quarta-feira, 23 de novembro de 2016

São Clemente I - Papa

São Clemente é o terceiro sucessor de Pedro, depois de Lino e Anacleto, provavelmente entre os anos 88 e 97. Foi um dos primeiros a receber o batismo de São Pedro.
Após eleito restabeleceu o uso da Crisma, seguindo o rito do primeiro papa e iniciou o uso da palavra Amem nas cerimônias religiosas.

Em relação à sua vida, o testemunho mais importante é o de Santo Ireneu, Bispo de Lião, até 202. Ele afirma que Clemente "tinha visto os Apóstolos", "tinha-se encontrado com eles", e "ainda tinha nos ouvidos a sua pregação e diante dos olhos a sua tradição" (Adv. haer. 3, 3, 3). Testemunhos tardios, entre o quarto e o sexto século, atribuem a Clemente o título de mártir.

A autoridade e o prestígio deste Bispo de Roma eram tais, que lhe foram atribuídos diversos textos, mas a sua única obra certa é a Carta aos Coríntios. Eusébio de Cesareia, o grande "arquivista" das origens cristãs, apresenta-a nestes termos:
"É transmitida uma carta de Clemente reconhecida autêntica, grande e admirável. Foi escrita por ele, por parte da Igreja de Roma, à Igreja de Corinto... Sabemos que desde há muito tempo, e ainda nos nossos dias, ela é lida publicamente durante a reunião dos fiéis" (Hist. Eccl. 3, 16). A esta carta era atribuído um caráter quase canônico.

Clemente nos fala da supremacia do amor:
“Quem tem amor em Cristo, cumpra os mandamentos de Cristo. Quem poderá explicar o vínculo do amor de Deus? Quem será capaz de exprimir a grandiosidade de sua beleza? A altura para onde o amor conduz é inefável. O amor nos une a Deus, "o amor cobre a multidão dos pecados". O amor tudo sofre e tudo suporta. No amor não há nada de banal, nem de soberbo. O amor não divide, o amor não provoca revolta, o amor realiza tudo na concórdia. No amor, tornam-se perfeitos os eleitos de Deus; sem o amor nada é agradável a Deus. É no amor que o Senhor nos atraiu a si. É por causa de seu amor para conosco, que Jesus Cristo nosso Senhor, conforme a vontade de Deus, deu o seu sangue por nós, sua carne pela nossa carne, e sua vida por nossa vida.
Caríssimos, vede como o amor é coisa elevada e maravilhosa e que sua perfeição está além de qualquer comentário. Quem é capaz de se encontrar nele, senão aqueles que Deus tornou dignos? Rezemos, portanto, e supliquemos a sua misericórdia, a fim de sermos encontrados no amor, sem parcialidade, irrepreensíveis. Muitas gerações passaram, desde Adão até hoje; mas, aqueles que pela graça de Deus, se tornaram perfeitos no amor permanecem no lugar dos piedosos. Esses hão de tornar-se manifestos, quando aparecer o Reino de Cristo. Com efeito, está escrito: "Entrai um pouco em vossos quartos, até que passem a minha ira e o meu furor. Então, eu me lembrarei do dia ótimo, e vos ressuscitarei dos vossos sepulcros." Somos felizes, caríssimos, se praticamos os mandamentos de Deus na concórdia e no amor, a fim de que, pelo amor, nossos pecados sejam perdoados. Pois está escrito:"Felizes aqueles cujas iniquidades foram perdoadas e cujos pecados foram cobertos. Feliz o homem, do qual o Senhor não considera o pecado e em cuja boca não existe engano. "Essa bem-aventurança é para os que Deus escolheu por meio de Jesus Cristo nosso Senhor. A ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
A data de composição da carta deve remontar a um tempo imediatamente sucessivo à morte do imperador Domiciano e ao final da perseguição, isto é, logo depois do ano 96.

A ocasião da carta oferece ao Bispo de Roma a possibilidade para uma ampla intervenção sobre a identidade da Igreja e sobre a sua missão. Se em Corinto se verificaram abusos, observa Clemente, o motivo deve ser procurado no enfraquecimento da caridade e de outras virtudes cristãs indispensáveis. Por isso ele convoca os fiéis à humildade e ao amor fraterno, duas virtudes verdadeiramente constitutivas do ser na Igreja.
A carta de Clemente trata numerosos temas de atualidade perene. Ela é muito significativa porque representa, desde o primeiro século, a solicitude da Igreja de Roma, que preside na caridade a todas as outras Igrejas. E saliente-se que, nessa altura, vivia ainda o Apóstolo São João, o que nos permite concluir que o Primado não foi de modo algum uma ideia meramente nascida de circunstâncias favoráveis, mas uma convicção clara logo desde o início. Se assim não fosse, nunca São Clemente teria ousado meter-se onde, por hipótese, não era chamado.
João, como Apóstolo de Cristo, era sem dúvida uma figura venerável. Mas era ao Bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, que competia o governo da cristandade.

Uma tradição, que remonta ao fim do século IV, afirma que São Clemente terminou sua vida com o martírio. Seu nome ficou incluído no Cânon Romano da Missa.


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