generosidade e dedicação. O fato de uma pessoa
saber que não faz as coisas por fazer, mas com um significado, como resposta a
um chamado – que ressoa nas profundezas do seu ser – para contribuir com algo a
bem dos outros, isto faz com que estas atividades deem ao próprio coração uma
particular experiência de plenitude. Assim o diz o livro bíblico do
Eclesiastes: Reconheci que não há
felicidade maior para o homem do que alegrar-se com as suas obras.
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