Depois que Pedro, em nome dos discípulos,
professou a fé em Jesus, reconhecendo-o como o Messias, Jesus começou a falar abertamente
daquilo que lhe acontecerá no fim.
Jesus diz: O Filho do homem — expressão com a
qual se designa a si mesmo — será entregue nas mãos dos homens. No entanto, os discípulos não
compreendiam estas palavras; e tinham medo de lhe perguntar.
Com efeito, parece
evidente que entre Jesus e os discípulos havia uma profunda distância interior;
encontram-se, por assim dizer, em duas dimensões diferentes, de modo que os
discursos do Mestre não são compreendidos, ou são-no só superficialmente. Logo
depois de ter manifestado a sua fé em Jesus, o apóstolo Pedro permite-se
repreendê-lo, porque predisse que deverá ser rejeitado e morto. Após o segundo
anúncio da paixão, os discípulos põem-se a discutir sobre qual deles é o maior;
e depois do terceiro, Tiago e João pedem a Jesus para sentar à sua direita e à
sua esquerda, quando Ele estiver na glória. Mas existem vários outros sinais
desta distância: por exemplo, os discípulos não conseguem curar um jovem
epiléptico, que em seguida Jesus cura com a força da oração; ou quando a Jesus
são apresentadas algumas crianças, os discípulos repreendem-nas mas Jesus, ao
contrário, indignado, fá-las permanecer ali e afirma que só quem é como elas
pode entrar no Reino de Deus.
O que nos
diz tudo isto? Recorda-nos que a lógica de Deus é sempre outra em relação à
nossa, como o próprio Deus revelou pela boca do profeta Isaías: Os meus
pensamentos não são os vossos, / e o vosso modo de agir não é o meu. Por
isso, seguir o Senhor exige sempre do homem uma profunda conversão — de todos
nós — uma mudança do modo de pensar e de viver, requer que abramos o coração à
escuta, para nos deixarmos iluminar e transformar interiormente.
Um ponto-chave em que Deus e o homem se
diferenciam é o orgulho: em Deus não há orgulho, porque Ele é toda a plenitude
e está totalmente propenso para amar e dar vida; em nós homens, ao contrário, o
orgulho está intimamente arraigado e exige vigilância e purificação constantes.
Nós, que somos pequeninos, aspiramos a parecer grandes, a ser os primeiros;
enquanto Deus, que é realmente grande, não tem medo de se humilhar e de se
fazer último.
Papa Bento XVI – 23 de
setembro de 2012
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