Tendo entrado para as
Irmãs Marcelinas aos 21 anos, compreendeu que o seu ideal e a sua missão deviam
ser unicamente o ensino, a educação, a formação das meninas na escola e na
família.
A Irmã Maria Anna
foi, simples e totalmente fiel ao carisma fundamental da sua Congregação. Três
grandes lições brotam da sua vida e do seu exemplo: a necessidade da formação e
da posse de um bom caráter, firme, sensível e equilibrado o valor santificante
do empenho no dever assinalado pela obediência e a importância essencial da
obra pedagógica.
A Irmã Maria Anna
quis adquirir aptidões do mais alto grau, convencida que tanto se pode dar
quanto se possui; e apaixonou-se do seu cargo de mestra, santificando-se no
cumprimento do próprio trabalho quotidiano. Pôs em prática a mensagem de Jesus:
“Quem é fiel no pouco também é fiel no
muito” (Lc 16,
10).
Aprendam da nova Beata, sobretudo as
Religiosas, a estarem alegres e serem generosas no seu trabalho, embora oculto,
monótono e humilde.
Aprendam, todos aqueles que se dedicam à obra
educativa, a não se amedrontarem nunca com as dificuldades dos tempos, mas a
empenharem-se com amor, paciência e preparação, na sua tão importante missão,
formando as almas e elevando-as aos supremos valores transcendentes.
Particularmente hoje a Escola precisa de educadores prudentes, sérios,
preparados, sensíveis e responsáveis.
Papa João Paulo II –
Homilia de Beatificação – 26 de outubro de 1980
Em Brivio, às margens do Rio Adda, no
território de Lecco, no dia 21 de abril de 1829, nasceu Maria Ana, a quinta de
8 filhos de João Maria Sala e Joana Comi. Maria Anna foi batizada na paróquia
vizinha no dia do seu nascimento.
Seu pai, homem de grande fé e trabalhador,
comerciante de madeira, possuía no centro da cidade uma casa cômoda, e nesta
casa Maria Anna nasceu e cresceu como seus irmãos no afeto do lar, num clima de
paz e serenidade.
Na sua infância pura e simples alimentou sua
profunda piedade com assíduo estudo das verdades da fé, sempre presentes em sua
lúcida inteligência. Particularmente caro à devoção de Maria Anna quando
criança foi um pequeno santuário, oratório de São Leonardo, um pouco fora da
cidade, onde se venerava urna imagem de Nossa Senhora. Diante desta imagem
Maria Anna e uma de suas irmãs se prostraram numa ardente prece num momento de
grande dor para o seu coração de criança: a enfermidade da mãe. Enquanto as
crianças rezavam – como mostra um quadro votivo da família Sala – a enferma se
sentiu curada, com íntima certeza de haver visto junto a si a Virgem Maria
abençoando-a.
Era recente a fundação de um Instituto
feminino, o das Marcelinas, o objetivo do Instituto era educar as jovens à
luz da fé cristã, segundo programas sólidos de ensino, sem deixar de lado as
atividades domésticas.
As Marcelinas abriram, em 1841, um segundo
Colégio em Vimercate, e neste Colégio João Maria Sala quis que suas filhas, Maria
Anna, em seguida Genoveva e Lúcia, completassem seus estudos. Maria Anna
distinguiu-se como aluna exemplar e em 1846 conseguiu, com ótimos resultados, o
diploma de professora primária.
No ativo recolhimento do Colégio, encontrou
um tesouro superior àquele que os títulos de estudo lhe asseguravam: acolhera
no coração o chamado de Cristo à vida consagrada, apostólica e evangelizadora,
como suas educadoras, das quais admirara o zelo e a piedade.
Ao chamado de Cristo, Maria Anna
respondeu com o seu «sim» total, tendo, porém, que esperar dois anos antes de
realizar seu desejo. No dia 13 de fevereiro de 1848, Maria Anna voltou ao
Colégio de Vimercate como aspirante à vida religiosa. Após o noviciado,
pronunciou os votos por ocasião da aprovação canônica da Congregação: 13 de
setembro de 1852.
Começou então a vida da Irmã educadora,
heroica na monótona fadiga do dia a dia, na observância regular que a levou,
através de um exercício humilde e ininterrupto das virtudes cristãs, à única e
verdadeira realização da existência humana: a santidade. O campo de seu fecundo
apostolado foram os Colégios de Cernusco, Milão; Via Amedei, Genova e, durante
as férias de outono, Chambéry, na Savoia. Por fim Milão, na então casa geral de
Via Quadronno.
A perfeita obediência de Irmã Maria Anna Sala
não se manifestou só no acolhimento dócil dessas transferências, mas também na
total obediência às Superioras e às coirmãs; “parecia haver feito voto de obediência a todas as Irmãs”, disse uma
testemunha, e era disponível às alunas e aos que dela se aproximavam. Tinha sempre consigo o Senhor: vivia
sempre da presença de Deus, como do ar que se respira.
Irmã Maria Anna dedicava-se incansavelmente
às suas alunas para que se tornassem não só cultas, mas, como a mulher forte
elogiada na Sagrada Escritura, também fortes na fé e em todas as virtudes
cristãs. E as encorajava nas dificuldades da vida. Uma aluna declarou no
processo: Na educação das alunas tinha como único fim formar verdadeiras
cristãs que pudessem formar cristãmente as próprias famílias, difundindo o
Reino de Deus.
Sem dúvida, foram-lhe causa de grandes
sofrimentos não só as misérias humanas, diárias e inevitáveis da comunidade,
sobre as quais passou sempre com inalterável paz, mas também as
repreensões frequentes da Madre Marina Videmari, de caráter forte e impulsivo,
convencida, em boa fé, de que os santos devem ser provados.
Não lhe faltou o sofrimento físico. Uns oito
anos antes da morte, quando Irmã Maria Anna estava na casa de Via Quadronno, em
Milão, manifestou-se nela o mal que a levaria à morte: um tumor na garganta,
externamente visível. Uma echarpe preta, usada com desenvoltura, disfarçava as
aparências, enquanto o sorriso imperturbável de seu rosto, após crises agudas
de dor que a constrangiam a interromper as aulas, fazia esquecer a quem dela se
avizinhasse o quanto havia sofrido. Aliás, numa maravilhosa superação de si,
ela se habituara a chamar, jocosamente, a horrível deformação do pescoço seu colar
de pérolas.
Nunca revelou angústia pelo mal, nem mesmo
nos últimos meses de vida. Vivia o que afirmara, anos antes, com a lógica
dos apaixonados pela Cruz: Sirvamos o Senhor com coragem, minha boa
Genoveva, ainda quando nos pede algum sacrifício, se assim se podem chamar as
pequenas dificuldades que encontramos no caminho da virtude. Realmente, o que é
o que sofremos nós em confronto com o que por nosso amor sofreu nosso amado
Esposo? Aliás, não deveríamos antes alegrar-nos e agradecer-lhe, quando nos
envia alguma ocasião de provar-lhe nosso amor e nossa fidelidade?
Entregue-mo-nos ao Senhor em tudo e por tudo, e Ele nos ajudará a nos tornarmos
santos.
No outono de 1891, Irmã Maria Anna retomara
suas numerosas e absorventes atividades e o ensino nas classes das maiores.
Mas, após os primeiros dias de aula foi obrigada a interromper o trabalho,
recolhendo-se na enfermaria do colégio. A doença venceu sua resistência física
e moral. Passou quinze dias de sofrimento atroz.
Em 24 de novembro, enquanto as coirmãs
rezavam na Capela a Ladainha de Nossa Senhora, ela sentiu o esplendor da
invocação «Regina Virginum» e no leito de morte uma beleza nova resplandecia em
sua fisionomia, havendo desaparecido qualquer sinal do tumor.
O encontro casual de seus despojos intactos,
em 1920, fez com que se voltasse a falar na já esquecida Irmã Maria Anna Sala.
As ex-alunas se uniram às Marcelinas para pedirem a introdução da causa de
beatificação e muitas testemunharam no processo informativo a heroicidade das
suas virtudes.
Entre as alunas que deram
testemunho dela, houve uma, Giuditta Alghisi, depois Montini, que foi a mãe de
Paulo VI. Isto nos faz pensar no trabalho silencioso, porém grande, que as
santas mães tiveram na formação de seus filhos. Ao lado das mães, as educadoras.
A Irmã Maria Ana Sala foi beatificada aos 26
de outubro de 1980, em Roma, na Praça do Vaticano
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