Desde a mais
tenra infância, apesar da precariedade da sua saúde, mostrou nobreza de
espírito, apego à família e à Igreja, e sensibilidade para com os necessitados.
As mortes e destruições causadas pela primeira guerra mundial influenciaram a
sua opção vocacional, já marcada por uma vida familiar cristã exemplar,
caracterizada pela obediência, o amor filial e a observância dos preceitos divinos.
Em 21 de novembro
de 1906 fez o voto de virgindade e, depois de alguns anos de contato com os
membros da Associação das Filhas de Maria, foi inspirada a fundar a Associação
do Bom Pastor, cujo carisma viria a ser a visita aos doentes, a preparação dos
adolescentes para a primeira comunhão e a reparação das ofensas feitas a Jesus.
Em 1915
fundou também a Sociedade das Mães Católicas, formada por uma centena de
mulheres e, a partir de 1917, passou a orientar as Terceiras Franciscanas, que
então contavam cerca de duzentos membros, ajudando a "Cozinha
Popular" das Irmãs Servas da Caridade, a distribuir aproximadamente
três mil refeições às pessoas mais necessitadas, e prometendo solenemente ao
Bispo Ordinário local que, a partir de então, viveria no meio dos pobres. E o
Senhor infundiu muitos dons na sua alma eleita, que difundia luminosidade à sua
volta.
Em 1919,
Maria entrou no convento das Servas da Caridade. Todavia, por motivos
políticos, as irmãs fundadoras, que eram italianas, tiveram que regressar à pátria
e assim, o Bispo local nomeou Maria superiora provisória da nova ordem, cujos
fundamentos espirituais seriam a obediência, o amor e o altruísmo. No final
desse mesmo ano, Maria fundou três instituições de assistência à infância
necessitada e, embora se considerasse indigna, compreendeu com grande
clarividência que Deus a estava preparando para grandes obras.
A nova
congregação, do ramo franciscano, foi fundada oficialmente no dia 4 de outubro
de 1920, com o título de Filhas da Misericórdia e a jovem recebeu o nome
religioso de Maria de Jesus Crucificado e foi eleita superiora-geral. A
jovem fundadora encontrou-se imediatamente diante de infinitas dificuldades,
que procurava vencer com a oração, a fé em Deus e o trabalho árduo: a
educação dos jovens membros, o plano de trabalho, a construção de novas casas,
a falta de meios de sustento, a redacção das primeiras Constituições (aprovadas
em 1923), a consolidação e a conservação da identidade da sua instituição
religiosa.
Durante
quarenta anos à frente da Congregação (de 1920 a 1952, foi eleita
superiora-geral cinco vezes consecutivas), Madre Maria abriu vinte e duas
casas, preparando trinta religiosas para as missões na América Latina, onde
viriam a ser fundadas novas casas (Argentina, Paraguai, Chile, Peru e Uruguai),
assim como na Itália e na Espanha. A Sagrada Congregação para os Religiosos
reconheceu esta ordem como "instituição canônica" em 1927
atribuindo-lhe, no ano seguinte, a condição de "direito diocesano" e,
em 1944, por ocasião do 25º aniversário de fundação, também o "decretum
laudis".
A
espiritualidade de Maria apresenta três aspectos de base: provavelmente
marcada pela experiência de bondade vivida em família, manifestava uma relação
filial repleta de confiança no Pai misericordioso; além disso, a profunda
confiança no amor ao Filho, que inspirou toda a sua vida; por fim, a incessante
invocação da sabedoria do Espírito Santo, que é o ator de toda a santificação.
As virtudes teologais da fé, da esperança e da caridade, em relação a Deus e ao
próximo, e as virtudes cardeais que ela exerceu ao nível mais excelso,
realçaram a sua sensibilidade ao voto de castidade.
Maria de
Jesus Crucificado distinguiu-se ainda na fidelidade à Igreja e na obediência
perfeita, mesmo nos momentos mais difíceis da sua vida: quando recebeu
respostas negativas dos responsáveis a vários níveis, quando deixou o cargo do
governo da sua Congregação e quando ficou paralisada na parte esquerda do seu
corpo, nos últimos três anos de vida, aceitando como sinal da Vontade divina
tudo aquilo que a Igreja lhe ensinava. Foi uma mulher forte, de consciência reta,
grande trabalhadora e capaz de suportar todo o tipo de dor e sofrimento,
permanecendo sempre aberta às inspirações do Espírito Santo e aos preceitos da
Igreja, como nos mostram a sua vida e as suas numerosas obras. É por isso que,
com fama de santidade e um milagre já reconhecido, agora pode ser elevada às
honras dos altares pela Igreja que ela tanto amou.
A semente de
santidade que Deus lançou no coração da pequena Maria cresceu primeiro na sua
consciência e depois no seu compromisso, revigorando-se na família e na
comunidade paroquial, onde amadureceram os primeiros frutos de amor ao próximo,
no carisma que a levou a fundar novas casas em ordem a ajudar as pessoas marginalizadas
da sociedade, para maior glória de Deus e a honra da Igreja católica.
A Serva de
Deus faleceu no dia 9 de julho de 1956, depois de um prolongado período de
enfermidade e indizíveis sofrimentos.
Foi
beatificada pelo Papa João Paulo II em 06 de junho de 2003 que em sua homilia declarou:
"Bom Mestre, que devo fazer para
herdar a vida eterna?" É a pergunta que a Irmã Maria de Jesus Crucificado dirigiu
ao seu Senhor desde quando, ainda muito jovem em Blato, na ilha de Korcula,
trabalhava ativamente na paróquia, dedicando-se ao serviço do próximo nas
Associações do Bom Pastor e das Mães Católicas, e na Cozinha Popular.
A resposta ressoou no seu coração de modo
claro: "Vem e segue-me!". Conquistada pelo amor de Deus,
escolheu consagrar-se para sempre a Ele, realizando a aspiração de se dedicar
totalmente ao bem espiritual e material dos mais necessitados. Depois, fundou
a Congregação das Filhas da Misericórdia da Terceira Ordem Regular de São
Francisco, com a tarefa especifica de "difundir e propagar, mediante
as obras de misericórdia, espirituais e materiais, o conhecimento do Amor
divino".
Não faltaram dificuldades, mas a Irmã Maria continuou com coragem
indómita, oferecendo os seus sofrimentos, como outros tantos atos de culto,
e ajudando as suas irmãs com a palavra e o exemplo. Durante quarenta anos
governou com sabedoria maternal o seu Instituto, abrindo-o ao compromisso
missionário em vários países da América Latina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário