terça-feira, 2 de julho de 2019

Christus vivit: A vocação – O trabalho – nºs 268 a 273


Nºs 268 a 273

Os bispos dos Estados Unidos deixaram claro que frequentemente a juventude, uma vez atingida a maioridade, marca a entrada duma pessoa no mundo do trabalho. “Que fazes para viver?” é tema constante de conversa, porque o trabalho é uma parte muito importante da sua vida. Para os jovens adultos, esta experiência é muito fluida, porque passam dum emprego para outro e mesmo duma carreira para outra. O trabalho pode definir o uso do tempo e determinar o que se pode fazer ou comprar. E pode determinar também a qualidade e a quantidade de tempo livre. O trabalho define e influi na identidade e noção de si mesmo que tem um jovem adulto, sendo um lugar fundamental onde se desenvolvem as amizades e outras relações, porque habitualmente não se trabalha sozinho. Homens e mulheres jovens falam do trabalho como cumprimento duma função e como algo que lhes proporciona um sentido. Aquele permite aos jovens adultos satisfazer as suas necessidades práticas e – mais importante ainda – procurar o significado e a realização dos seus sonhos e visões. Ainda que o trabalho não ajude a alcançar os seus sonhos, resta importante para os adultos jovens poder cultivar uma visão, aprender a trabalhar de maneira realmente pessoal e satisfatória para a sua vida e continuar a discernir a chamada de Deus.

Peço aos jovens que não esperem viver sem trabalhar, dependendo da ajuda dos outros. Isto não faz bem, porque o trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida nesta terra, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Neste sentido, ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. Assim, a espiritualidade cristã, a par da admiração contemplativa das criaturas que encontramos em São Francisco de Assis, desenvolveu também uma rica e sadia compreensão do trabalho, como podemos encontrar, por exemplo, na vida do Beato Carlos de Foucauld e seus discípulos.

Salientamos que o mundo do trabalho é uma área onde os jovens experimentam formas de exclusão e marginalização. A primeira e a mais grave é o desemprego juvenil, que, em alguns países, atinge níveis exorbitantes. Para além de os empobrecer, a falta de trabalho rescinde nos jovens a capacidade de sonhar e esperar, e priva-os da possibilidade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Em muitos países, esta situação depende do fato de alguns setores da população juvenil carecerem de competências profissionais adequadas, devido também às deficiências do sistema educacional e formativo. Muitas vezes, a precariedade ocupacional que aflige os jovens fica-se a dever aos interesses econômicos que exploram o trabalho.

É uma questão muito delicada que a política deve considerar como prioritária, sobretudo hoje que a velocidade dos avanços tecnológicos, aliada à obsessão de reduzir os custos laborais, pode levar rapidamente à substituição de inúmeros postos de trabalho por máquinas. Trata-se duma questão fundamental da sociedade, porque o trabalho, para um jovem, não é simplesmente uma atividade para ganhar dinheiro. É expressão da dignidade humana, é caminho de maturação e inserção social, é um estímulo constante para crescer em responsabilidade e criatividade, é uma proteção contra a tendência para o individualismo e a comodidade, e serve também para dar glória a Deus com o desenvolvimento das próprias capacidades.

Nem sempre um jovem tem a possibilidade de decidir a que vai dedicar os seus esforços, em que tarefas vai empregar as suas energias e a sua capacidade de inovação. Com efeito, aos próprios desejos e mesmo às próprias capacidades e discernimento que a pessoa pode maturar, sobrepõem-se os duros limites da realidade. É verdade que não podes viver sem trabalhar e que, às vezes, tens de aceitar o que encontras, mas nunca renuncies aos teus sonhos, nunca enterres definitivamente uma vocação, nunca te dês por vencido. Continua sempre a procurar, ao menos, modalidades parciais ou imperfeitas de viver aquilo que, no teu discernimento, reconheces como uma verdadeira vocação.

Quando alguém descobre que Deus o chama para uma coisa concreta, que está feito para isso – enfermagem, carpintaria, comunicação, engenharia, ensino, arte ou qualquer outro trabalho –, então será capaz de fazer desabrochar as suas melhores capacidades de sacrifício, generosidade e dedicação. O fato de uma pessoa saber que não faz as coisas por fazer, mas com um significado, como resposta a um chamado – que ressoa nas profundezas do seu ser – para contribuir com algo a bem dos outros, isto faz com que estas atividades deem ao próprio coração uma particular experiência de plenitude. Assim o diz o livro bíblico do Eclesiastes: Reconheci que não há felicidade maior para o homem do que alegrar-se com as suas obras.

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